O FASCÍNORA QUE NÃO MORRIA - Narrativa Clássica de Terror - Montague Summers


 

O FACÍNORA QUE NÃO MORRIA

Montague Summers

(1880 – 1948)

Tradução de Paulo Soriano

 

No Sudoeste da China, um homem acresceu às suas muitas vilanias o estudo da magia negra, o que lhe permitiu perpetrar os mais abomináveis crimes.

Tendo sido pego em flagrante no ato de um homicídio, foi executado, mas em três dias voltou à terra, aterrorizando toda a vizinhança.

Com infinita dificuldade, o vilão foi preso mais uma vez, e, desta feita, afogaram-no num rio caudaloso, que — esperava-se — carregaria o cadáver em sua corrente espumosa.

Todavia, mal se passaram três dias, relatou-se que ele perambulava pelos campos e cometia novos atos de sanguinolenta violência.  Mais uma vez, ele foi preso e condenado à morte, mas apenas para reaparecer e infestar vilas e aldeias. Quando o capturam novamente, teve a cabeça decepada. Sepultaram-lhe o corpo no local onde havia caído e transportaram-lhe a cabeça a um lugar assaz distante dali.

No entanto, em quarenta e oito horas, ele foi visto novamente, exibindo-se tão poderoso e selvagem como dantes. Desta feita, porém, notou-se que uma fina faixa vermelha marcava-lhe o pescoço.  

Por fim, sua mãe — a quem ele havia espancado — recorreu a um mui venerado mandarim — homem de grande honra —, e lhe entregou um misterioso vaso, hermeticamente fechado. Explicou-lhe a mulher que tinha motivos para acreditar que aquela peça, através do encantamento, continha a alma superior de seu filho, ao passo que a inferior continuava a animar-se, persistindo em reenergizar o seu corpo, e em influenciá-lo no cometimento daquelas atrocidades.

— Se o senhor quebrar este pequeno vaso — disse ela —, poderá dissipar ambas as almas; então, haverá de executá-lo de uma vez por todas.

O vaso, bem amarrado e pintado com sinais cabalísticos, foi imediatamente reduzido a mil pedaços. O infrator foi capturado com muito menos dificuldade do que se supunha possível, e, depois, condenado à morte. Em poucos dias, o corpo do facínora se desfez em pó, e ele nunca mais voltou a visitar a terra.

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