O CADÁVER DO SAPATEIRO DE BRESLAU - Narrativa Clássica de Terror - Henry More

 

O CADÁVER DO SAPATEIRO DE BRESLAU

Henry More

(1614 – 1687)

Tradução de Paulo Soriano

 

Um sapateiro de Breslau, na Silésia, em 1591, pôs fim à própria vida cortando a garganta.

A sua família, todavia, espalhou a notícia de que ele havia morrido de apoplexia, o que lhes permitiu enterrá-lo da maneira habitual, evitando a ignomínia de sepultá-lo como suicida.

 No entanto, apesar disso, espalhou-se o boato de que o homem se tinha suicidado. Dizia-se, também, que o seu espectro fora visto à beira da cama de várias pessoas e, como os rumores e as notícias se espalharam, as autoridades decidiram desenterrar-lhe o corpo.

Ele havia sido enterrado em 22 de setembro de 1591, e o seu sepulcro foi aberto em 18 de abril de 1592.

O corpo foi encontrado íntegro, sem qualquer indício de putrefação. Tinha as articulações flexíveis, sem mau cheiro, com a ranhura bem visível na garganta e sem qualquer indício de corrupção. Observou-se, também, o que se dizia ser uma marca mágica no dedão do pé direito: uma excrescência em forma de rosa. O corpo foi mantido acima do solo durante seis dias, período durante o qual as aparições continuaram a verificar-se. Sepultaram-no, então, debaixo da forca, mas a aparição continuava a vir à cabeceira dos alarmados habitantes, beliscando e sufocando as pessoas, e deixando-lhes as marcas dos dedos, bem visíveis, na carne.

Transcorridos quinze dias, o corpo foi novamente desenterrado. Observou-se, então, que a entidade havia crescido sensivelmente de desde a última inumação.  A cabeça, os braços e as pernas do cadáver foram cortados; o coração, que estava tão fresco e íntegro quanto o de um bezerro recém-abatido, também foi retirado dos despojos. Todo o corpo, assim desmembrado, foi lançado às chamas e as cinzas atiradas ao rio.

A aparição nunca mais foi vista.

 Diz-se, também, que um criado do defunto teria agido de semelhante maneira, após a sua morte. Os seus restos mortais foram igualmente desenterrados e incinerados; então, a aparição deixou de atormentar os moradores.

 

Fonte: Dudley Wright (1868 – 1950), “Vampires and Vampirism”, 1914.

 


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