A DAMA DO CEMITÉRIO - Narrativa Clássica de Terror - William Carleton


 

A DAMA DO CEMITÉRIO

William Carleton

(1794 – 1869)

Tradução de Paulo Soriano

 

No cemitério de Erigle Truagh, sito no baronato de Truagh, condado de Monaghan, diz-se que existe um espírito que aparece às pessoas cujos familiares ali estão sepultados.

A aparição, que geralmente surge da forma que logo narrarei, é sempre fatal. É um presságio de morte para aqueles que tenham a infelicidade de cruzar-se com ela.

Quando há um enterro, o espectro acerca-se da última pessoa a sair do adro cemiterial e sobre ela exerce uma fascinante e inexplicável atração.

Se a vítima for um jovem, o espectro assume a forma de uma bela mulher, que lhe infunde uma paixão arrebatadora e exige do infeliz a promessa de um novo encontro no cemitério dentro de um mês, contado daquele dia. A promessa é selada com um beijo, através do qual a peçonha mortal é transmitida à pobre vítima. 


 


 


Então, o espectro se afasta.  Assim que o jovem abandona o cemitério, percebe-se que fora vítima da cruel ilusão do espectro, cujas aventuras são bem conhecidas naquela freguesia.

Caída em desespero, a vítima definha e morre. E é sepultada no dia em que a promessa deveria ser cumprida.

Se o retardatário for uma mulher, o fatídico espectro assume a forma de um jovem rapaz de extrema beleza e elegância.

Há alguns anos, mostraram-me a sepultura de um jovem, com cerca de dezoito anos, que teria sido vítima da aparição; ademais, não faz mais de dez meses que um homem, da mesma freguesia, declarou ter feito a promessa, seguida do beijo fatal; por conseguinte, considerou-se perdido. Ele teve febre, faleceu e foi sepultado no dia marcado para o encontro, exatamente um mês após o assédio.






Mencionam-se vários casos semelhantes, mas o dos dois aludidos namorados são os únicos que chegaram ao meu conhecimento. Parece, no entanto, que o espectro não se limita ao cemitério da igreja, pois já foram mencionados casos de sua aparição em casamentos e festas, em que nunca deixou de subjugar as suas vítimas, com as quais dança e, depois, lança-as às febres pleuríticas.

Não sou capaz de dizer se esta é uma superstição estritamente local ou se é considerada peculiar a outros cemitérios na Irlanda ou em outros lugares. Em sua forma feminina, o espectro rememora as donzelas Elle da Escandinávia, mas não conheço nenhum relato de fadas ou aparições em que haja a mutação do sexo da aparição, exceto se a manifestação é a do próprio Diabo.

A gente do campo diz que o espectro é a Morte.


Imagens: Ps/Copilot.

Comentários

  1. Além desse texto ser um terror é um conto de arrepiar

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  2. a imagem que ilustra o conto, muito linda, cara!

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    Respostas
    1. Essas duas ilustrações realmente são fantásticas!...nossa, onde essas inteligências aritificiais irão parar, elas são muito boas! No entanto, os artistas humanos ainda tem um toque mágico que essas IAs, não conseguem ter. Mas elas são muito boas sim como artistas não-humanos.

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    2. tem um lance interessante, alguns artistas humanos estão usando as IAs para se inspirarem, meio que copiando e fazendo algumas modificações. Me lembro que havia ou há uns 3 artistas de comics que sempre usaram fotos como referência, hoje eles devem estar usando essas IAs como referência. No Brasil, tinhamos o Alvimar, que fazia quadrinhos de terror e FC usando modelos humanos, com fotos ou modelos vivos mesmo. Ele tinha até uma revista, a Factus. Deve ter pra baixar.

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