HIPÁCIA TRUCIDADA - Narrativa Verídica de Horror - Sócrates Escolástico

HIPÁCIA TRUCIDADA

Sócrates Escolástico

(c.380 – c.440)


Havia uma mulher em Alexandria chamada Hipácia1, filha do filósofo Téon, cujas imensas realizações na literatura e na ciência em muito superavam as dos filósofos de seu tempo.

Fiel à escola de Platão e Plotino, explicava os princípios da filosofia aos seus ouvintes, muitos dos quais vinham de longe para receber as suas lições.

Devido à sua segurança e à sua facilidade no ensino, adquiridas em razão do cultivo de seu intelecto, não raramente aparecia em público na presença dos magistrados.

Também não se sentia envergonhada quando comparecia a uma assembleia masculina, eis que os homens, devido à sua extraordinária dignidade e virtude, admiravam-na mais ainda.

No entanto, até ela foi vítima do ciúme político que então prevalecia.

Como ela, frequentemente, encontrava-se com Orestes2, propalou-se, caluniosamente, entre os cristãos, que era ela quem o impedia de reconciliar-se com o bispo.

Alguns cristãos — cujo líder era um leitor chamado Pedro —, impelidos, aliás, por um zelo feroz e fanático, cercaram-na quando ela voltava para casa e, arrastando-a de sua carruagem, levaram-na para a igreja chamada Cesário, onde a despiram completamente e, depois, assassinaram-na a tijoladas. Depois de desmembrarem o seu corpo, reduzindo-o a pedaços, levaram-lhe os mutilados despojos a um lugar chamado Cinânon, e lá os queimaram.



Este caso não trouxe o menor opróbrio a Cirilo3 ou à congregação da igreja de Alexandria. E, certamente, nada pode estar mais distante do espírito do cristianismo do que a permissão de pactos, lutas e massacres de tal espécie.

Tal fato aconteceu no mês de março, durante a Quaresma, no quarto ano do episcopado de Cirilo, sob o décimo consulado de Honório e o sexto de Teodósio.


Versão em Português de Paulo Soriano, a partir da tradução, ao inglês, de Andrew Constantinides Zenos (1856 – 1942), 1890.

Imagem da portada: William Mitchell (1854–1903).


Notas:

1Hipácia, filósofa, astrônoma e matemática do Egito Romano, nasceu entre os anos 350 e 370 e faleceu em 415.

2Orestes, êmulo de Cirilo, era o governador romano do Egito ao tempo do assassínio de Hipácia. Afirma-se que o conflito entre ambos foi uma das causas da morte da filósofa.

3São Cirilo de Alexandria (c. 375 ou 378 – 444), teólogo, foi Patriarca de Alexandria.

 

Comentários

  1. Puta que pariu, povo bárbaro do cacete...
    Espero que estejam todos sofrendo desgraçadamente no inferno.

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