A DEVORADORA DE CADÁVERES - Conto Clássico de Terror - Sabine Baring-Gold
A DEVORADORA DE CADÁVERES
Sabine Baring-Gold
Tradução de Paulo Soriano
No início do século XV, vivia em Bagdá um velho comerciante, cujos negócios o levaram à riqueza, e que tinha um filho único, a quem era ternamente apegado. Resolveu casar o rapaz com a filha de outro comerciante, uma garota de considerável fortuna, mas sem nenhuma atração pessoal. Abul-Hassan, o filho do comerciante, ao ver o retrato da moça, pediu ao pai que adiasse o casamento, pois precisava pensar a respeito. No entanto, de fazer isso, ele se apaixonou por outra garota, a filha de um sábio, e não deu paz ao pai até que ele consentisse no casamento com a dama de suas afeições. O velho se manteve firme o máximo que pôde, mas, ao descobrir que seu filho estava decidido a desposar a bela Nadilla — e estava, igualmente, decidido na rejeição à moça rica e despossuída de encantos —, ele fez o que a maioria dos pais, nessas circunstâncias, são obrigados a fazer: concordou.
O casamento ocorreu com grande pompa e cerimônia. Uma feliz lua de mel seguiu-se às bodas, consumando um casamento que poderia ter sido mais feliz se não fosse uma pequena circunstância que levou a consequências muito sérias.
Com efeito, Abul-Hassan percebeu que a sua esposa, assim que julgou que o marido adormecera, abandonou o leito nupcial e não retornou até um pouco antes do amanhecer.
Cheio de curiosidade, Hassan fingiu dormir noutra noite. Viu a esposa se levantar e sair do quarto como o fizera antes. O jovem marido a seguiu cautelosamente, e a viu entrar num cemitério. Pelos raios dispersos de luar, ele a viu penetrar num túmulo. E a seguiu.
No interior do sepulcro, a cena era terrível. Um grupo de ghouls1 estava reunido em torno dos despojos dos sepulcros que tinham violado, e se banqueteavam com a carne dos corpos enterrados há muito tempo. Sua própria esposa — que, a propósito, nunca tocou na ceia em casa — desempenhou um papel nada desprezível naquele banquete hediondo.
Assim que conseguiu escapar em segurança, Abul-Hassan voltou para a cama.
O jovem marido nada disse à esposa a noite seguinte, quando a ceia foi servida. A moça, contudo, se recusou a comer. Abul-Hassan insistiu em que ela participasse da ceia. Quando ela se recusou positivamente, o marido exclamou com raiva:
—Sim! Você guarda o seu apetite para sua festa com os ghouls!
Nadilla ficou em silêncio. Empalideceu e tremeu, e, sem nada dizer, refugiou-se na cama. À meia-noite, ela se levantou, caiu sobre o marido com suas unhas e dentes, rasgou-lhe a garganta e, tendo aberto uma veia, tentou sugar seu sangue. Mas Abul-Hassan, pondo-se de pé, jogou-a no chão e, com um golpe, a matou. Ela foi enterrada no dia seguinte.
Três dias depois, à meia-noite, ela reapareceu, atacou o marido novamente e tentou sugar seu sangue novamente. Abul-Hassan fugiu daquele cadáver e, no dia seguinte, abriu seu túmulo: queimou os despojos até virarem cinzas e as lançou ao rio Tigre.
Fonte: The Book of Were-Wolfes, Smith, Elder & Co., Londres, 1865.
Nota:
1Ghoul: ente demoníaco, necrófago, da mitologia árabe.
Muito obrigado pelo texto
ResponderExcluirNão há de quê! Grato por sua presença em nosso "site"!
ExcluirBarão amigo, você é um gênio com esse vosso site sensacional! Muito bom! Estou lendo agora à noite, já estou de férias mas continuo lendo, escrevendo, pesquisando...eu gosto disto. Adoro! É minha cachaça, sem dúvida. Ou melhor, meu vinho ou cerveja rss rss rss
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