O ALIMENTO ENVENENADO - Conto Clássico Fantástico - Georgiana Kingscote e Pandit Natesa Sastri
O ALIMENTO
ENVENENADO
(Lenda indiana)
Georgiana Kingscote
(1862 - 1908)
Pandit Natesa Sastri
(1859 – 1906)
Tradução de Paulo Soriano
Havia
uma cidade chamada Vijayanagara, ao norte da qual corria um pequeno rio com arvoredos
em ambas as margens. Um dia, um jovem peregrino brâmane chegou e sentou-se para
descansar à beira do riacho. Achando o lugar muito fresco e sombreado, resolveu
tomar banho, realizar suas abluções religiosas e preparar sua refeição com o
arroz que trazia amarrado num pacote.
Três
dias antes, chegara ao mesmo local um velho brâmane de setenta anos. O ancião
havia brigado com a família e fugira de sua casa para morrer. Desde que chegara
àquele lugar, nada havia comido. O jovem peregrino, encontrando-o deitado, num
estado lamentável, pôs a seu lado uma porção de arroz. O velho, antes de provar
da comida, levantou-se e foi até o riacho para lavar os pés e as mãos e
pronunciar um ou dois encantamentos sagrados.
Entrementes,
um gavião, carregando no bico uma enorme serpente, pousou na árvore junto à
qual estava o arroz que o peregrino dera ao velho. Enquanto o pássaro se banqueteava com a
serpente, uma porção de seu veneno caiu sobre arroz, e o velho brâmane, ao
retornar, sem se dar conta do ocorrido, devorou avidamente um bocado do arroz.
Caiu morto instantaneamente.
O
jovem peregrino, ao vê-lo prostrado no chão, correu para socorrê-lo, mas
descobriu que a vida do velho homem se esvaíra. Concluindo que a pressa ao
ingerir o alimento, após três dias de jejum, teria sido a causa da morte do
ancião, e não querendo deixar o cadáver para ser devorado por gaviões e
chacais, o jovem decidiu cremá-lo antes de retomar a sua jornada. Com esse objetivo,
ele correu à aldeia vizinha e, relatando às pessoas o que havia ocorrido no arvoredo,
pediu ajuda para cremar o corpo do ancião.
Os
aldeões, entretanto, suspeitaram que o jovem peregrino havia matado e roubado o
velho brâmane. Prenderam-no e, depois de açoitá-lo severamente, aprisionaram-no
templo de
Kâlî da aldeia. Ó Deus! Que recompensa foi aquela pela gentil hospitalidade do
peregrino? De que maneira foi ele recompensado por sua beneficência!
O
infeliz peregrino deu vazão às suas tristezas na forma de versos em louvor à
deusa em cujo templo estava aprisionado. Pois ele era um grande Paṇḍit,
versado nas quatro Vedas, nas seis Śâstras e nas sessenta e
quatro modalidades de conhecimento.
Ao
ouvir os versos do peregrino, a ira da deusa desceu sobre os moradores da
aldeia, que, acusando-o precipitadamente, o tinham punido por um crime do qual
era inocente. De repente, um incêndio destruiu toda a aldeia, e as pessoas,
agora desalojadas, perderam todas os seus pertences. Em seu desespero, foram ao
templo de Kâlî e, humildemente, pediram à deusa que lhes dissesse a causa da
calamidade que tão inesperadamente se abatera sobre eles.
A
deusa incorporou num dos aldeões e assim respondeu:
—
Saibam, rudes aldeões, que vocês prenderam e açoitaram, injustamente, em minha
presença, um inocente, caridoso e piedoso brâmane. O velho morreu devido aos
efeitos do veneno, que caiu da boca de uma serpente numa porção de arroz, posta
junto a uma árvore, quando um gavião a devorava. Disto, vocês não sabiam. No
entanto, maltrataram um bom homem sem antes fazer a devida investigação quanto
à sua culpa ou inocência. Por esta razão, puni a aldeia, lançando sobre ela
esta calamidade. Tomem cuidado e, doravante, evitem semelhante pecados.
Dizendo
isso, Kâlî afastou-se da pessoa por meio da qual ela se manifestou. Então os
aldeões perceberam o grave erro em que incorreram. Libertaram o bom peregrino e
imploraram seu perdão, que ele prontamente concedeu. E foi assim que um homem
inocente terminou acusado de assassinato por conta de suas ações benevolentes.
Fonte: Tales of the Sun, 1890.
Pobre homem, não lhe bastava ser isso? Precisava mais sofrimento?
ResponderExcluirQ saudade da minha ex
ResponderExcluirUm bom conto mas acho que devia ter mais suspence
ResponderExcluirmano oq eu to fazendo da minha vida
ResponderExcluirMuito boa essa história.
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