A CAMPONESA POSSUÍDA - Narrativa Clássica Sobrenatural - Catherine Crowe
A CAMPONESA
POSSUÍDA
Catherine Crowe
(1803 – 1876)
Tradução de Paulo Soriano
No
ano de 1830, o Dr. Bardili teve um caso que reputou, decididamente, de
possessão. A paciente era uma camponesa de 34 anos, que nunca havia tido
qualquer enfermidade, e cujas funções corporais continuavam perfeitamente
regulares enquanto os estranhos fenômenos, dos quais falarei, se manifestavam.
Devo
observar que esta senhora era feliz em seu casamento, tinha três filhos, não
era fanática e gozava da excelente reputação de mulher constante e diligente, quando, sem qualquer
aviso ou causa perceptível, ela foi tomada pelas mais extraordinárias
convulsões, enquanto de seu interior saía uma estranha voz, que se acreditava
ser de um espírito maligno, que anteriormente revestira-se de uma forma humana.
Quando
esses ataques ocorriam, ela perdia totalmente sua identidade e se tornava uma
outra pessoa. Mas, quando voltava a si, recobrava completamente a seu
entendimento e personalidade. As blasfêmias e maldições, assim como os latidos
e guinchos que proferia, eram terríveis. Ela estava gravemente ferida em razão
das violentas quedas e fortes pancadas que aplicava em si mesma. E quando desfrutava
de alguns instantes de alívio, não podia fazer nada além de chorar pelo que lhe
diziam haver acontecido e pelo estado em que se encontrava. Além disso, ela foi reduzida a um esqueleto, pois,
quando tentava comer, a colher girava em sua mão e, por isto, passava sem se
alimentar vários dias seguidos.
Essa
aflição durou três ano. Todos os remédios eram inócuos, e o único alívio que sentia
proporcionava-o as orações contínuas e fervorosas daqueles que a cercavam.
Embora
aquele demônio detestasse as orações, e se opusesse violentamente a que ela se
ajoelhasse, forçando-a a ter acessos de riso ultrajantes, ainda assim as
orações exerciam o poder sobre ele. É surpreendente que a gravidez, o resguardo
e a amamentação de seu filho não exerceram a mínima diferença na condição dessa
mulher: tudo aconteceu regularmente, mas o demônio não abandonava o seu posto.
Por
fim, magnetizada, a paciente caiu em um estado parcialmente sonâmbulo, em que
se ouvia, vindo dela, uma voz diferente, que na verdade era a de seu espírito
protetor. Essa voz a encorajou ter paciência e esperança, prometendo-lhe que o hóspede
malévolo seria obrigado a abandonar o seu abrigo. Ela frequentemente caía em um
estado magnético sem a ajuda de um magnetizador. Ao final de três anos, ela
estava totalmente curada e melhor do que nunca.
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