CHAPEUZINHO VERMELHO - Conto Clássico de Terror - Charles Perrault
Charles Perrault
(1628 – 1703)
Tradução de Paulo Soriano
Era
uma vez uma pequena aldeã. Ela era a menina mais linda que se poderia ver. A mãe
era louca por ela e a avó mais ainda. Esta boa senhora mandou fazer para a menina um
chapeuzinho vermelho, que lhe assentava tão bem que, em todos os lugares para
onde ia, só a chamavam de Chapeuzinho Vermelho.
Um
dia, sua mãe, depois de assar uns bolinhos, disse à menina:
—
Vá visitar a avó. Disseram-me que ela está doente. Leve-lhe este bolinho e este
potinho de manteiga.
Chapeuzinho
Vermelho partiu imediatamente para a casa da avó, que morava numa outra aldeia.
Passando por um bosque, ela encontrou o Lobo, que teve muita vontade de comê-la.
Mas ele, por causa dos lenhadores que estavam na floresta, não ousou devorá-la prontamente. E perguntou à menina para onde ia. A pobre criança, que não sabia o quão era
perigoso parar e escutar um lobo, disse-lhe:
—
Vou visitar a minha avó. Levo para ela, a pedido de minha mãe, um bolinho e um
potinho de manteiga.
—
Ela mora longe? — perguntou o lobo.
—
Oh, sim! — respondeu Chapeuzinho
Vermelho. — Mora depois do moinho — que se pode ver ao longe —, na primeira
casa da aldeia.
—
Que bom! — disse o Lobo. — Também quero
visitá-la. Eu vou por este caminho e você por aquele outro. Veremos quem
chegará primeiro!
O
Lobo pôs-se a correr, com toda a sua energia, pelo caminho mais curto. A
menina, de sua feita, seguiu o caminho mais longo, entretendo-se em colher nozes,
perseguir borboletas e fazer buquês com as florezinhas que encontrava.
O
Lobo não demorou a chegar à casa da avó. Então, bateu: toc, toc, toc!
—
Quem está aí?
—É
sua netinha, Chapeuzinho Vermelho — disse o Lobo, imitando a voz da menina. —
Trago-lhe, a pedido de minha mãe, um bolinho e um potinho de manteiga.
A
boa avó, que estava de cama, porque se sentia um tanto adoentada, gritou-lhe:
—
Puxe a lingueta, que o ferrolho se abrirá!
O Lobo puxou a lingueta e a porta se abriu. Então
jogou-se sobre a boa senhora e a devorou num instante, pois já fazia mais de
três dias que não comia.
Depois,
o Lobo fechou a porta e foi deitar-se na cama da avó, à espera de Chapeuzinho
Vermelho.
Depois
de algum tempo, a menina bateu à porta: toc, toc, toc!
—
Quem está aí?
Chapeuzinho
Vermelho, ouvindo a grossa voz do Lobo, a princípio se assustou; todavia, acreditando
que a avó estava resfriada, respondeu:
—É
sua netinha, Chapeuzinho Vermelho, que lhe traz, a pedido de minha mãe, um bolinho
e um potinho de manteiga.
O
Lobo gritou à menina, suavizando um pouco a voz:
—
Puxe a lingueta, que o ferrolho se abrirá!
— Chapeuzinho Vermelho puxou a lingueta e a
porta se abriu.
O
Lobo, vendo-a entrar, disse-lhe, escondendo-se na cama, sob o cobertor:
—Ponha
o bolinho e o potinho de manteiga na cristaleira e venha deitar-se comigo.
Chapeuzinho
Vermelho tirou a roupa e foi para a cama, onde ficou muito espantada ao ver o
aspecto que, na camisola, a avó exibia.
Disse-lhe
a menina:
—Vovó,
que braços grandes você tem!
—
É para abraçá-la melhor, minha netinha!
—
Vovó, que pernas grandes você tem!
—É
para correr melhor, minha netinha!
—
Vovó, que orelhas grandes você tem!
—É
para ouvir melhor, minha netinha!
—
Vovó, que olhos grandes você tem!
—É
para vê-la melhor, minha netinha!
—
Vovó, que dentes grandes você tem!
—
É para comê-la!
E,
dizendo estas palavras, o lobo mau atirou-se sobre Chapeuzinho Vermelho e a
devorou.
Ilustração da portada: Jessie
Willcox Smith (1863 – 1935).
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