O FANTASMA LIQUEFEITO - Conto Clássico de Terror - Pu Songling
O FANTASMA
D’ÁGUA
Pu Songling
(1640 - 1715)
Song
Wan, de Laiyang foi nomeado secretário de um dos conselhos e alugou uma casa em
ruínas na capital.
Certa
noite, sua mãe, que dormia no salão principal, acompanhada por duas criadas,
ouviu um ruído estranho — como o de um alfaiate cuspindo no tecido —, vindo de
seu pátio externo. Disse às suas criadas que fizessem um buraco na tela de
papel e olhassem por ele.
Viram,
então, uma velha senhora, baixa e corcunda, com os cabelos brancos presos num
topete de duas polegadas, saltitando pelo pátio como uma garça. E, enquanto ela
saltitava, um fluxo interminável de água jorrava-lhe da boca. As criadas,
assustadas com aquela singular visão, relataram-na imediatamente à sua senhora,
que ficou horrorizada. Ajudaram-na a subir até a janela para ver a aparição por
si mesma e, naquele exato momento, a velha saltitante se aproximou e cuspiu
violentamente um jato d’água diretamente sobre onde elas estavam, rasgando o papel
e fazendo com que as três mulheres caíssem ao chão.
Era
madrugada e ninguém da família sabia o que se passava. Quando amanheceu, os criados reuniram-se do
lado de fora, como de costume, e bateram à porta. Não recebendo resposta,
ficaram alarmados, forçaram a entrada arrombando a porta, e encontraram a
senhora e as suas duas criadas estiradas, lado a lado, no chão, aparentemente
mortas. Após uma inspeção mais detalhada, viram que uma das criadas ainda
conservava uma nesga de calor corporal. Sentaram-na, deram-lhe de beber e, em pouco
tempo, a moça voltou a si e pôde contar-lhes tudo o que havia testemunhado.
Quando
o Sr. Song chegou ao local, ficou arrasado de tristeza e remorso. O local onde
a estranha velha e estranha senhora tinha sido vista antes de desaparecer foi
examinado minuciosamente. Escavando a uma profundidade de um metro, eles
descobriram cabelos brancos; cavando ainda mais fundo, encontraram os despojos
de um cadáver inteiro. Era o corpo de uma velha mulher, exatamente como a que a
criada havia descrito, e cujo rosto ainda estava coberto de carne, como se ela
ainda estivesse viva. O Sr. Song ordenou que golpeassem o cadáver. Quando o
fizeram, a carne e os ossos simplesmente despregaram-se. Sob a pele, o cadáver
estava completamente putrefeito. Consistia
apenas em água.
Versão em português de
Paulo Soriano.
Conto estranho e ao mesmo tempo fascinante.
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