COMO O BOBO ROUBOU O CORPO DO REI - Conto Clássico de Terror - Sabine Baring-Gould



COMO O BOBO ROUBOU O CORPO DO REI

(Lenda hindu)

Sabine Baring-Gould

(1834–1924)

Tradução de Paulo Soriano

 

Certo dia, um rei passeava pelo mercado de sua cidade, quando viu um comediante corcunda, cujas contorções e jocosos dizeres mantinham os espectadores em gargalhadas. Como o sujeito muito o divertira, o rei o levou ao seu palácio para que lhe servisse de bobo da corte. 


 


 

Pouco depois, um necromante ensinou ao monarca a arte de enviar a própria alma a um corpo alheio.

Algum tempo depois, o monarca, ansioso por colocar em prática os conhecimentos recém-adquiridos, cavalgou para a floresta, acompanhado de seu bobo, que — acreditava —não tinha ouvido, ou, pelo menos, compreendido a lição que aprendera do necromante.

Na floresta, encontraram o cadáver de um brâmane, caído nas profundezas da selva, vitimado pela sede.

O rei, deixando seu cavalo, realizou a cerimônia necessária e, instantaneamente, sua alma migrou para o corpo do brâmane; ao mesmo tempo, o seu próprio corpo jazia, como morto, no chão.

Naquele mesmo instante, porém, o corcunda abandonou o corpo e se apoderou do que fora o do rei. E, dando adeus, aos gritos, ao monarca desfalecido, cavalgou de volta ao palácio, onde foi recebido com honras reais.

Mas não demorou muito para que a rainha e um dos ministros descobrissem que havia algo de errado com aquele que supunham ser o rei.  E quando o verdadeiro rei — agora brâmane — chegou e contou sua história, engendraram uma trama para que este recuperasse o seu corpo.

A rainha perguntou ao falso marido se era possível fazer seu papagaio falar e ele, num momento de fraqueza conjugal, prometeu cumprir o desejo da mulher.

Assim, abandonou o corpo e transferiu a sua alma para o do papagaio. Imediatamente, o verdadeiro rei abandonou o corpo do brâmane e retomou o que era legitimamente seu. Então, com a rainha, caiu sobre o papagaio e torceu-lhe o pescoço.

 


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