AS LÂMIAS - Narrativa Clássica Sobrenatural - Gervase of Tilbury
AS LÂMIAS
Gervase of Tilbury
(c. 1140 – c. 1220)
As lâmias são uma desgraça às mulheres e aos homens, pois à noite cruzam as regiões com voos rápidos, entram nas casas, oprimem os adormecidos, infligem sonhos dolorosos, com os quais as gentes acordam gritando.
Mas elas também comem, acendem lâmpadas, dissolvem os ossos dos homens e, às vezes, desarrumam as coisas, bebem sangue humano e mudam as crianças de um lugar para outro.
Pois ouvimos de um homem nobre — um cristão muito devoto, Humberto, arcebispo de Arelate, nosso parente, um santo e comprovado progenitor da fé e de uma vida mais perfeita — que, quando ainda criancinha zelosamente protegida pelos pais (pois foi criado por uma mãe muito cristã), foi posto à noite em seu berço e enrolado diante da cama deles. Mas, por volta da meia-noite, desperto por um barulho noturno, ouviram-no chorar.
A mãe, subitamente acordada, querendo entreter a criança nos braços, levou a mão ao berço, mas não a encontrou.
Pensando silenciosamente sobre o evento, temerosa de falar, mas sem que suportasse longos silêncios, a mãe, com a vela na mão, seguiu à procura do menino e a encontrou rolando, sem chorar, ainda enfaixada, e sorrindo para a vela que a mãe conduzia, sobre a poça de água que ela havia derramado quando lavara os pés.
Quem estivera ali?
Ela contou o que acontecera à babá e ao marido. Todos consideraram que o ocorrido era fruto de um fantasma noturno. Por arte de tais lâmias, muitos descobrem, pela manhã, os filhos do lado de fora de suas casas: haviam sido transposto ainda em seus berços, para a rua, embora as portas das casas estivessem fechadas.
Versão em português de Paulo Soriano.
Ilustração: Luis Ricardo Falero (1851 – 1896).
Comentários
Postar um comentário