O ESPECTRO DA ASSASSINA - Narrativa Clássica de Terror - Charles Lindley Wood, Lord Halifax
O
ESPECTRO DA ASSASSINA
Charles
Lindley Wood, Lord Halifax
(1839
– 1934)
Tradução
de Paulo Soriano
Até
o dia da sua morte, o meu velho amigo Reginald Easton, o artista, persistiu na
veracidade da seguinte história:
Certa
feita, Easton recebeu uma carta dos Cobbs, de Thurstaston Old Hall, Cheshire,
perguntando-lhe se poderia visitá-los em casa e
pintar miniaturas dos seus filhos. Tendo aceitado a comissão, viajou até
Cheshire para realizá-la. Lá chegando, constatou que os Cobbs eram pessoas
encantadoras e tinham belos filhos. A casa estava tão cheia de convidados que dispunha
de apenas um quarto para acomodar o
artista.
O
Sr. Easton percebeu que os seus anfitriões murmuravam misteriosamente. Deles,
captou as seguintes palavras:
—
Não temos como evitar... não há outro.
Tomou
como certo que estas palavras se referiam ao quarto que lhe era reservado e, naturalmente,
nelas intuiu algo muito inconveniente. Considerou que, possivelmente, o aposento
deveria estar repleto de umidade. No entanto, estava certo de que esse não era
bem o caso.
Logo
depois do jantar, a família retirou-se para a cama. Mal caíra no sono, o Sr. Easton foi despertado por um estranho intruso, cujo
aspecto era o de uma senhora idosa, prostrada ao junto à sua cama, sob a luz da lua. A figura parecia torcer as mãos
e os seus olhos voltavam-se para baixo, como se procurasse algo no chão.
Pensando
que a senhora era uma das convidadas, e que errara de quarto, o Sr. Easton
sentou-se na sua cama e disse-lhe:
—
Peço-lhe desculpas, mas a senhora enganou-se de quarto.
A
visitante não respondeu e, para a sua grande surpresa, desapareceu.
—
Se fantasmas existem, este é um — disse o Sr. Easton a si próprio.
Na
manhã seguinte, ao café da manhã, o mistério da conversa travada entre os seus
anfitriões foi esclarecido. Indagado, como é habitual, se havia dormido bem,
Easton contou-lhes sobre a visitante da meia-noite.
—
Sim — disse a Sra. Cobb —, nunca usamos esse quarto se pudermos evitar. Os
nossos amigos ficam, por vezes, aterrorizados com a aparição de uma mulher
terrível, que cometeu um assassinato naquele quarto. Ela não é nossa
antepassada, mas entrou na posse desta propriedade com o assassinato do legítimo
herdeiro. Era uma criança e o único obstáculo para que ela viesse a herdar a
propriedade. A mulher mandou que a babá realizasse uma tarefa fictícia e,
durante a sua ausência, estrangulou o herdeiro. Fê-lo, contudo, com tanta
habilidade que vestígio algum de seu crime remanesceu. O assassinato jamais
seria conhecido se ela não o tivesse confessado em seu leito de morte. A
propriedade foi, então, posta à venda e o avô do Sr. Cobb a adquiriu.
—
Você acha que ela vai aparecer de novo? — perguntou o artista.
—
Certamente que sim e pela mesma hora — foi a resposta.
A
pedido do Sr. Easton, deram-lhe um candeeiro, cujo lume foi mantido o mais
baixo possível. Assim, na segunda noite, ele deitou-se na cama os com materiais de desenho
ao seu lado, determinado a permanecer acordado. No momento esperado, o fantasma
apareceu e conduziu-se exatamente como na noite anterior. Se capaz de
surpreender-se, o espectro deve ter recebido
um choque quando Easton se sentou na cama e lhe disse:
—
Peço-lhe desculpas, senhora. Sou uma artista. Permite-me que eu faça um esboço seu?
Convencerei, então, os céticos da verdade de...
Mas,
nesse momento, a velha senhora, como antes, desapareceu.
O
Sr. Easton, contudo, perseverou na feitura do desenho. A visão noturna da assassina, retida em seu espírito,
avivou-lhe a redentora memória e lhe permitiu a execução de um retrato fiel do
que ele solenemente me declarou ter
visto em cada uma das sete noites em que ocupou o quarto assombrado.
O
Sr. Easton emprestou o seu desenho do fantasma a Lord Halifax, que o copiou. A cópia
está no “Livro dos Fantasmas”.
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