MORTE PELO RISO - Narrativa Clássica de Terror - Pu Songling


 

MORTE PELO RISO

Pu Songling

(1640 - 1715)

 

O professor universitário Sun Ching-hsia contou-me que, em sua aldeia, um certo homem fora aparentemente assassinado por rebeldes que assediaram o lugar. A cabeça do homem tombara sobre o peito. Assim que os rebeldes se foram, os servos recolheram o corpo do infeliz, e já estavam prestes a enterrá-lo, quando viram que ele ainda respirava. Examinaram-no com redobrada atenção e constataram que a traqueia não estava completamente cortada. Colocando a cabeça no seu devido lugar, levaram-no de volta a casa. Em vinte e quatro horas, o homem começou a gemer e, à força de alimentá-lo cuidadosamente, com o emprego de uma colher, em seis meses estava ele completamente recuperado.

Cerca de dez anos depois, o homem conversava com alguns amigos, quando um deles contou uma piada que motivou intensos risos dos camaradas. O nosso herói também gargalhou. Mas, enquanto ele, de tanto rir, movimentava para trás e para frente a cabeça, a sutura de seu pescoço se abriu e a sua cabeça tombou com um jorro sanguinolento.

Viram, então, que ele estava morto. O seu pai, prontamente, ingressou com uma ação judicial contra o brincalhão[1]. Mas os que estavam presentes subscreveram uma soma em dinheiro e a entregaram ao pai do homem falecido. Tendo sepultado o filho, o pai desistiu da ação judicial.

 

Versão em português de Paulo Soriano, a partir da tradução inglesa de Herbert Giles (1845 – 1935).

Imagem: PS/Copilot.



[1] Os chineses distinguem cinco graus de homicídio, dentre os quais o homicídio acidental (ver Código Penal, Livro VI). Assim, se uma arma dispara sozinha na mão de um homem e mata um espectador, o detentor da arma é culpado de homicídio; mas, se a mesma arma estivesse sobre uma mesa, seria considerada a vontade do Céu. Da mesma forma, um homem é responsabilizado por qualquer morte causada por um animal de sua propriedade. Em tais casos, a causa geralmente se resolve pelo pagamento de quantia indenizatória, sem qualquer notificação dos crimes em geral, a menos um promotor determine que uma investigação seja feita. Pode o promotor, ainda, promover o arquivamento do processo. Quando as circunstâncias são puramente acidentais, a lei admite uma compensação monetária. (Nota do Tradutor original.)

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