CABELOS TRANSFORMADOS EM OURO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Pregador de Ely


 

CABELOS TRANSFORMADOS EM OURO

Pregador de Ely

(Séc. XV)

 

Do Mestre Richard de Puttes vem uma história que trata da celebração da missa, no ano do Senhor de 1373.

Um homem de Haydock, no condado de Lancashire, tinha uma amante com quem teve dois filhos. Quando esta morreu, o homem desposou outra mulher.

Certo dia, o homem dirigiu-se a uma ferraria próxima, especializada na preparação e afiação de lâminas de arado, a fim de comprar uma relha. O ferreiro vivia na propriedade de Hulme, a duas milhas de Haydock. Quando, já à noite, voltava para casa, tendo chegado a uma encruzilhada — chamada Newton Cross —, o homem foi vítima de uma experiência aterrorizante. Cheio de pavor, olhou em volta, na escuridão, e viu o que parecia ser uma sombra negra. Suplicou à aparição que não lhe fizesse mal e perguntou-lhe quem era.

Do âmago da sombra, veio-lhe uma voz que dizia:

—Não tenhas medo. Eu sou a mulher que já foi tua amante. Foi-me permitido aproximar-me de ti e pedir-te ajuda.

Quando o homem perguntou como se lhe passavam as coisas, ela respondeu:

—Não muito bem. Mas podes ajudar-me, se a isto estiveres disposto.

— Com certeza — respondeu o homem —, farei tudo ao meu alcance, se me disseres como deverei agir.

A mulher respondeu que poderia ser libertada do castigo, que estava a sofrer, se dignos padres celebrassem missas em seu favor.

 O homem prometeu que mandaria rezar-lhe missas, ainda que isso lhe custasse o seu último centavo.

—Não tenhas medo — disse ela. — Põe a mão em minha cabeça e tira o que encontrares.

Ele estendeu a mão à cabeça da aparição e arrancou um pequeno punhado de cabelos muito escuros.

Ora, quando viva, a mulher tinha belos cabelos dourados.

— Se mandares rezar tantas missas por mim quantos os cabelos que tens na mão — disse a aparição —, serei libertada de meu sofrimento.

Tendo ele concordado, disse-lhe ela para voltar num tempo determinado, e ele saberia o que lhe havia acontecido. Depois, desapareceu.

O homem prendeu o cabelo com um alfinete numa fenda da porta. Tendo vendido imediatamente uma grande parte dos seus bens para obter dinheiro bastante, procurou um padre e mandou celebrar um expressivo número de missas.

Feito isto, voltou a olhar para o punhado de cabelos e verificou que, por cada missa que tinha mandado celebrar, um dos cabelos se tinha transformado em ouro.

Assim, mandou celebrar ainda mais missas, até que toda a mecha se tornou áurea.

Mais tarde, voltou à encruzilhada, à hora marcada e, depois de esperar um momento, viu uma luz resplandecente que, rapidamente, correu em sua direção.

Chegando a luminosidade a ele, veio uma voz de seu interior, agradecendo-lhe nestas palavras:

—Bênção a ti, entre todos os homens, por me teres libertado do meu terrível sofrimento. Agora posso seguir o meu caminho com alegria.

E, depois de falar-lhe com brevidade, partiu rapidamente.

 

Versão em português de Paulo Soriano.

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