A MORTE ATROZ DA SENHORA DE LAMBALLE - Narrativa Clássica de Horror - Paul Fassy
A MORTE ATROZ DA SENHORA DE LAMBALLE
Paul Fassy
(1833 – 18…?).
Tradução de Paulo Soriano
Eram dez horas da manhã quando dois homens armados entraram bruscamente na cela da Sra. de Lamballe, dando-lhe a ordem de que se preparasse para partir à Abadia.
A infeliz resiste. Recebera o aviso de não sair de sua prisão.
Truchon, um dos agentes — provavelmente enviado por Manuel — insiste e esclarece à princesa que ela deve obedecer àquela ordem; que a sua vida depende disso.
Por um momento, ele se retira ao patamar, permitindo que a mulher — cujo pudor, pelo menos, ele respeita — levante-se do catre. Prontamente retorna e a obriga — ainda meio vestida — a descer ao terrível portão que dá acesso ao tribunal.
Hébert e Lhullier estavam presentes.
Era preciso uma humilhação daquelas para pôr em julgamento uma criatura inofensiva!
Assim que chegou, a infeliz desmaiou!
Comovidos, rodearam-na e, quando ela recobrou os sentidos, Hébert a submeteu ao seguinte interrogatório, que foi piedosamente registrado pela família, a partir da narrativa de uma testemunha ocular:
— Quem és tu?
— Marie-Louise, princesa de Saboia.
— Sua ocupação?
— Superintendente da casa da rainha.
— Tens conhecimento dos complôs da Corte em 10 de agosto?
— Não sei se houve complôs no dia 10 de agosto. Não tive conhecimento disto.
— Jura, então — gritou o presidente, que talvez quisesse salvá-la —, jura então, pela liberdade, pela igualdade e pelo ódio ao Rei, à Rainha e à realeza?
— Facilmente juro — disse a princesa — pelas duas primeiras; mas não posso jurar o ódio pelos últimos, já que não é o que pulsa em meu coração.
Aqui, um assistente sussurrou-lhe:
— Jure. Se não o fizer, estará morta!
A princesa não respondeu. Ergueu as mãos aos olhos e deu um passo em direção ao portão.
O juiz, então, disse:
— Que a senhora seja libertada!
Madame de Lamballe dirige-se ao portão. Quando este é aberto, o seu olhar só encontra o de seus algozes!
Inicia-se, então, múltiplas cenas de carnificina, que o pudor se recusa a descrever.
Grison, açougueiro, decapita a princesa.
Charlat rasga as suas entranhas e faz das vísceras um cinto. Arranca-lhe o coração e o leva aos lábios.
A cabeça, adornada com seus admiráveis cabelos, é enrolada, empoada e colocada na ponta de uma lança. As faces enrubescem-se, pois à maquiagem ajunta-se o sangue. E o corpo mutilado, tisnado pelos toques e pelos olhares, é amarrado com uma corda pelos pulsos e arrastado pelas ruas, entre sangue, córregos e cadáveres…
A primeira visita é à Abadia de Saint-Antoine. Ali, a pobre princesa passara os primeiros dias de sua viuvez; lá, conservara simpatias e uma amiga venerável, a Sra. de Beauvau.
Uma parada é feita no cabaré.
Puseram-lhe a cabeça sobre uma mesa, entre duas garrafas. Os assassinos beberam ironicamente pela saúde da Sra. de Lamballe e da rainha, a quem prometeram mandar juntar-se à amiga o mais rápido possível. As mais atrozes calúnias circularam sobre a moral daquelas infelizes mulheres. Redobram-se os ultrajes. E a infame procissão, empanturrada de vinho e comida, tudo à custa do Conselho Geral da Comuna — que, mais tarde, deverá pagar a conta de 850 libras — parte novamente e dirige-se ao Templo…
Fonte: “Louise de Savoie-Carignan – Princese de Lamballe et la Prision de la Force”, Paul Fassy, Librarie du Petit Jounal, Paris, 1868.
Ilustração: Léon-Maxime Faivre (1856 – 1941).
Comentários
Postar um comentário