A CASA DE CAMDEN HILL - Conto Clássico Sobrenatural - Catherine Crowe
A
CASA DE CAMDEN HILL
Catherine Crowe
(1803 – 1876)
A
casa em que morava o casal B..., em Camden Hill, nada tinha de especial, salvo
o grande número de quartos, todos confortáveis.
O
senhor e a senhora B... a haviam alugado, por um preço razoável, de um homem de
negócios de Temple com a intenção de convertê-la numa pensão, onde poderiam
alojar modestos funcionários ou empregados da vizinhança.
No
começo, graças à módica hospedagem, o negócio prosperou, mas, num belo dia, um jovem
empregado, de nome Rose, foi embora repentinamente, alegando que o seu quarto
era mal-assombrado.
Os
esposos B... jamais haviam ocupado aquele quarto, um cômodo espaçoso que dava
para o jardim. Deste modo, antes de voltar a alugá-lo, decidiram comprovar por
si mesmos o que acontecia nele.
Desde
a primeira noite, tiveram de reconhecer que Rose não havia mentido.
Entre
uma e duas horas da madrugada, a senhora B... foi acordada por um estranho
ruído, “como o de um enorme gato arranhando as unhas no assoalho”.
Quase
ao mesmo tempo, seu marido também acordou e os dois escutaram, em silêncio,
como o estranho ruído aumentava e diminuía em intensidade, como se o seu
misterioso autor se aproximasse e distanciasse, num vai-e-vem, da cama.
Finalmente,
o senhor B... não se conteve e gritou:
—
Quem és e o que fazes aqui?
O
ruído cessou, mas, um segundo depois, as colchas e os lençóis foram arrastados
violentamente.
A
senhora B... acendeu uma vela que tinha perto de si. No quarto não havia nada
estranho, mas não houve como encontrar os lençóis e as colchas.
Eles
se levantaram, fecharam o quarto à chave e foram passar o resto da noite em seu
dormitório.
Na
manhã seguinte, voltaram ao quarto de Rose e encontraram os lençóis e as
colchas enrodilhados sobre a cama. As colchas, de lã grossa, estavam intactas,
mas os lençóis estavam completamente convertidos em tiras.
A
senhora B... se negou a repetir a experiência, mas o seu marido obstinou-se em
realizá-la. Na noite seguinte, ele voltou a instalar-se no quarto mal-assombrado.
Desta
vez, manteve uma lamparina acesa sobre a cabeceira da cama.
Demorou
muito a dormir, mas quando já estava a cair no sono, despertou sobressaltado
com o mesmo ruído da noite anterior.
O
senhor B... ergueu o corpo e viu, à luz da lamparina, um velhinho de aspecto
miserável, pobremente vestido, de pé, no centro do quarto. Trajava um curioso
casquete de pele de gato e mirava o homem com manifesta desconfiança.
Apesar
de estar bastante assustado, o senhor B... perguntou ao misterioso intruso quais
seriam as suas intenções. À guisa de resposta, o velho começou a bufar
ruidosamente como um gato encolerizado e tentou agarrar os lençóis.
Então
o senhor B... se deu conta de que aquelas mãos descarnadas eram
extraordinariamente longas e que terminavam em desmesuradas unhas.
Por
acaso, o senhor B... havia posto a seu alcance uma vara de junco. Tomou-a e com
ela tentou acertar o visitante noturno.
Não
encontrou resistência alguma e a vara perpassou o ancião como se este fosse
fumaça.
Então
o fantasma retrocedeu, lançando gestos de ameaça. E, fundindo-se à parede,
desapareceu. A noite terminou tranquilamente.
O
casal B... tirou os móveis do quarto, que foi definitivamente fechado. O
fantasma não perturbou a paz dos outros quartos.
Mas,
aproximadamente dois anos depois, o casal relatou um estranho fato acontecido a
um marinheiro de Kingston, que viera visitá-los.
O
marinheiro era um homem robusto e de um sólido senso comum. Por cortesia, não
quis pôr em dúvida as afirmações de seus primos, mas decidiu passar a noite no
quarto mal-assombrado.
Para
tal fim, mobiliaram o recinto com uma pequena cama de campanha, uma mesinha de
cabeceira e uma cadeira, e colocaram uma lamparina acesa no consolo da lareira.
Porque
não dava o mínimo crédito a histórias de fantasmas, o marinheiro muito pouco
demorou a adormecer.
Havia
fechado o quarto à chave e reforçado a porta com um sólido ferrolho.
Entre
uma e duas horas da madrugada, foi despertado por uma forte sacudidela em sua
cama e viu o velhinho do barrete de pele de gato a observá-lo com grande fúria.
Quando
o marinheiro se dispunha a levantar-se, o fantasma retrocedeu, bufando como um
gato furioso e desapareceu. Em seguida, ouviram-se muitas batidas de grande
violência contra e dentro das paredes, e um enorme pedaço de gesso se
desprendeu do teto. Mas o espectro não voltou a aparecer.
Pouco
depois, o casal B... foi embora de Londres para se estabelecer em Kingston e
não mais se soube de da casa de Camden Hill.
Versão em português de
Paulo Soriano.
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