O ESPÍRITO MALIGNO DE TEMESSA - Narrativa Clássica de Terror - Pausânias
O ESPÍRITO
MALIGNO DE TEMESSA
Pausânias
(c. 110 — 180)
Quando
Eutímio voltava para a Itália, depois de combater com os Heróis, aconteceu-lhe
um incidente notável.
Diz-se
que Ulisses, vagando pelos mares, após a queda de Tróia, foi levado pelos
ventos para diversas cidades da Itália e da Sicília, e que, então, desembarcou
em Temessa com seus navios.
Lá,
um de seus marinheiros, estando embriagado, estuprou uma jovem virgem daquela
cidade, mas o povo de Temessa o apedrejou até a morte, como punição por aquele
ultrage.
Ulisses,
sem fazer caso de sua morte, embarcou e partiu; mas o espírito do marinheiro apedrejado,
querendo vingar-se, começou a matar os habitantes de Temessa implacavelmente,
sem poupar idade. Diante de tal perseguição, estavam prontos para desertar à
Itália, quando, consultada, a sacerdotisa pítia[1] os
proibiu de abandonar Temessa. Ordenou-lhes que, para aplacar a fúria do espírito
maligno, seria preciso definir-lhe um santuário, edificando-lhe um templo e
oferecendo-lhe, todos os anos, como esposa, e em sacrifício, a mais bela das virgens
de Temessa.
Tendo
realizado tudo que o Deus lhes havia ordenado, os habitantes não padeceram dos
terrores do espírito maligno, pois este contentara-se com o pagamento daquele
tributo.
Mas
aconteceu que, por acaso, Eutímio chegou a Temessa justamente quando a oferenda
costumeira era realizada. Perguntou, então, o que estava acontecendo.
Conhecendo o que ocorria, foi tomado por um forte desejo de entrar no templo e
ver a jovem dada em holocausto. Assim que a viu, primeiro a compaixão e depois
o amor o dominaram E, tendo a jovem jurado desposá-lo se conseguisse salvá-la,
Eutímio armou-se, esperou a chegada do espírito maligno, derrotou-o e o
constrangeu a lançar-se nas profundezas do mar. Eutímio teve um casamento
distinto e nunca mais as gentes de Temesso foram importunadas, nem obrigadas a
fazer sacrifício de tal natureza.
Versão em português de
Paulo Soriano a partir das traduções ao francês de Nicolas Gédoyn (1677 – 1774)
e de François de Villeflorest (1530 – 1583) e da tradução inglesa de W. H. S. Jones e H. A. Omerod, de 1918.
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