O OGRO - Conto Clássico de Terror - Simon François Blocquel, dito Frinellan
O OGRO
Simon François Blocquel, dito Frinellan
(1780-1863)
Tradução de Paulo Soriano
Os
ogros eram monstros que possuíam três naturezas: humana, animal e infernal. Gostavam
apenas de carne fresca e de crianças pequenas, que compunham o seu mais
delicioso manjar.
Um
antigo tradutor de lendas narra-nos que, no século XII, na Lituânia, existia um
ogro chamado Bolivorax, famoso em toda a região por suas crueldades. Era o
terror das mães e o espantalho das crianças.
O
monstro maltratava os pequeninos com espantosa habilidade, tão logo tivessem a
infelicidade de se encontrarem sozinhos; pois tinha ele o poder de
transportar-se tão rapidamente quanto um pensamento, de um extremo ao outro do
país, e o seu faro, que era muito apurado, avisava-o exatamente onde poderia
encontrar a sua presa.
Uma
noite, raptou a filha do soberano, uma donzela gentil e nobre de quatorze anos,
noiva do duque da Curlândia, um galante cavaleiro e, ao mesmo tempo, sem o
demonstrar, um hábil mago.
Quando,
de volta à sua caverna, Bolivorax contemplou à vontade o belo bocado que tinha
em seu poder, percebeu, pela primeira vez na vida, que estava encantado, e
sentiu no coração mover-se uma paixão que ainda não conhecia. Aquela presa era deliciosa;
e o apetite do ogro procurava extinguir aquelas centelhas do amor.
No
entanto, ele disse-lhe, galantemente, contorcendo assustadoramente a cara, que
estava disposto a aliviá-la de seu habitual rigor, porque ela era agora a dona
do seu destino. Disse-lhe mais que, se ela consentisse em amá-lo e acariciá-lo ternamente
todas as noites, ele faria da jovem a sua mulher e alimentá-la-ia fartamente;
mas que, se assim não fosse, iria devorá-la no jantar.
A
princesa já não sabia como sair desta crítica situação, quando o duque da
Curlândia, avisado por um espírito familiar onde se escondia a sua prometida,
chegou oportunamente à caverna do monstro. Lançou, então, um feitiço sobre o ogro, que o
fez perecer em menos de uma hora; então, trouxe sua noiva de volta à corte do
pai e com ela se casou, no dia seguinte, para protegê-la de novos malefícios.
Fonte: Le Triple
Vocabulaire Infernal, Paris, 1874.
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