O BERRO DA ROSEIRA - Conto de Terror - Maycon Guedes
O BERRO DA ROSEIRA
Maycon Guedes
Eu
desejo, fortemente, que tudo o que eu presenciei minutos atrás, seja uma ilusão
causada pelo excesso de bebida. Afinal, como tudo aquilo poderia ser real? E cá
estou eu, mais uma vez, conversando comigo mesmo. A atmosfera deste cemitério
sempre me incomodou, mesmo durante o dia. Eu sempre fui cético; não acredito…
não acreditava nessas baboseiras, mas, agora eu tenho minhas dúvidas. De uma
coisa eu sei: eu nunca, jamais, andarei à noite pelo cemitério novamente.
Aquilo
era mesmo um bode preto. Oh, com certeza, era! Ele surgiu do nada! Estava em
cima do túmulo bem ao meu lado, quase encostando em meu braço; aquela coisa
soltava faíscas da boca enquanto movia sua cabeça para cima e para baixo, bem
próximo a mim! E aquelas covas? Eu podia ver a terra se movendo como as ondas
do mar; um mar de terra de cemitério; aqueles movimentos davam a impressão de
que alguma coisa iria sair de dentro das covas, E os corvos! Sinistros!
Pareciam estar zangados comigo; desgraçados! Me deram o maior susto com o
barulho infernal que faziam. E eles me seguiam conforme eu corria, voando de
sepultura em sepultura. Que noite terrível… corvos, bode preto… Ah! E os ratos,
grandes ratos ligeiros, pareciam querer me atacar. Criaturas nojentas. Calma,
respira… não há problema algum em falar sozinho; você está só, e mesmo que eu
encontre alguém aqui, eu duvido muito que acreditariam em cada palavra que eu
dissesse. Preciso voltar ao meu aposento, mas, e a roseira que fica ao lado da
porta? Nada me perturba mais do que aquela roseira, nem mesmo os vultos negros
correndo entre as lápides, nem mesmo as gargalhadas que penetravam os meus
ouvidos, nem o ser que me observava de cima dos galhos secos, com aqueles
grandes olhos iluminados, dando a impressão de que iria pular em cima de mim assim
que eu passasse por debaixo da árvore. Ah, como eu poderia esquecer aquela cruz
de ferro que ardia em chamas. Tudo é muito apavorante, e eu só queria ir para o
meu aposento, mas aquele rosto… aquele rosto camuflado na roseira, envolto por
rosas e espinhos, me observando e me impedindo de entrar no meu quarto. Aquele
rosto vermelho me paralisou com seu olhar penetrante e intimidador; enormes
olhos negros, sem esclera, havia somente a escuridão naquele olhar. Se o
demônio tem um rosto, era aquele rosto na roseira; um rosto humano, porém, de
outra dimensão. Como esquecer o momento em que ele abriu sua enorme boca
deixando aparente as trevas que havia em seu interior? Eu nunca vi uma visão
tão maldita como aquela. E o berro que aquele rosto deu, ecoando por todo o
cemitério, abrindo cada vez mais sua boca tenebrosa, berrando em agonia, um
berro ardido seguido por um som idêntico a uma buzina de navio. Vamos lá, eu
preciso voltar ao meu aposento, afinal, sou o coveiro deste cemitério; devo
enfrentar qualquer assombração. Vamos, você consegue, coragem! Falta pouco, só
mais alguns segundos e eu vou estar em meu quarto. Mas que diabos é aquilo na
minha porta? Por que aquele vulto está apontando naquela direção? Pelo jeito
ele não vai me deixar entrar. Tudo bem… vou jogar o seu joguinho… eu vou em
direção ao local que ele está apontando. Ele está me seguindo, não sei se
corro. Tente não demonstrar medo, apenas obedeça. Não deixe o vulto furioso.
Bom, parece ser aqui o local que ele aponta. Por qual motivo ele me trouxe até
esta sepultura? Não! Não! Isso não é verdade! Isso é impossível! Estão de brincadeira comigo? Parem de rir,
parem! Seus desgraçados! Eu sou o coveiro daqui, enterrei três pessoas hoje à
tarde, como posso estar morto há cinco dias? Quem colocou o meu nome nesta
lápide? Eu não estou morto! Não estou! Não!!!
Gostei muito desse conto, mexe com a nossa imaginação, vc conseguiu com perfeição relatar os personagens e suas características parabéns.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário :)
ExcluirMuito Bom!
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