TORTURA E MORTE DE BALTHASAR GÉRARD - Narrativa Clássica Verídica de Horror - Pierre de Brantôme


 

TORTURA E MORTE DE BALTHASAR GÉRARD

Pierre de Brantôme

(c. 1540 – 1614)

 

Antes de morrer, durante dezoito dias, [Balthasar Gérard, assassino de Guilherme de Orange], foi torturado com crueldade excessiva.

No primeiro dia, ele foi levado à praça pública, onde havia um caldeirão de óleo fervente, no qual foi lançado o braço que desferira o golpe.

Na manhã seguinte, esse braço foi decepado e caiu a seus pés. Ele o moveu calmamente com o pé e empurrou-o para baixo do cadafalso.

No terceiro dia, o seu peito e a frente do braço foram arrancados com pinças em brasa; no dia seguinte, suas costas, a parte de baixo do braço e pernas foram tratadas da mesma maneira.

Isto continuou por dezoito dias e, após cada tortura, ele era conduzido de volta à prisão. Com grande constância, suportava ele, o tempo inteiro, todo aquele sofrimento.

A maior das torturas que ele suportou (com exceção da morte) foi esta: amarraram-no, nu, no centro da praça, tendo ao seu redor, a uma pequena distância, montes de carvão aceso. Portanto, as chamas o envolveram.  O pobre supliciado suportou a queimação por um longo tempo; mas, finalmente, perdeu a paciência, e gritou. Então, tiraram-no dali.

Na tortura final, submeteram-no à roda, mas ele não morreu imediatamente, pois os verdugos quebraram-lhe as pernas e o braço, para fazer demorara a sua agonia. Assim, sobreviveu por seis horas, implorando a alguém que lhe trouxesse uma gota d'água, mas ninguém teve coragem de trazê-la.

Por fim, o oficial foi instado a pôr fim a essa cena e estrangulá-lo, para que não morresse em desespero e, assim, sua alma perecesse. O carrasco se aproximou e, quando estava junto a ele, perguntou como ele se sentia. O torturado respondeu:

— Como você me deixou.

Mas, quando trouxeram a corda para ser colocada em seu pescoço, ele se ergueu, como se nunca tivesse temido a morte, e disse ao carrasco:

— Ah! Reze para me que deixem em paz! Não me torture mais! Por favor, deixe-me morrer assim como estou! 

Assim, tendo sido estrangulado, sua vida acabou. Terríveis foram os tormentos que ele suportou!

 

Versão em português de Paulo Soriano.

Fonte: “Curiosities of Olden Times”, de Sabine Baring-Goud.


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