A MISSA DOS ESPECTROS - Conto Clássico de Terror - Anônimo Sueco do Século XIX
A MISSA DOS
ESPECTROS
(Anônimo sueco do séc. XIX)
Numa
propriedade chamada Vaderas, vivia, assim como hoje, duas camponesas.
Naquela
época, as estradas eram boas e as mulheres costumavam cavalgar quando iam à igreja.
Num
Natal, duas mulheres combinaram que iriam a cavalo para a missa noturna e, como
naqueles tempos não existiam relógios, combinaram que a que acordasse na hora
oportuna iria chamar a outra.
Era
cerca de meia-noite quando uma das mulheres pensou ter ouvido uma voz na
janela, chamando:
—Vou
partir agora!
Ela
se levantou apressada e se vestiu para cavalgar com a outra mulher. Mas, como
não havia tempo para comer, foi à mesa e pegou um pedaço de pão. Naqueles tempos, era costume assar o pão em
forma de cruz. Era um pedaço desse feitio que a mulher pegou e guardou no bolso
para comê-lo oportunamente.
A
mulher cavalgou o mais rápido que pôde para achegar-se à amiga, mas não
conseguiu alcançá-la. Havia, no caminho,
um riacho que corre para o lago Vidostern, e, sobre ele, passava uma ponte,
conhecida como Ponte da Terra. Junto a ela, havia duas bruxas, ocupadas em
lavar roupas. Quando a mulher cavalgou
sobre a ponte, transpondo-a, uma das bruxas gritou para o outra:
—Depressa!
Arranque a cabeça dela dos ombros!
—
Isto eu não posso fazer — redarguiu a outra —, porque ela leva no bolso um
pedaço de pão em forma de cruz.
A
mulher, que não conseguiu alcançar a vizinha, chegou sozinha à igreja de
Hanger.
A
igreja estava iluminada, como sempre acontecia na celebração da missa de Natal.
O mais rápido que pôde, a mulher amarrou o seu cavalo e entrou pressurosamente
na igreja. Parecia-lhe que a igreja estava repleta de gente. Mas as pessoas —
todas elas — estavam sem cabeça e no altar estava o sacerdote, em trajes
canônicos completos, mas igualmente destituído de cabeça. Em sua pressa, ela
não se deu conta do que acontecia, e sentou-se em seu lugar costumeiro. Quando
se acomodou, teve a impressão de que alguém lhe dizia:
—Se
eu não tivesse sido seu padrinho de batismo, eu a mataria aí mesmo, sentada
como está. Mas, agora, apresse-se e fuja daqui, senão será pior para você!
Só
então ela percebeu o que se passava ao seu redor e saiu dali correndo.
Quando
chegou ao cemitério da igreja, parecia que uma multidão a cercava. Naquela época, as pessoas usavam largos
mantos de lã crua, tecidos em casa e de cor branca. Era um desses mantos que
ela usava, e os espectros a agarraram por ele. Mas ela os repeliu para longe de
si e conseguiu escapar do cemitério. Correu ao asilo e acordou as pessoas de
lá. Diz-se que era, então, uma hora da matina.
Então
ela se sentou e esperou pela missa matinal, às quatro horas da manhã. E quando
o dia finalmente raiou, encontraram um pequeno pedaço de seu manto em cada
túmulo do cemitério da igreja.
Uma
experiência semelhante aconteceu a um homem e sua mulher, que viviam em uma
cabana, conhecida como Ingas, antes de Mosled.
Eles
não estavam mais do que uma hora adiantados. Mas, quando chegaram à igreja em
Hanger, pensaram que o serviço já havia começado e quiseram entrar
imediatamente. Mas a igreja estava fechada e trancada por dentro, e o serviço
fantasmagórico dos mortos chegava ao seu fim. E quando a verdadeira missa
começou, encontraram em todos os lugares um punhado de terra dos túmulos
daqueles que pouco antes prestavam culto. O homem e sua esposa ficaram
gravemente doentes, porque haviam perturbado os mortos.
Versão em português de Paulo Soriano a partir da
tradução para o inglês de Frederick H. Martens (1874 – 1932).
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