ARAME FARPADO - Conto de Terror - Hell
ARAME
FARPADO
Hell
Ela
caminhava lentamente para seus passos não serem ouvidos, arrastava a trouxa com
cuidado atrás de si. A coisa envolvida em trapos ainda tinha leves espasmos e
fazia um barulho como um de um sapo coaxando.
Ninguém
poderia descobrir seu segredo, ninguém poderia saber que aquela trouxa tão
imunda e desforme já fora um ser humano. Isso seria uma tragédia, uma desgraça
para sua vida amaldiçoada.
Ela
não fazia por mal, nunca quis ferir ninguém; a primeira vez fora sem querer,
estava brincando com um amigo, quando esse se desequilibrou e caiu da ponte;
ela tentou segurá-lo, mas ele escorregou; ela ficou vendo os carros passarem
por cima do corpo, depois a ambulância chegou e ela sumiu... Ninguém nunca
soube.
Então
se tornou um vício; era como se tudo o que ela tocasse morresse. Mas o pior não
era isso; o pior é que ela gostava de ver as coisas morrerem: era tão bom! Melhor
ainda quando as vítimas reagiam...Ver o medo em seus olhos, a raiva, sentir os
golpes que elas davam enquanto morriam, ouvir os gritos e os gemidos, então o
silêncio...Ah! Aquele delicioso silencio mórbido.
Ela
não conseguiria viver sem nada disso...Por isso nem tentara fugir de seu
"dom". Encontrara um pequeno campo ao lado de uma indústria de
produtos de limpeza. Era perfeito. O cheiro forte encobriria o fedor putrefato
dos cadáveres e os tóxicos logo se encarregariam de consumir o que restasse das
vítimas.
Pegando
uma pá detrás de um arbusto, ela cavou outra cova, suas mãos já estavam cheias
de calos por esta tarefa repetitiva, já estava bem funda em pouco tempo.
Abrindo o saco, ela jogou seu conteúdo dentro da cova, só se sabia qual era a
cabeça por causa do monte de cabelos cor de avelã, já que o resto era algo
retorcido e vermelho.
Ela
fez uma careta quando percebeu que um dos olhos grudara em seu sapato, limpou
com a pá. Tirou da bolsa o martelo, a arma do crime, que sempre enterrava junto
com a vítima; jogou-a no buraco, tampando-o com terra logo em seguida. Acabara,
era só isso.
Voltou
para casa. Seus pais ainda estavam dormindo. Pegou uma faca no armário,
esquentou-a no fogão, levantou a manga do moleton, revelando o braço
cheio de cicatrizes. Marcou com a faca incandescente mais uma cruz no braço:
era seu modo de dizer adeus a mais aquela pessoa que alimentara seu vício.
Pegou os documentos da vítima, guardando-os numa caixa de "Sonho de
Valsa" que tinha no armário atrás das calças jeans. Olhou o relógio:
2:35h da manhã; fora rápida, ainda dava tempo para mais um...
Ela
entrou devagar e sem fazer barulho, já estava especialista em quebrar janelas
sem ruído. Se dirigiu ao quarto onde o casal dormia, tirou algo da bolsa e
segurou firmemente em ambas as mãos. Uma luz se acendeu atrás dela. Ela mal
teve tempo de olhar, seu rosto foi envolvido por algo que ela reconheceu como
arame farpado que lhe cortava e entrava em sua boca.
A
dor a envolveu, era interminável; o
jovem tinha força e a mantinha no chão enquanto puxava e puxava aquele fio
cheio de pontas. Via a surpresa e a dor no rosto juvenil dela, devia ter uns
dois anos a menos que ele próprio.
Não
demorou muito para que ele dividisse aquele rosto bonito em dois, o sangue
tinha formado uma poça no chão. Ele levou o corpo até um baú em seu quarto, em
breve a enterraria ou jogaria em um lago, o que aparecesse primeiro; escondeu a
bolsa dela na antiga caixa de seu Playstation, atrás das roupas de
futebol.
Limpou
o sangue com o pano de chão, o lavou e o estendeu no varal. Começara há algum
tempo, não tinha a menor intenção de matar, mas o ladrão invadira a casa e
apontara uma arma para sua irmã, que dormia; ele bateu com um vaso de ferro na
cabeça do idiota, batera forte demais e o homem caíra; ele teve que
despedaçá-lo para que coubesse no baú. Aa partir de então, se tornara um vício,
algo de que ele precisava, algo louco e insano que o dominava.
Ele
trancou o baú esperando o amanhecer, voltou a dormir...
Era
assim, um dia da caça outro do caçador.
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