ANEDOTAS MACABRAS - Narrativa Classica Fúnebre-humorísica - Benito Jerónimo Feijó
ANEDOTAS MACABRAS
Benito Jerónimo Feijó
(1676 – 1764)
Tradução de Paulo Soriano
Um
jovem marquês casou-se com uma velha condessa somente porque esta era muito
rica. E sucedeu o que acontece ordinariamente: em pouco tempo enfastiou-se
tanto dela que a sua simples presença lhe causava agonia. A boa senhora soube
disto e ainda chegou a suspeitar que o marido queria desfazer-se dela.
Nessa
época, a condessa caiu doente. A enferma não só imaginou que o marquês lhe
ministrara veneno, como lhe lançou uma calúnia diante de muitas pessoas. Ao que o marquês, sem se alterar, disse aos
circunstantes:
—
Senhores, para que conheçais que é falso testemunho, chamais os cirurgiões. Que
eles abram agora o corpo da condessa e lhe registrem parte por parte. E vereis
que não se acha nele rastro algum de veneno.
Outro
cavalheiro, que também se havia casado com uma velha mulher, chegando esta a
morrer, mandou que fosse ela enterrada somente cinco horas depois de haver
espirado. Advertiram-no, pois, de que o corpo da senhora ainda estava quente.
— Não importa — respondeu ele. Façais o que eu digo. Ela está bem morta, pois
quando me casei com essa mulher, ela já estava meio defunta.
Iam enterrar a mulher de outro, que julgavam morta em
razão de um desmaio longo e profundo. E,
havendo o cortejo tropeçado numas sarças que havia no caminho, os arranhões
despertaram-na da letargia, e a mulher viveu ainda alguns anos. Mas, sobrevindo-lhe
outra enfermidade, dela morreu. E quando chegou a hora de conduzi-la à
sepultura, o marido ordenou, com muita veemência, aos condutores, que a levassem
por onde não sarças não houvesse.
Comentários
Postar um comentário