O ÍNCUBO NO MOSTEIRO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Ludovico Sinistrari
O ÍNCUBO NO
MOSTEIRO
Ludovico Sinistrari
(1622 – 1701)
A
prova de intimidade com um íncubo oferece dificuldade, pois, não menos do que
outros demônios, o íncubo é, a seu nuto, invisível para todos, exceto para sua
amante. No entanto, não é raro que os íncubos se deixem surpreender no ato da
relação carnal com as mulheres, ora de uma forma, ora de outra.
Num
mosteiro (não menciono nem o nome nem o da cidade onde está situado, para não
lembrar um escândalo passado), havia uma monja que, por ninharia — como é
habitual com as mulheres e, principalmente, com as monjas —, havia discutido com
uma de suas companheiras, que ocupava uma cela adjacente à sua.
Rápida
em observar todas as ações de sua adversária, esta vizinha percebeu, em vários
dias consecutivos, que, em vez de caminhar com suas companheiras no jardim,
após o jantar, a monja se retirava para a cela, onde se trancava.
Ansiosa
para saber o que ela poderia estar fazendo ali todo aquele tempo, a curiosa monja
dirigiu-se também para a sua cela. Logo ouviu um som — como o de duas vozes
conversando em suaves inflexões —, facilmente perceptível, já que entre as duas
celas havia apenas uma leve divisória.
Então,
ouviu uma fricção peculiar, um estalar de uma cama, gemidos e suspiros, quasi
duorum concumbentium. Sua curiosidade foi elevada ao nível mais alto, e ela
redobrou a atenção para saber quem estava na outra cela. Mas, não tendo visto, por
três vezes consecutivas, nenhuma outra monja sair da cela além de sua rival, passou
a suspeitar que um homem havia sido introduzido e ali era mantido secretamente.
Relatou,
então, o sucedido à abadessa, que, após aconselhar-se com pessoas discretas, e para
evitar qualquer atitude precipitada ou imprudente, resolveu ouvir os ruídos e
observar os indícios que lhe haviam sido denunciados.
Por
conseguinte, a abadessa e suas confidentes dirigiram-se à cela da espiã e
ouviram as vozes e os outros ruídos descritos. Instaurou, ademais, uma
investigação para verificar se alguma das monjas não estaria trancada com a
outra. Mas, sendo o resultado negativo, a abadessa e suas acompanhantes
dirigiram-se à porta da cela e bateram repetidamente, mas em vão: a monja não
atendeu, nem abriu. A abadessa ameaçou arrombar a porta e até mandou um
convertido forçá-la com um pé-de-cabra. A monja, então, abriu a porta. Uma
busca foi feita, mas ninguém foi encontrado. Ao ser questionada com quem ela
estivera conversando, e a razão dos estalos vindos da cama e dos suspiros etc.,
ela negou tudo.
Mas,
como as coisas continuavam como antes, a monja rival tornou-se ainda mais
atenta, e mais curiosa do que nunca. Planejou, pois, fazer um furo na divisória
para ver o que se passava dentro da cela. Eis o que encontrou: um jovem
elegante, deitado com a monja, e a visão de quem ela cuidava para que as outras
o desfrutassem pelos mesmos meios.
A
acusação foi prontamente apresentada ao bispo. A monja culpada ainda se
esforçou em negar tudo; mas, ameaçada de tortura, confessou ter tido intimidades
com um íncubo.
Quando,
portanto há indícios, como os citados acima, uma acusação pode ser apresentada
após uma investigação exauriente. No entanto, sem a confissão da acusada, a
ofensa não deve ser considerada como totalmente provada, mesmo que a relação
sexual tenha sido atestada por testemunhas oculares; pois, às vezes, acontece
que, para inculpar uma mulher inocente, o diabo simula tal relação por meio de ludíbrio.
Nesses casos, o juiz eclesiástico deve, consequentemente, confiar apenas em
seus próprios olhos.
Versão em português de
Paulo Soriano, a partir da tradução inglesa, de autor não creditado (1879), da
tradução francesa de Isidore Liseux (1975).
Adorei.
ResponderExcluirMuito booom!!!!
ResponderExcluirMas que história é essa de que é comum ninharias entre as mulheres? (Risos).