KM 37 - Conto de Terror - Giulianno Liberalli


 KM 37

Giulianno Liberalli



Arnaldo parou o carro de manutenção no km 37 da rodovia, passava pouco das 23 horas e toda a região ao redor parecia um imenso manto negro cortado pelas luzes dos postes ao longo da estrada. A única coisa que se via eram os campos ao redor, não havia casas próximas e mal dava para visualizar as luzes das propriedades mais próximas.

A noite estava clara, sem nuvens e a lua cheia traçava a sua rota costumeira deixando a região com um ar mais espectral ainda. Arnaldo preparou seu equipamento e escalou o poste onde estava a câmera que deveria ser trocada, pelo rádio conversava com Jonas da central técnica.

Não sei como aceitei esse trabalho…

Para de chorar, Arnaldo, na época você praticamente implorou.

Eu estava todo endividado.

E agora trabalha. Mais ação e menos enrolação, daí você termina e volta para continuarmos o jogo.

Caramba, Jonas. Só pensa nisso né? Tá legal, já subi e vou ativar a câmera nova. Vê se vai aparecer aí. Agora… Foi.

Ok. Apareceu aqui, Arnaldo. Nítida, nítida. Vou girar um pouco ela para ver o mecanismo de rotação.

Manda ver. Opa… Que é isso?

O que foi?

Sei lá. Na estrada, parece que tem alguém andando.

Oi? Em qual lado?

Vira para a minha esquerda.

A câmera girou, da central Jonas viu no monitor que realmente uma figura humana estava andando pela estrada deserta. Passava pouco de 23:30 h. Deu um zoom para tentar visualizar melhor. Do alto do poste Arnaldo olhava na mesma direção, curioso e assustado.

Jonas? Está vendo?

Sim, Arnaldo, estou. É uma moça, ainda não deu para definir se ela está com uma roupa transparente ou se está nua.

Nua? Daqui parece que ela está com um vestido bege ou algo assim.

Muito colado no corpo, parece ser bem gata. Que esquisito, meu irmão. Não tem nenhum carro por perto?

Arnaldo olhou ao redor e não viu mais nenhum veículo além do dele logo abaixo.

Não, cara, não tem. Aí, não estou gostando disso. Já que a câmera está funcionando eu vou descer e me mandar. Vai que essa mulher não está sozinha.

Tudo bem, se prepara que eu vigio o movimento dela. Qualquer coisa larga a mochila, desce e vai.

Arnaldo começou a guardar seu equipamento na mochila e se preparou para descer quando Jonas tornou a chamar.

Arnaldo? Cara, ela foi para o lado de fora da estrada e sumiu. Que merda… Esquisito demais, desce e se manda. Anda logo.

Ok, ok. Não me deixa mais nervoso do que já estou, Jonas. Um vacilo e eu caio daqui.

Tá bom.

Epa… Epa…

Arnaldo? O que foi?

Ouvi um barulho esquisito ali embaixo… Ai, porra… Cara, ela apareceu de novo.

Onde?

Alguns metros do carro. Está vendo?

Jonas moveu a câmera e focalizou a estranha moça, parada no meio da estrada e olhando fixamente na direção de Arnaldo. Era alta, cabelos longos balançando com o vento noturno. Ela sorria de um modo estranho, sem alegria, o corpo esguio envolto no estranho tecido bege.




Cacete, cacete. Arnaldo, deve ser uma maluca da estrada, pode ser perigosa. Desce e entra na porra do carro.

Estou indo… Eita! O que é que ela está fazendo?

A estranha moça abriu os braços revelando seu corpo nu, o vestido bege que a envolvia revelaram-se imensas asas de couro que brilharam na luz prateada do luar.

Meu Deus do céu... Meu Deus...

Arnaldo!!

Do monitor da central Jonas só pôde ver o rápido movimento que a criatura fez erguendo-se do chão indo em direção à câmera, em seguida a imagem saiu do ar, do rádio ele escutou gritos e depois o silêncio.

Logo depois uma equipe de resgate foi ao local acompanhada por Jonas. Chegando no km 37 encontraram o carro de Arnaldo abandonado, seu equipamento ainda estava pendurado no poste, mais adiante o capacete do técnico, o rádio e o seu crachá jaziam ensanguentados na estrada.

Nunca mais houve indícios de Arnaldo. Meses depois a câmera do km 37 tornou a apresentar problemas, porém não conseguiram nenhum técnico que quisesse fazer o reparo no turno da noite.


Imagens: PS/Perchance.


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