O FANTASMA QUE SE ENFORCAVA - Conto Clássico de Terror - Yuan Mei
O FANTASMA QUE
SE ENFORCAVA
Yuan Mei
(1716 – 1797)
Havia,
para além do portão norte da muralha que circundava a cidade de Hangzhou, uma
casa com fama de mal-assombrada. Como ninguém se atrevia a habitá-la, a vivenda
permanecia desocupada e fortemente trancada.
Certo
dia, um erudito chamado Cai expressou o desejo de adquiri-la. Os moradores locais
tentaram dissuadi-lo, dizendo-lhe que o sábio arriscaria a vida se ousasse
morar naquele lugar. Mas Cai não lhes deu atenção e fez a compra, assinando
todos os documentos necessários. Tendo a sua família se recusado a fixar
residência naquele lugar assombrado, Cai mudou-se sozinho.
Em
sua primeira noite na casa, Cai sentou-se, em vigília, em seu quarto, com uma
vela na mão. À meia-noite, uma mulher, com uma faixa vermelha pendurada ao
pescoço, penetrou silenciosamente naquele ambiente.
A
dama fez uma reverência e os dois trocaram cumprimentos. A mulher, então,
amarrou uma corda na viga do telhado e puxou o laço sobre o pescoço. Cai
permaneceu imperturbável. Em seguida, a dama enlaçou outra corda e acenou para
Cai, convidando-o se juntar-se a ela no intento macabro. Cai aceitou o convite.
Passou, contudo, o laço num dos pés.
—
Meu caro senhor, o laço está no lugar errado — disse-lhe a mulher.
Cai
riu, dizendo-lhe.
—
Com toda certeza, não sou eu que está errado. Foi você que cometeu o erro e,
por isto, acabou onde agora está.
Ouvindo
isto, o fantasma, chorando, caiu de joelhos e, depois de se curvar para Cai
várias vezes, desapareceu.
A
partir de então, a casa livrou-se das ocorrências sobrenaturais. Cai, além
disso, foi bem-sucedido em seus exames. Alguns dizem que ele, Cai Binghou, poderá
ser o magistrado local.
Versão em português de
Paulo Soriano.
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