O CHEVAL MALLET - Conto Clássico de Terror - Casimir Puichaud
O CHEVAL MALLET
Casimir Puichaud
(1853 – 19...)
Tradução de Paulo Soriano
O
Cheval Mallet é um magnífico corcel, de pelos negros e brilhantes, que
atravessa, nas noites sombrias, guarnecido de esplêndido arreio, os caminhos desertos
de Poitevin. Se encontra um viajante solitário, curva-se afavelmente para ele,
e relincha docilmente, como se para fazê-lo compreender que lhe oferece
complacentemente o trono de seu poderoso dorso para conduzi-lo até a porta de
sua morada. O viajante, cansado, aceita a ajuda que lhe é oferecida.
O
viajante sobe à sela, satisfeito com o cômodo regresso que fará, tendo em sua
mente maravilhada a visão de sua família reunida, esperando por ele. Ele antecipa
o cenário, vê os pratos belos e fumegantes, cuja convidativa fragrância é
deliciosa. O vinho espuma em copos transparentes e o lume brilha alegremente na
lareira em chamas, enquanto o viajante abraça a família, feliz com o
reencontro.
Sim,
o viajante sobe à sela. Imediatamente, como um violento tornado, o cavalo dispara,
devorando o espaço. Suas leves patas não mais tocam o chão, suas narinas
vomitam fumaça, seus olhos iluminam o horizonte.
O
corcel ganha o mundo, sem se importar com os caminhos abertos, cruzando os
matagais, atravessando os atoleiros. Sua velocidade é tão grande que o vento, à
sua passagem, verga, até o solo, árvores gigantes, cuja solene imobilidade sequer
as tempestades não logram perturbar. À sua chegada, as florestas se inclinam.
Diante
de seus olhos deslumbrados, o cavaleiro vê as cidades e as vilas passarem tão rapidamente
quanto em um sonho. Em alguns instante, o homem percorre o Universo. A sua
viagem dura a noite inteira, sempre imensamente rápida, porque a sua incansável
montaria renova as suas forças durante o percurso, regando-se do vento,
alimentando-se da vastidão.
Ao
longe, já amanhece. Os homens, descansados, vestem-se em silêncio. Irão em
busca do viajante que não voltou de sua viagem. Na curva do caminho, eles param...
sem palavras, angustiados. Diante deles jaz um cadáver. É o do viajante
noturno. O Cheval Mallet, antes de desaparecer na noite, o jogou ali,
com os quartos quebrados, o pescoço torcido.
No
bolso, tenha sempre dinheiro para garantir a viajem de volta, e nunca viaje à
noite em um cavalo desconhecido.
Fonte: “La Tradition en Poitou et Charentes. Art populaire, ethnographie, folklore,
hagiographie, histoire”.
Comentários
Postar um comentário