UM VAMPIRO DA CHINA - Narrativa Clássica de Terror - Montague Summers
UM
VAMPIRO DA CHINA
Montague
Summers
(1880
– 1948)
Tradução
de Paulo Soriano
O
vampiro chinês, Ch'ing Shih, é considerado um demônio que, ao tomar
posse de um corpo morto, preserva-o da corrupção devido ao seu poder predatório,
com o qual se aproveita de outros cadáveres ou de pessoas vivas.
Os
chineses acreditam que um homem tem duas almas: a Hun, ou alma superior,
que compartilha da qualidade dos bons espíritos; e a P'o, ou alma
inferior, que geralmente é maligna e pode ser classificada entre os Kuei,
ou seja, espíritos malignos. Acredita-se que, enquanto qualquer parte do corpo,
mesmo que seja apenas um pequeno osso, permanece íntegra, a alma inferior pode
utilizá-la para se tornar um vampiro. Se, particularmente, o Sol ou a Lua brilham
intensamente sobre um corpo insepulto, o P'o, então, adquire energia
hábil a produzir e obter sangue humano, com o que amplia a sua vitalidade
vampírica.
Quanto
à aparência, o monstro chinês é muito semelhante ao vampiro europeu, pois tem
olhos vermelhos, enormes garras afiadas ou unhas contorcidas.
Um
preceptor chamado Liu, que morava com uma família a alguma distância de sua
terra natal, obteve uma licença para realizar suas devoções no túmulo de seus
ancestrais.
Na
manhã em que o professor deveria retomar as suas atividades, a sua esposa entrou,
bem cedo, no quarto onde ele dormia, para chamá-lo, a fim de que o mestre pudesse
partir em tempo hábil em sua viagem. Mas, para seu horror, quando ela se
aproximou da cama, viu, estendido sobre o leito, um corpo sem cabeça, embora
não houvesse nenhuma mancha de sangue sobre os lençóis.
Tomada
de medo, a mulher imediatamente deu o alarme, mas as circunstâncias eram tão
surpreendentes que o magistrado ordenou a sua prisão, suspeita de ter
assassinado o marido. Apesar de protestar por sua inocência, a esposa foi
detida sob custódia até que investigações mais profundas fossem realizadas. No
entanto, nada veio prontamente à tona para lançar uma luz sobre o mistério.
Todavia,
três dias depois, um vizinho, que recolhia lenha na encosta de uma colina, vislumbrou
um grande ataúde, com a tampa parcialmente erguida, que parecia ter sido
curiosamente colocado nas proximidades de um antigo sepulcro abandonado. Aquela
descoberta suscitou-lhe as maiores apreensões. Então, ele convocou várias
pessoas da vila antes de atrever-se a investigar a causa daquela inusitada
circunstância.
Advertidos,
os vizinhos se aproximaram do caixão e rapidamente removeram a tampa. Dentro
dele, repousava um cadáver que conservava a fisionomia de um homem vivo. Sua
face era indescritivelmente brutal e hedionda; seus repulsivos olhos vermelhos brilhavam
ferozmente; longos dentes brancos chamuscavam os lábios enrubescidos, cobertos
por uma espuma de sangue e saliva. Em suas mãos magras e ossudas, guarnecidas
de unhas compridas como as garras de um abutre, o cadáver segurava a cabeça que
faltava ao infeliz mestre Liu.
Imediatamente,
alguns vizinhos procuraram as autoridades, que, tendo ouvido o relato, correram
à colina sob escolta armada, chegando ao local bem antes do pôr do Sol. Era
impossível remover a cabeça das mãos do cadáver sem lhe cortar os braços. O
sangue escarlate jorrou caudalosamente, inundando o caixão, quando os braços
foram decepados.
Encontraram
a cabeça de Liu ressecada, sugada e exangue. Prontamente, as autoridades ordenaram que ataúde
e seu conteúdo fossem imediatamente reduzidos a cinzas em uma poderosa pira,
enquanto a viúva do preceptor era imediatamente libertada da prisão.
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