UMA VISITA SOBRENATURAL - Narrativa Clássica Verídica Sobrenatrual - S. R. Wilmot e W. B. H.
UMA
VISITA SOBRENATURAL
(Séc.
XIX)
Em
3 de outubro de 1863, parti de Liverpool para Nova York, no vapor City of
Limerick, da linha Inman, sob o comando do capitão Jones.
Na
noite do segundo dia de viagem, pouco depois de deixar Kinsale Head, teve
início uma forte tempestade, que durou nove dias. Durante este tempo, não vimos
o Sol, as estrelas ou qualquer outra embarcação; os baluartes da proa foram
arrastados, uma das âncoras soltou-se das amarras e causou danos consideráveis
antes de ser fixada, e várias velas de tempestade robustas, apesar de bem
amarradas, foram arrastadas e as retrancas partidas.
Na
noite que se seguiu ao oitavo dia de mau tempo, a tempestade abrandou um pouco
e, pela primeira vez desde que deixei o porto, tive um sono reparador.
Quando
amanhecia, sonhei que via a minha mulher, que havia partido aos Estados Unidos,
chegando, de camisola, à porta do meu camarote. Tive a impressão de que ela
notara que eu não era o único ocupante do quarto; assim, depois de uma breve
hesitação, avançou até onde eu estava, abaixou-se e beijou-me. Depois de me
acariciar suavemente por alguns instantes, retirou-se calmamente.
Ao
acordar, fiquei surpreso ao ver o meu companheiro de viagem — cujo beliche
ficava acima do meu, mas não diretamente, devido ao fato de o nosso quarto
estar na popa do navio — apoiado no cotovelo e olhando fixamente para mim.
—
Tens de ser um belo rapaz — disse ele por fim —, para que uma dama venha
visitá-lo assim.
Eu
o pressionei por uma explicação, que ele inicialmente se recusou a dar, mas
acabou por contar-me o que vira, quando estava bem acordado, deitado no seu
beliche. Correspondia exatamente ao meu sonho.
Esse
cavalheiro era William J. Tait, e fora meu companheiro de quarto na viagem de
ida, em julho anterior, no vapor Olympus da Cunard; ele era natural de
Inglaterra e filho de um clérigo da Igreja Estabelecida. Viveu durante alguns
anos em Cleveland, no Estado de Ohio, onde ocupou o cargo de bibliotecário da
Biblioteca Associada. Naquela altura,
tinha ele, talvez, cinquenta anos de idade e, ademais, não era o seu costume
fazer brincadeiras tolas; ao contrário, era um homem calmo e muito religioso,
cujo testemunho sobre qualquer assunto podia ser tomado sem hesitação.
Pareceu-me
tão estranho aquele incidente que eu o interroguei sobre o fato, em três
ocasiões distintas, a última das quais pouco antes de chegarmos ao porto. O Sr. Tait repetiu-me o mesmo relato do que
havia testemunhado. Quando chegamos em Nova York, nós nos separamos e eu nunca
mais o vi, embora saiba que ele morreu há alguns anos em Cleveland.
No
dia seguinte ao desembarque, apanhei um trem para Watertown, Connecticut, onde
os meus filhos e a minha mulher visitavam os pais dela.
Assim
que estávamos a sós, a sua quase primeira pergunta foi a seguinte:
—
Recebeste a minha visita na terça-feira da semana passada?
—
Uma visita tua? — disse eu. —Estávamos a mais de mil milhas no mar.
—
Eu sei — respondeu ela —, mas tenho a impressão de que o visitei.
— Isto seria impossível — disse eu. — Diz-me o que te leva a pensar assim.
A
minha mulher contou-me então que, em razão da severidade do tempo e da notícia
da perda do África — que zarpou para Boston no mesmo dia em que deixei
Liverpool com destino a Nova York, e que desembarcara de Cape Race —, havia
ficado extremamente preocupada comigo. Na noite anterior —a mesma noite em que,
como já disse, a tempestade tinha começado a abrandar —, ficara ela acordada
durante muito tempo, pensando em mim e, por volta das quatro horas da manhã,
pareceu-lhe que tinha saído para me procurar.
Cruzando
o mar amplo e tempestuoso, finalmente chegou a um navio a vapor baixo e negro,
a cujo costado subiu. Descendo, depois, para a cabine, atravessou-a até a popa,
chegando, finalmente, ao meu camarote.
—
Diz-me — disse ela — se havia, em teu navio, camarotes como aquele que eu vi,
no qual o beliche de cima recua-se em relação ao de baixo. Havia um homem no beliche superior, olhando
para mim. Por instantes, tive medo de entrar, mas depressa me aproximei de teu beliche,
abaixei-me, eu te beijei e te abracei; depois, fui-me embora.
A
descrição que a minha mulher fez do navio a vapor estava correta em todos os
aspectos, embora ela nunca o tivesse visto.
Fonte: Isaac K. Funk
(1839 - 1912), em “The Widow’s Mite and Other Psychic Phenomena”, 3ª. Edição,
1911, Funk & Wagalls, Londres.
Imagem: PS/Copilot.
amigo, vou ler hoje à noite, este conto. As ilustrações do conto estão realmente fantásticas! Que loucura essas IAs, irmão ! O Copilot é poderoso!
ResponderExcluiramigo Paulo, isso é uma viagem astral que a personagem fez! Que loucura, cara! Paaaa ! Muito bom !
ResponderExcluirCreio que sim, amigo. E não apenas se fez presente, como se fez perceber por mais de uma pessoa, algo muito raro na literatura especializada.
ExcluirIncrível este relato. Ele é esotérico misturado com terror. A vida física, aqui na Terra, de nós pobres seres humanos, trancafiados neste sarcófago ambulante de carne, sangue e ossos, o corpo físico, oh! para o Espírito é uma verdadeira penitenciária essa vida, com saidinhas de Natal esporádicas rss rss...Agora, nosso Espírito é muito mais, nosso Espírito é nobre, mas por que será que Ele se perdeu no Mundo da Dor e da Crucificação, na vida física? Incrível, loucura?...E mistério!
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