A SERPENTE DA ILHA - Conto Clássico de Terror - Pu Songling
A SERPENTE DA ILHA
Pu Songling
(1640 – 1715)
No
belo arquipélago de Chu-san há uma pequena ilha onde as flores jamais cessam de
desabrochar e as árvores crescem densas e altaneiras. Não se conhece, desde a
mais remota antiguidade, quem viva à sombra desta mata virgem. Samambaias e
trepadeiras emaranham-se tão profundamente que a um homem é impossível
atravessar este deserto sem abrir caminho com uma machadinha.
Um
jovem estudante, chamado Chang, que morava na Cidade-sobre-o-Mar, descansava de
sua faina diária velejando sobre o mar; seguia num um pequeno barco de junco
que ele mesmo conduzia.
Tendo
ouvido falar da misteriosa ilha, resolveu explorá-la. Assim, preparou vinho e
comida e partiu numa bela manhã de verão.
Por
volta do meio-dia, Chang acercou-se do lugar onde deveria estar a ilha.
Prontamente, da brisa quente chegou-lhe um delicioso perfume floral. Ele viu o
verde-escuro das árvores sobre o verde-claro do mar e, achegando-se, contemplou
a areia amarela da praia, onde resolveu desembarcar.
O
barco tocou a costa. Chang amarrou o bote a uma grande árvore caída, cuja copa
mergulhava nas ondas suaves. Prontamente, fez uma saudável refeição.
Enquanto
guardava no bote o restante de suas provisões, foi repentinamente surpreendido
por um risinho abafado. Voltando a cabeça, viu, entre as rosas silvestres da
praia, uma jovem coberta com um longo vestido azul, que o admirava com olhos
escuros e inflamados.
—
Esta serva está muito feliz em ver-te aqui.
Pensei que jamais teria o prazer de conhecê-lo — disse a moça.
—
Quem és? — perguntou Chang, esquecendo-se, em seu espanto, as adequadas formas
de reverência.
—
Sou apenas uma pobre cantora que foi trazido aqui pelo Duque do Mar.
Chang,
ao ouvir essas palavras, sentiu medo em seu coração. O Duque do Mar era um
famoso pirata que costumava saquear todas as aldeias da costa, e tinha fama de
ser cruel e vingativo. Mas a garota era tão atraente que ele logo esqueceu
tudo, embalado pelo prazer da conversação.
Estavam
eles a rir, sentados ao pé de uma grande árvore, quando um barulho veio da
floresta.
— É o Duque do Mar! É o Duque do Mar! — a
jovem murmurou. — Devo ir imediatamente.
E
ela desapareceu entre a folhagem.
Chang
ainda se perguntava o que deveria fazer quando, de repente, vislumbrou uma
enorme serpente, que vinha diretamente para ele. Seu corpo, espesso como um barril, era tão
comprido que, enquanto a cabeça balançava sobre o jovem, a cauda embrenhava-se
profundamente na floresta.
Chang,
assustado, não podia dizer uma palavra. Sequer ousava se mexer. A serpente
enrolou-se em volta do homem, pendendo-o a uma árvore e retendo firmemente os
braços de seu prisioneiro. Então, abaixando a cabeça, exibiu a língua e mordeu
o nariz do rapaz. Tendo o sangue fluído para o chão, lá a víbora cuidou de bebê-lo.
Chang
percebeu que, se não se libertasse imediatamente, com certeza morreria.
Tateando cautelosamente a mão sobre a cintura, tirou da bolsa uma certa pílula
envenenada, destinada a abater lobos e raposas, que ali guardava. Pegou, com
dois dedos, o comprimido e o lançou na poça vermelha a seus pés.
A
cobra, é claro, sugava o sangue empoçado no chão. Imediatamente, parou de
alimentar-se. Ergueu o corpo e balançou a cabeça para frente e para trás,
batendo nos troncos das árvores, sibilando desesperadamente.
Chang,
extenuado e quase impossibilitado de erguer-se, arrastou-se o mais rápido que
pôde, fugiu à praia e, rapidamente, desamarrou o seu barco. No entanto, antes
de ganhar o mar, tomou a espada e reentrou, cautelosamente, na floresta. A
víbora não se moveu. Chang brandiu sua espada. Com um vigoroso golpe,
decepou-lhe a cabeça e correu para o barco.
Retornando
à Cidade-sobre-o-Mar, Chang foi para a cama e ficou doente por um mês. Quando
falava de sua experiência, ele sempre dizia que, em sua opinião, fora a bela
garota, que ele tinha visto a princípio, que retornara sob a forma de serpente.
Versão em português de
Paulo Soriano a partir da tradução inglesa de Hebert Giles (1845 – 1935).
está aparecendo tudo escuro não consigo ler, creio que copiando e colocando no bloco de notas retira a formatação escura,depois é so colar.
ResponderExcluirÀs vezes acontece esse erro. Agora está corrigido. Obrigado!!!!
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