O VAMPIRO - Conto Clássico de Horror - Rubén Valenti
O
VAMPIRO
Rubén
Valenti
(Início
do séc. XX)
Tradução
de Paulo Soriano
Era
uma noite como outra qualquer. No céu, vagavam nuvens silenciosas, havia um
pouco de lua e reluziam inúmeras estrelas.
Um
andarilho taciturno vagava ao léu pelas ruas da grande cidade, inundadas pela
turba que voltava para casa ou se preparava para uma noitada de prazer.
Ao
passar o caminhante por uma igreja, viu, encostada ao muro e próxima à porta,
uma mulher de cujo corpo emagrecido pendiam andrajos sujos à guisa de
vestimenta. Trazia nos braços uma criancinha de peito, débil, pálida e enfermiça,
que sugava, exausto e lasso, famelicamente a auréola do seio materno, tentando
desesperadamente extrair algumas gotas de leite.
A
mendiga, extenuada pela fome, estendia a mão com desesperança aos que passavam
por ela, pedindo, pelo amor de Deus, com a voz baixa e consumida, uma esmola.
Vãmente, inutilmente, pois ninguém a ajudava, apesar da expressão de agonia que
ia, paulatinamente, desanimando a sua face emaciada.
Os
fiéis no templo celebravam, com grande suntuosidade, uma função religiosa, na
qual tomava parte um grupo de crianças que entoava cânticos em louvor do
Criador.
As
vozes cristalinas, puras e inocentes das crianças subira, ao céu, louvando a
Deus numa prece santa e, quando elas terminaram o seu cântico, exclamando,
felizes, “Glória a Deus Nosso Senhor!”, a mendiga, agonizante, oscilou e caiu
de bruços no chão.
Em
razão da queda da moribunda, a criancinha, que a mulher amamentava, lhe mordeu
e rasgou o seio que avidamente espremia, desprendendo quase completamente o
bico do peito com a mordida, do qual brotou um sangue pálido e anêmico em
relativa abundância.
A
criancinha, convertida em vampiro, grudou a sua boca à ferida. E, para saciar a
fome que lhe rebentava as entranhas, sorveu ansiosamente o sangue de sua
agônica mãe, abreviando-lhe a vida, que, em poucos minutos, se extinguiu.
Pela
última vez, para concluir a solenidade piedosa, ressoou a voz do coro infantil,
que clamava, alegremente:
“Glória
a Deus Nosso Senhor!”
Era
uma noite como outra qualquer e o viandante prosseguiu o seu caminho.
Imagem: Lucílio de
Albuquerque (1877 – 1939).
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