A NOTÁVEL DESCOBERTA DO ASSASSINO DE LIÃO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Catherine Crowe


 

A NOTÁVEL DESCOBERTA DO ASSASSINO DE LIÃO

Catherine Crowe

(1803 – 1876)

Tradução de Paulo Soriano

 

Em 5 de julho de 1692, um homem e sua esposa foram assassinados em uma adega em Lião, e sua casa foi roubada.

Não tendo qualquer pista de quem seria o criminoso, um camponês de nome Aymar, de Dauphiny — que tinha a reputação de ser capaz de descobrir assassinos, ladrões e artigos roubados, por meio de uma varinha divinatória — foi chamado.

Aymar se comprometeu a seguir os passos dos assassinos, mas disse que primeiro deveria ser levado à adega onde o assassinato foi cometido. O procurador do rei conduziu-o até lá e lhe deram a primeira vareta de madeira que encontraram.

 Ele caminhou pela cave, mas a vara não se moveu até que ele chegou ao local onde o homem havia sido morto. Então, uma agitação subjugou Aymar, cujos pulsos tremiam como se se ele estivesse acometido de febre alta, e todos esses sintomas intensificaram-se quando ele se aproximou do local onde haviam encontrado o corpo da mulher.

Dali, Aymar, movido por uma deliberação própria, seguiu a uma espécie de loja onde o roubo havia sido cometido. Então, saiu para a rua, rastreando o assassino, passo a passo, seguindo primeiro até o pátio do palácio do arcebispo, e, depois, rumando para fora da cidade e ao longo da margem direita do rio.

Durante todo o caminho, escoltavam-no três pessoas, designadas para aquela finalidade, que testemunharam que, às vezes, ele detectava os vestígios de três cúmplices; às vezes, de apenas dois.

 


Aymar parou à frente da casa de um jardineiro. Ali, insistiu que os assassinos haviam se sentado à mesa e tocado numa das três garrafas que ainda estavam sobre ela. A princípio, negaram. Mas duas crianças, de nove ou dez anos, disseram que três homens haviam estado lá e se servido com o vinho daquela garrafa.

Então, Aymar os rastreou até o rio, onde haviam entrado num barco. E, o que é extraordinário, ele os rastreou tanto na água quanto na terra. Ele os seguia aonde quer que tivessem desembarcado e ia direto aos lugares onde eles haviam se hospedado; lá, apontava suas camas e os utensílios dos quais fizeram uso.

Ao chegar a Sablon, onde algumas tropas estavam acampadas, a vara e suas próprias sensações o convenceram de que os assassinos estavam lá. Mas, temendo que os soldados o tratassem mal, recusou-se a prosseguir com o empreendimento e voltou a Lião.

No entanto, sob a promessa de proteção, Aymar foi enviado de volta por água, com cartas de recomendação.

Ao chegar a Sablon, disse que os assassinos não mais estavam lá. Mas ele os rastreou em Languedoc, entrando em todas as casas em que haviam parado, até que finalmente chegou ao portão da prisão, na cidade de Beaucaire, onde disse que um dos assassinos seria encontrado.

Trouxeram-lhe todos os prisioneiros, em número de quinze. E o único para o qual a sua vara apontava era um pouco bossu — ou corcunda —, que acabara de ser preso por um pequeno furto.

Então verificou que os outros dois haviam tomado a estrada para Nimes e se ofereceu para segui-los. Mas, como o homem negou qualquer conhecimento do assassinato, e declarou que nunca tinha estado em Lião, julgaram que melhor seria retornar com o detido àquela cidade. E, enquanto seguiam pelo caminho pelo qual tinham vindo, e pararam nas mesmas casas que haviam visitado, o criminoso finalmente confessou que tinha viajado com dois homens que o contrataram para ajudá-los no crime. Fato notável: foi necessário que Jacques Aymar seguisse viagem à frente do criminoso, pois, quando em sua presença, o homem adoecia violentamente. De Lião a Beaucaire são quarenta e cinco milhas.

Como a confissão do bossu confirmou tudo o que Aymar havia afirmado, o caso criou uma sensação imensa. Uma grande variedade de experiências foi realizada, e cada uma delas se mostrou perfeitamente satisfatória. Além disso, descobriu-se que dois senhores — um deles o controlador da alfândega — possuíam essa faculdade, embora em grau menor.

Depois, levaram Aymar de volta para Beaucaire, para que ele pudesse rastrear os outros dois criminosos. Ele foi direto, novamente, para o portão da prisão, onde disse que, agora, outro dos assassinos seria encontrado. Durante a investigação, no entanto, foi descoberto que um homem tinha estado lá, procurando pelo bossu, mas fora embora. Ele então o seguiu até Toulon e, finalmente, até a fronteira da Espanha, que estabeleceu um limite para novas investigações.

Aymar costumava desmaiar e permanecer tão subjugado pelo êxtase — ou o que quer que o guiasse —, que o suor lhe escorria tão abundantemente da testa que eram obrigados a borrifá-lo com água para evitar que desmaiasse.

Aymar detectou muitos roubos da mesma forma. Sua varinha se movia sempre que ele passava por metais ou pela água, ou por bens roubados. Mas, pelo horror e dor que sentia, ele descobriu que podia distinguir perfeitamente o rastro de um assassino. Fez essa descoberta acidentalmente, enquanto procurava por água. Na ocasião, cavaram o solo e encontraram o corpo de uma mulher que havia sido estrangulada.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O GATO PRETO - Conto Clássico de Terror - Edgar Allan Poe

O RETRATO OVAL - Conto Clássico de Terror - Edgar Allan Poe

A MÁSCARA DA MORTE ESCARLATE - Conto de Terror - Edgar Allan Poe

BERENICE - Conto Clássico de Terror - Edgar Allan Poe