O SENHOR FOX - Conto Clássico de Terror - Joseph Jacobs
O SENHOR FOX
(Lenda inglesa)
Joseph Jacobs
(1854 – 1916)
Tradução de Paulo Soriano
Lady
Mary era jovem e bela. Tinha ela dois irmãos e mais pretendentes do que podia
contar. Mas, de todos eles, o mais corajoso e galante era o Sr. Fox, que ela
conhecera na casa de campo de seu pai. Ninguém sabia quem era o Sr. Fox. Mas
ele era certamente corajoso rico e, de todos os seus pretendentes, Lady Mary só
tinha olhos para ele. Por fim, eles
combinaram se casar. Lady Mary perguntou ao Sr. Fox onde iriam morar, e ele
descreveu-lhe o seu castelo e disse-lhe onde ficava. Mas, estranhamente, não
convidou a noiva e os cunhados para conhecê-lo.
Então,
certo dia, próximo da data do casamento, quando seus irmãos estavam fora, e o
Sr. Fox se ausentara, conforme dissera, por um ou dois dias a negócios, Lady
Mary partiu para o castelo do Sr. Fox. E depois de muitas buscas, finalmente
chegou até ele. Era um belo solar fortificado, com paredes altas e um fosso
profundo. E quando ela chegou ao portão, viu que nele estava escrito:
SEJA
OUSADO, SEJA OUSADO.
Mas
como o portão estava aberto, ela entrou, mas não encontrou ninguém no interior.
Então correu à porta, e lá ele se deparou com a seguinte inscrição:
SEJA
OUSADO, SEJA OUSADO, MAS NÃO DEMAIS.
Mesmo
assim, ela continuou, até que ela entrou no corredor e subiu as a longas
escadarias, até que ela chegou a uma porta na galeria, sobre a qual estava
escrito:
SEJA
OUSADO, SEJA OUSADO, MAS NÃO DEMAIS
SENÃO
SEU SANGUE CONGELARÁ NO CORAÇÃO
Mas
Lady Mary era corajosa. Assim abriu a porta, e... imaginem o que ela viu! Viu
cadáveres e esqueletos de belas moças, todos manchados de sangue. Então Lady
Mary ponderou que já era hora de sair daquele lugar pavoroso. Fechou a porta,
passou pela galeria, e já estava descendo as escadarias e saindo do corredor, quando,
olhando pela janela, ela viu... Ninguém menos que o Sr. Fox, arrastando uma
bela jovem pela porta de entrada.
Lady
Mary desceu, correndo escadas abaixo, e se escondeu, bem a tempo, atrás de um
barril, porque o Sr. Fox já entrava com a pobre jovem, que parecia desmaiada.
Quando
o Sr. Fox se aproximou do lugar onde Lady Mary se refugiava, viu um anel de
diamante cintilando no dedo da jovem que arrastava e tentou retirá-lo. Mas a
joia estava muito apertada no dedo e não saía de modo algum. Então o Sr. Fox,
praguejando e preferindo maldições, desembainhou sua espada, ergueu-a e
baixou-a sobre a mão da pobre dama. A espada decepou-lhe a mão, que saltou no
ar, descreveu um arco e caiu justamente o colo de Lady Mary. O Sr. Fox olhou em
volta, mas não lhe ocorreu procurar detrás do barril. Por fim, voltou a
arrastar a jovem, levando-a escada acima, na direção da Câmara Sangrenta.
Assim
que o ouviu passar pela galeria, Lady Mary esgueirou-se porta afora, passou
pelo portão e correu para casa o mais rápido que pôde.
Acontece
que, no dia seguinte, o contrato núpcias de Lady Mary com o Sr. Fox seria
assinado, e antes da formalização do casamento, ofereceu-se um esplêndido desjejum.
O
Sr. Fox estava sentado à mesa, de frente a para Lady Mary. Olhando para a
noive, disse:
—
Como você está pálida esta manhã, minha querida.
—Sim
— disse ela. — Eu tive uma péssima noite de sono. Tive sonhos horríveis.
—Os
sonhos querem dizer justamente o oposto do que retratam — disse Fox. — Mas
conte-me o seu sonho, e sua doce voz fará com que o tempo passe depressa, e que
logo chegue o radiante momento de nossas núpcias.
—
Eu sonhei — disse Lady Mary — que fui ontem de manhã ao seu castelo e o divisei
no meio da floresta, com muros altos e um fosso profundo, e sobre o portão
estava escrito:
SEJA
OUSADO, SEJA OUSADO.
—
Mas não é assim que as coisas são, nem nunca foram — disse o Sr. Fox.
—
E quando cheguei à porta, nela estava escrito:
SEJA
OUSADO, SEJA OUSADO, MAS NÃO DEMAIS.
—
Mas não é assim que as coisas são, nem nunca foram — disse o Sr. Fox.
—
Depois eu subi as escadas e cheguei a uma galeria, no final da qual havia outra
porta, na qual estava escrito:
SEJA
OUSADO, SEJA OUSADO, MAS NÃO DEMAIS
SENÃO
SEU SANGUE CONGELARÁ NO CORAÇÃO
—
Mas não é assim que as coisas são, nem nunca foram — disse o Sr. Fox.
—
E então... E então eu abri a porta, e vi que a sala estava repleta de cadáveres
de pobres mulheres, todos manchados com os seus próprios sangue.
—
Mas não é assim que as coisas são, nem nunca foram — disse o Sr. Fox. — E que
Deus me livre que sejam assim.
—
Sonhei, então, que corria pela galeria e, justamente quando descia as escadas, eu
o vi, Sr. Fox, alcançando a porta do corredor, e arrastando, atrás de si, uma
pobre jovem, rica e bonita.”
—
Mas nunca foi assim — disse o Sr. Fox. — E que Deus me livre que assim tenha
sido.
—
Corri escada abaixo, bem a tempo de me esconder atrás de um barril, pois o senhor,
Sr. Fox, entrou arrastando a jovem pelo braço. E, quando passou por mim, Sr.
Fox, pensei tê-lo visto tentar arrancar o anel de diamante da jovem dama. E, não o conseguindo, Sr. Fox, pareceu-me, em
meu sonho, que o senhor sacou a espada e amputou a mão da pobre mulher, para
roubar-lhe o anel.
—
Mas nunca foi assim — disse o Sr. Fox. — E que Deus me livre que assim tenha
sido.
E
ele, levantando-se de sua cadeira, ia dizer mais alguma coisa, quando Lady Mary
gritou:
—
Mas é assim, e foi assim. Aqui está, como prova, a mão e o anel!
E
puxou a mão da senhora de seu vestido, apontando-a diretamente para o Sr. Fox.
Imediatamente
seus irmãos e amigos sacaram suas espadas e cortaram o Sr. Fox em mil pedaços.
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