UM GRANDE METRÔ TRANSATLÂNTICO - Conto Clássico de Ficção Científica - Michel Verne
UM
GRANDE METRÔ TRANSATLÂNTICO
Michel
Verne
(1861 –
1925)
Tradução
de Paulo Soriano
Companhia de
Tubos Pneumáticos de Boston-Liverpool
Foi este o
letreiro que li com incredulidade quando me encontrava diante da pretensiosa
entrada de mármore do que parecia ser um átrio subterrâneo. Eu sabia que era
subterrâneo porque um elevador situado na entrada subia periodicamente até o
nível em que eu estava — o nível da rua — e depois descia carregado de
passageiros.
Acompanhava-me o
Coronel Pierce, de Boston, Estados Unidos. Apontando para dois enormes
cilindros, um de cada lado do elevador, ele disse:
—Este são os
elevadores da estação.
O inventor
americano conduziu-me ao interior de um dos elevadores e descemos com uma
rapidez que quase me privou do fôlego. Por fim, paramos e saímos numa sala de
espera espaçosa e brilhantemente iluminada. Na parede oposta de alvenaria, ao
nível do chão, estavam as cabeças ou tampas metálicas brilhantes do que
pareciam ser tubos gêmeos.
— E está me
dizendo — disse eu — que estas são as extremidades americanas dos tubos que
ligam este continente à costa de Inglaterra?
—Sim. Utilizamos
5.000.000 pés quadrados de aço para os cilindros; peso total: 13.000.000
toneladas. Estes tubos consistem em inúmeras seções de tubagem, cada secção com
10 pés de comprimento.
— As seções
tiveram de ser unidas debaixo do oceano", observei. —Como?...
— O processo é
segredo meu, senhor —interrompeu o coronel. —Basta dizer que estão aparafusadas
umas às outras e que o conjunto é envolvido numa rede tripla de aço, e o
invólucro exterior consiste num manto de guta-percha com um metro de espessura.
—E a força
motriz?
— Pneumática: o mesmo princípio usado nos tubos pneumáticos
dos correios.
Quase ao mesmo
tempo em que ele falava, a tampa do tubo à esquerda abriu-se lentamente. O
coronel conduziu-me ao interior. Apoiados no chão do tubo, cujo lado estava
temporariamente aberto para a verdadeira sala de espera pública, havia vários vagões,
elegantes recintos de passageiros em forma de charuto, do melhor aço Bessemer,
cada um em seu invólucro de guta-percha, que correspondia exatamente ao diâmetro
do tubo. Os passageiros ocuparam os seus lugares.
O vagão estava
brilhantemente iluminado e equipado com sofás e cadeiras luxuosamente
estofados.
— Vamos a um
pouco mais de 1.720 milhas por hora — disse o Coronel. — Os nossos foles podem criar e manter uma
corrente de ar suficientemente poderosa para mover um trem 3.500 milhas — de Boston
a Liverpool, conforme nossa rota —com quase a velocidade de uma bala de canhão.
Continuamos a conversar.
O coronel disse-me que estávamos a meio caminho de Liverpool. Conversamos mais
e ele me explicou que o trem estava em comunicação elétrica com Liverpool. No
momento certo, uma corrente de ar contrária seria dirigida por Liverpool para
nos abrandar à medida que nos aproximássemos.
Passado algum
tempo, detectei uma espécie de assovio abafado. O Coronel Pierce levantou-se.
—Vamos — disse.
— Liverpool!
— Ha, ha! — eu
ri. — Você quase me fez acreditar que tínhamos saído de Boston.
O coronel
franziu o cenho e conduziu-me ao elevador. Quando chegamos ao ar livre, não
pude confundir o que nos rodeava. Era Liverpool.
— Um trem para
Boston parte dentro de 20 minutos — disse o Coronel. — Você ainda pode retornar a tempo para o
almoço.
Este conto foi publicado originariamente, em português e espanhol, na revista Relatos Fantásticos. Para acessá-la, clique AQUI.
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