EXÉRCITOS ESPECTRAIS - Narrativa Clássica Verídica Sobrenatural - Catherine Crowe


 EXÉRCITOS ESPECTRAIS

Catherine Crowe

(1803 – 1876)

Tradução de Paulo Soriano



Não podemos considerar como aparições os numerosos exemplos de exércitos vistos no ar; e, no entanto, esses fenômenos estão tão bem estabelecidos que foram explicados como reflexos atmosféricos de exércitos sitos em outros lugares, em movimento real. Mas como devemos explicar as visões de tropas que não são observadas na atmosfera, senão no próprio terreno onde os próprios videntes se encontram, o que foi o caso, notadamente, daquelas que foram flagradas no parque Havarah, perto de Ripley, no ano de 1812? Aqueles soldados vestiam uniforme branco e, no centro, havia um personagem de uniforme escarlate.

Tendo realizado diversas evoluções, a tropa se pôs a marchar, em perfeita ordem, até o cume de uma colina, passando pelos os espectadores a uma distância de cerca de cem jardas. Os soldados somavam várias centenas e marchavam em coluna com quatro elementos, por cerca de trinta acres; e, mal tinham passado, outro corpo militar, muito mais numeroso, mas vestido com roupas escuras, apresentou-se e marchou atrás dos primeiros, sem qualquer hostilidade aparente. Tendo ambos os grupos chegado ao topo da colina, e ali formado o que os espectadores chamavam de L, desapareceram no outro lado e não foram mais vistos. Todavia, naquele instante, levantou-se uma volumosa fumaça, como a descarga de um parque de artilharia, e tão densa que os homens não puderam, durante dois ou três minutos, vislumbrar o próprio gado. Apressaram-se em voltar para casa e contar o que tinham visto. O impacto daquela experiência fora de tal intensidade que eles jamais puderam tocar no assunto isentos de emoção.

Um deles era um fazendeiro chamado Jackson, de 45 anos; o outro, um rapazinho de quinze anos, chamado Turner. Na ocasião, eles estavam pastoreando o gado no prado. A cena durou aproximadamente quinze minutos, período em que eles se conservavam bastante seguros de si e capazes de comentar reciprocamente o que viam. Ambos eram pessoas de excelente caráter e veracidade incontestável, de tal modo que ninguém que os conhecia duvidava que eles realmente tivessem visto o que descreveram ou, mesmo, que acreditavam no que vislumbraram. Deve-se observar, também, que ali o solo não é pantanoso e nem está sujeito a quaisquer exalações.

Por volta do ano de 1750, um exército visionário, com as mesmas características, foi visto nas vizinhanças de Inverness por um respeitável fazendeiro de Glenary e pelo seu filho. O número de soldados era muito grande e eles não tinham a menor dúvida de que se tratava de formas substanciais, de carne e osso. Contaram pelo menos dezesseis pares de colunas e dispuseram de muito tempo para observar cada pormenor. Marchavam, nas primeiras filas, sete homens, lado a lado, e os renques eram acompanhados por um bom número de mulheres e crianças, que levavam panelas e outros utensílios de cozinha. Os homens vestiam-se de vermelho e suas armas brilhavam ao Sol. Havia, entre eles, um animal — um cervo ou um cavalo, eles não conseguiam distinguir qual de fato era —, contra o qual avançavam furiosamente com suas baionetas.

O mais jovem dos dois homens observou ao outro que, de vez em quando, as fileiras da retaguarda eram obrigadas a correr para ultrapassar a vanguarda; e o mais velho, que tinha sido soldado, observou que sempre fora assim e recomendou-lhe que, se algum dia viesse a servir, buscasse marchar na frente. Havia apenas um oficial montado: estava sobre um cavalo dragão cinza, usava um chapéu com rendas douradas e envergava uma capa de hussardos azul, com mangas largas e abertas, forradas de vermelho. Os dois espectadores observaram-no tão particularmente que disseram, depois, que o reconheceriam em qualquer lugar. Eles receavam ser maltratados ou forçados a acompanhar as tropas, que concluíram terem vindo da Irlanda e desembarcados em Kyntyre; e, enquanto escalavam um dique para sair-lhes do caminho, tudo desapareceu.


Fonte: The Night-Side of Nature, 1850.


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