SUPERSTIÇÃO - Conto de Terror - Belén Fernández Crespo



SUPERSTIÇÃO

Belén Fernández Crespo

Tradução de Paulo Soriano

 

O bosque, aterrorizado, havia emudecido.

No denso silêncio, ressoava o badalar do sino como um uivo brutal. Apavorado, com o coração latejando forte nos ouvidos, José Piñero lutava por respirar.

Já sentia o calor das velas acariciando suas costas.

Alçou-se ao limite de suas forças. Somente alguns metros o separavam de sua salvação no próximo cruzamento, ao final da senda. Via-se, como em sonhos, a abraçar o cruzeiro, agarrando-se a ele com férrea força, acordando em seu quarto com a certeza de que tudo havia siso um ridículo pesadelo.

Saíra sozinho, passada a meia-noite, desprezando conselhos e advertências; rira-se da “superstição” estúpida. Ignorou todas as instruções para se proteger.

A garra brutal rasgou sua camisa e o paralisou com seus dedos gelados. Derrotado, José caiu de bruços no chão. Fechou os olhos, tentando salvar-se, mas uma força sobrenatural o virou e o forçou a abri-los e contemplar o espectro de órbitas vazias que lhe entregou a Cruz. Queria gritar por ajuda, mas os alaridos ficaram engasgados em sua garganta.

Era impossível escapar ao castigo: vagaria até a morte encabeçando a procissão e conduzindo-a pelos caminhos...

Havia sido capturado pela Santa Companha[1].



[1] A Santa Companha é uma lendária tradição galego-asturo-portuguesa descrita como uma procissão de defuntos ou almas penadas, conduzida por um vivo, que carrega uma cruz e definha paulatinamente, a cumprir penitência.

 

Comentários

  1. Belén Fernández Crespo26 de dezembro de 2020 às 17:57

    Muito obrigada pela traduçao e a publicaçao!

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    1. De nada, Belén. Foi um prazer traduzir e publicar o seu conto. Abraços. Paulo.

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