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Mostrando postagens de setembro, 2024

VISÃO DE ALÉM-TÚMULO - Conto Clássico Fúnebre - Amédée Gouet

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VISÃO DE ALÉM-TÚMULO Amédée Gouet (181? – 1869) Tradução de autor desconhecido do séc. XIX Certa noite, entrou no meu quarto um amigo que morrera há seis meses. Eu assistira eu ao seu enterro. Tinha-lhe lançado água benta sobre cova, ouvira o caixão do pinho ressoar com as lúgubres pás de terra. — Boas noites — disse-me ele, satisfeito como um Roger-B o ntemps 1 . — Como passas? — Bem… E tu? — respondi, procurando resistir ao abalo de surpresa que esta aparição me causava. — Melhor, multo melhor, obrigado — tornou o meu amigo. — Desde que faleci, já não tenho as fúnebres ideias que me tornavam insuportável a vida. O meu cérebro aclarou-se e, por consequência, tornou-se melhor o estômago, e o peito excelente, como um verdadeiro saxofone. É mesmo uma maravilha! Não é sem razão que dizem que a morte cura todos os males. Desatou a rir e as suas estrondosas gargalhadas fizeram tremer as vidraças, como para atestarem a poderosa sonoridade do instrumento que lhe fazia as vezes d...

A SOMBRA DE MINHA MÃE - Conto Clássico de Terror - Moacir Deabreu

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A SOMBRA DE MINHA MÃE Moacir Deabreu (Início do séc. XX) Vem de minha infância, de muito longe… Dezenove anos já se foram, dia a dia, daquela hora em que a sombra de minha mãe me apareceu nas sombras do portal da cela do infinito corredor deste velho convento da Bretanha. Sinto que a minha hora está perto, sinto com todos os sentidos que a Morte anda rondando o ritmo do meu coração, anda aqui dentro e lá fora cantando o fúnebre responso de minha vida, numa voz que não ouço, com uma boca que não vejo e que sinto que anda perto de mim. Estou só no meu quarto e na minha casa vasta e lúgubre, antigo convento de treze séculos, extinto há perto de cem anos, onde não ninguém e nada se ouve além da voz do pêndulo do alto relógio do salão amarelo e do cicio dos fantasmas errantes pelos corredores sem termo. Escrevo estas últimas páginas (sei que vão ser as últimas traçadas por minha mão), escrevo-as para que elas revelem, quando eu não for mais deste mundo, o segredo da angústia que pôs...