UM RECÉM-NASCIDO OFERTADO AO DEMÔNIO - Narrativa Clássica de Terror - Heinrich Kramer e Jakob Sprenger
UM RECÉM-NASCIDO
OFERTADO AO DEMÔNIO
Heinrich Kramer (c. 1430 – 1505) e Jakob
Sprenger (1435 – 1495)
As
bruxas, quando não matam as crianças pequenas, oferecem-nas ao diabo numa
cerimônia blasfema. E quando nasce a criança, a parteira —se a própria mãe não
é uma bruxa — tira-a do quarto, a pretexto de acalentá-la, ergue-a e a oferece
ao Príncipe dos Demônios — Lúcifer — e a todos os diabos.
Um
homem relatou o seguinte: notou que a sua esposa, quando chegara o momento de
dar à luz, agira contra os costumes habituais das mulheres grávidas, ao não
permitir que nenhuma outra mulher se aproximasse de seu leito, à exceção de sua
filha, que serviria de parteira.
Como
queria saber a razão de tal estranha conduta, escondeu-se na casa e assistiu ao
ritual sacrílego, de dedicação ao demônio, que acima narramos. Também viu,
conforme lhe pareceu, o recém-nascido — sem ajuda humana alguma, mas impelido
pelo poder do demônio — subir pela corrente em que se penduravam as panelas da
cozinha. Com grande consternação, tanto pelas terríveis palavras de invocação
aos demônios, quanto por outras iníquas cerimônias, o homem insistiu,
energicamente, que se batizasse de imediato a criancinha. Tomaram-na, pois,
para conduzi-la à aldeia vizinha, onde havia uma igreja. No caminho, ao
atravessar uma ponte, desembainhou a espada e avançou para a filha, que
carregava a criança. Então, na presença de outras pessoas que lhe faziam
companhia, disse:
—
Tu não levarás a criança ao outro lado. Ela deverá atravessar a ponte sozinha.
Caso contrário, afogo-te no rio.
A
filha ficou apavorada e, junto com as outras mulheres acompanhantes, perguntou
ao pai se este estava em pleno juízo (pois este havia ocultado o sucedido de
todos os demais, salvo os dois homens que estavam com ele).
Então,
o homem respondeu:
—
Bruxa malvada! Com as tuas artes mágicas, fizeste com que a criança subisse
pela corrente da cozinha. Agora, faz com que ela cruze a ponte sem que ninguém
a carregue no colo. Se não fazes o que te digo, eu te afogo no rio!
Constrangida
pela ameaça, a moça pôs a criança sobre ponte e, com as suas artes mágicas,
invocou o demônio. De repente, os circunstantes viram a criança já no outro
lado da ponte.
Batizada
a criança, o homem voltou para casa.
Já
que agora tinha testemunhas para condenar a filha por bruxaria — pois não podia
comprovar o crime anterior, de oferta da criança ao demônio, porquanto fora a
única testemunha dessa sacrílega liturgia —, acusou-a e a sua esposa perante o
juiz, uma vez decorrido o período de resguardo.
Ambas
foram queimadas.
Assim
foram descobertos os delitos das bruxas parteiras que, em sacrílego ritual,
ofertaram um recém-nascido ao Demônio.
Versão em português de
Paulo Soriano.
Revisão de Rogério Silvério de Farias.
Nota do editor: A presente narrativa é um episódio do livor "Narrativas Fantásticas do Malleus Maleficarum”, que pode ser adquirido aqui.
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