O FANTASMA DE MARIE ANSON - Narrativa Clássica Sobrenatural - Amélie Bosquet
O FANTASMA DE MARIE ANSON
Amélie Bosquet
(1815 – 1904)
Tradução de Paulo Soriano
Ives de Cariel, senhor de Bellême, construiu o castelo de Alençon no século XI. Os seus sucessores ampliaram a fortaleza, que foi dotada de uma torre de menagem por Henrique I, rei da Inglaterra e duque da Normandia. Começou a ser demolido no reinado de Henrique IV e, a partir de então, os trabalhos de demolição foram retomados em distintas ocasiões. Desta antiga construção, só restam três torres. Uma delas, dado o seu formato, leva o nome de Torre Coroada, e é famosa pela tradição que iremos relatar.
Diz-se que a Torre Coroada já foi ocupada por uma senhora — malgrado jamais mencionada pelas crônicas locais —, chamada Marie Anson.
Era ela casada com um daqueles déspotas ciumentos da Idade Média, para quem o carrasco era um digno intermediário do amor, e o mais adequado, segundo eles, para reforçar uma constância nem sempre escorreita, e para garantir uma fidelidade que inspirava desconfiança.
Comprometida em sua honra por falsas aparências, a infeliz castelã não podia esperar perdão. Ela foi condenada, pelo brutal marido, a ser amarrada ao rabo de um cavalo indomável. O animal, abandonado ao seu ardor selvagem, arrastou a infeliz por todos os meandros do parque de Alençon, e a ordem de suspensão da tortura só foi dada no momento em que a vítima — fraturada, dilacerada, ensanguentada — estava prestes a exalar o último suspiro.
Então, não satisfeito por ter o ódio aplacado, o marido, indignado, quis justificar a sua vingança, arrancando da mulher a confissão da sua culpa.
Apresentou-se diante da esposa moribunda e, enganando-a com um disfarce sacrílego, exigiu sua última confissão, como ministro do Senhor. Mas esse ardil não surtiu o efeito esperado: até o último momento, a vítima não parou de protestar pela sua inocência.
Não podendo mais se recusar a reconhecer a verdade, o bárbaro marido sentiu toda a enormidade da sua injustiça e todo o horror da sua crueldade. Então, entregou-se a um desespero incomensurável e, nesta alma feroz, o remorso criou torturas capazes, talvez, de expiar o crime cometido.
Todavia, desde que morreu, Marie Anson, também chamada de Senhora do Parque, não permanece tranquila em seu túmulo. Costuma ela fazer aparições vingativas, que perpetuam a reputação odiosa ligada à memória de seu marido. À meia-noite, é possível vislumbrar o fantasma branco da castelã que, tendo dado a volta no topo da fortaleza, solta um grito de dor e, então, desaparece.
Excerto de “La Normandie Romanesque et Merveilleuse”, J. Techener Editor, Ruão,1845.
Imagens: PS/Copilot.
Barão, muito bom esse !
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