O DEMÔNIO NO MOSTEIRO - Narrativa Clássica de Terror - Matthäus Tympius
O DEMÔNIO NO
MOSTEIRO
(1566 – 1616)
Num
certo mosteiro feminino havia uma jovem monja,
tão notável pela santidade de sua vida quanto pelo zelo que tinha com sua
virgindade.
Porque
era lindíssima, um demônio enamorou-se dela. Assim, sob o disfarce de um jovem homem, passou a
visitar a cela da amável virgem todas as noites e provou ser um mestre na arte
do galanteio: cobriu-a de elogios, louvando-a pela piedosa constância que tivera em permanecer virgem até então; pela
santidade angelical de sua vida; por suas virtudes e por sua beleza sobre-humana. A
jovem monja recebia todos esses encômios com secreto prazer. Assim, acostumou-se a ver o amante sem dizer nada às
irmãs. E tão eficazes foram os elogios que, por fim, as ações sucederam às
palavras: ela cedeu às propostas de seu amante infernal.
Algum
tempo depois, o amante, tendo dela obtido tudo o que desejava, evadiu-se — como
todos fazem — e não mais apareceu. A jovem monja, atingida por um golpe
cruel, limitou-se, a princípio, lastimar-se pela perda de seus prazeres.
Depois, refletindo sobre o crime que cometera, lamentou a virgindade perdida.
No entanto, ela ainda sentia, com frequência, violentas tentações carnais, que
a privavam de descanso. Por isso recorreu à oração e optou pela mais
severa penitência.
Infelizmente,
ela havia engravidado. Seu talhe começou a arredondar. Sentiu que
carregava em seu ventre uma testemunha inocente de seu crime. Assim,
mergulhou em fervorosas orações, durante as quais golpeava o peito com tanto arrependimento que o Céu apiedou-se
de sua dor: o fruto que brotava em seu ventre desapareceu; seu vente encolheu
gradualmente; e ela não passou pelo
sofrimento de perder sua reputação e de gestar até o fim aquele fruto criminoso.
Ela
havia prometido levar vida austera, se obtivesse aquela graça celestial. Começou, então, a jejuar
a pão e água. E, a partir de então, recitava, três vezes ao dia, os cento
e cinquenta Salmos de Davi: a primeira vez, de vente para baixo; a segunda, de
joelhos e a terceira vez de pé. Finalmente, ela tornou-se uma
nova Madalena.
Versão em português:
Paulo Soriano.
Fonte: Collin de
Plancy, Le Diable Peint par Lui-Même.
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