O LOBISOMEM PETER STUMPP - Narrativa Clássica de Horror - Montague Summers
Montague Summers
(1880 – 1948)
No final do século XVI, uma criatura aterrorizava a
cidade de Bedburg, Alemanha. Com indescritível crueldade, matava gado,
mulheres e crianças. Em choque e assustados, os moradores acreditavam que eram
vítimas de um demônio furioso saído do inferno ou — o que era igualmente
terrível — de um lobisomem sanguinário.
Peter Stumpp nasceu na pequena vila de Epprath, bem
perto da cidade de Bedburg. Desconhece-se a data exata de seu nascimento,
porquanto os registros da igreja local foram destruídos durante a Guerra dos
Trinta Anos (1618-1648). Em 1582, Peter Stumbb era um rico fazendeiro que
prosperava na comunidade rural de Bedburg. Era viúvo e pai de dois filhos: uma
mocinha chamada Beele (Sybil), de cerca de quinze anos, e um filho cuja idade
se desconhece. Aparentemente, Stumpp teve um relacionamento íntimo com Katharina
Trump, uma parente distante. Era ele um homem respeitado por seus concidadãos
e sua riqueza garantia-lhe uma certa influência.
Na época, católicos e protestantes estavam em
guerra. Isto levou os exércitos de ambas as religiões para Bedburg. A Peste
Negra assolou a cidade e a morte não era estranha aos habitantes da região.
Por muitos anos, os camponeses que viviam ao redor
de Bedburg assistiam, impotentes, às misteriosas mortes que dizimavam o seu
gado. Com regularidade, eles descobriam seus animais selvagemente estripados.
Muito naturalmente, os camponeses estimavam que lobos, provavelmente famintos,
eram os autores daqueles massacres.
Foi quando as crianças começaram a desaparecer das
casas e das fazendas, e as jovens mulheres dos caminhos que percorriam diariamente.
Algumas jamais foram encontradas. Contudo, às vezes, alguns corpos — horrivelmente
mutilados — eram descobertos.
O pânico, então, se espalhou pela comunidade.
Enquanto alguns ainda culpavam os lobos pelo assassínio, outros afirmavam que
eram obra de uma criatura muito mais terrível. Provavelmente, um lobisomem
estava escondido, entre eles, em sua forma humana. Era um homem que se
transformava em lobo para satisfazer seus vis apetites, e estes pareciam
evoluir ao longo dos anos.
Os aldeões se armaram para se proteger dessa
criatura maligna; muitos grupos de caça, em vão, foram organizados.
Em 1589, após encontrarem o corpo de uma jovem
grávida estripada, os homens saíram para, novamente, caçar aquela besta. Foi
quando, subitamente, vislumbraram a silhueta de um lobo, que andava sobre duas
pernas. Atiraram os cães contra o animal, que acabou por capitular e
render-se. Mas, para a surpresa de todos, a criatura presente não era um lobo.
Ele era um homem, um homem que usava um estranho cinto de pele de lobo e cujo
nome era Peter Stumpp.
As torturas aplicadas em Peter Stumpp, para fazê-lo
confessar os seus crimes, estavam entre as mais terríveis e sinistras. Sob
tortura, admitiu ter praticado magia negra desde os doze anos e afirmou que o Diabo
lhe havia ofertado um cinto mágico, que lhe permitia transformar-se em "um
lobo faminto, voraz, forte e poderoso, com grandes olhos que brilhavam como
fogo na noite; lobo de boca grande, provida de dentes afiados e cruéis; lobo
dotado de um corpo gigantesco e pernas poderosas.” A remoção do cinto permitia
que ele voltasse à sua forma original.
Stumpp afirmou ter sido um "insaciável bebedor
de sangue” por vinte e cinco anos. Empanturrou-se não apenas de cabras, cordeiros
e ovelhas, mas, igualmente, de homens, mulheres e crianças. Sob tortura, ele
admitiu ter matado e comido quatorze crianças e duas mulheres grávidas, cujos
fetos ele arrancou de suas barrigas e “comeu seus corações, ainda quentes e
ofegantes”. Eram órgãos que ele, mais tarde descreveria, lhe caíam como
guloseimas. Uma das quatorze crianças era seu próprio filho, cujo cérebro ele havia
devorado. Durante seu interrogatório, dissera às autoridades: "O cérebro
tem sido a maior iguaria de toda a minha vida".
Disse, ainda que, certa vez, avistou dois homens e
uma mulher caminhando além dos muros da cidade de Belburg. Quando estes
passaram por ele, escondeu-se atrás de um arbusto. Então, chamou um dos homens
pelo nome e explicou que precisava de ajuda para serrar madeira. Quando o jovem
se juntou a ele, longe dos olhos dos companheiros, Stumpp partiu-lhe a cabeça.
Porque o jovem não voltava, o seu amigo foi procurá-lo. Também foi
assassinado.
Temendo o perigo, a mulher se pôs a fugir, mas
Stumpp conseguiu alcançá-la. Os corpos vilipendiados dos dois homens foram encontrados,
mas o da mulher jamais o foi. Depois de estuprá-la e matá-la, Stumpp — aparentemente
— a devorou completamente. No total, o número de suas vítimas ascendeu a dezoito.
Peter Stumpp foi, portanto, acusado de homicídio
periódico e canibalismo. Também lhe pesou a acusação de incesto, porque tivera
relações com sua filha Sybil. Alguns afirmam que o seu filho era o produto dos
estupros perpetrados em sua filha. Mas, quanto a este assunto, careço de
outras informações e relato-lhe, para a sua informação, este detalhe. Além
disso, a relação que manteve com uma parente distante também era considerada
incestuosa pela lei em vigor, e os três foram condenados à morte. Além de todos
esses crimes, o acusado também admitiu ter tido relações com um súcubo que lhe
fora enviada pelo demônio.
A execução de Peter Stumpp, sua filha Sybil e sua
amante Katharina ocorreu em 31 de outubro de 1589 e foi uma das execuções mais
excruciantes jamais vistas. Peter Stumpp havia sido condenado a passar pelo
calvário da roda. Depois de ser amarrado à roda, a pele de seu torso foi
arrancada em dez lugares com uma pinça em brasa e, em seguida, seus braços e
pernas foram esfolados. Seus membros foram, então, quebrados com o lado cego de
um machado (para evitar que ele, defunto, voltasse da sepultura). Depois, foi
decapitado e queimado na fogueira. Sua filha e sua amante já haviam sido
esfoladas vivas e estranguladas, e seus corpos foram queimados juntamente com
o de Stumpp.
Para alertar a população, as autoridades locais
ergueram um poste onde estava colocada a roda, que tinha servido para torturar
o condenado. Estava, agora, ataviado com a figura de um lobo e, no topo,
adornado com a cabeça decepada de Peter Stumpp.
Versão em português de
Paulo Soriano.
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