O ADIANTADO DAS SETE CIDADES - Conto Clássico Fantástico - Washington Irving

O ADIANTADO DAS SETE CIDADES

Washington Irving

(1783 – 1859)

Tradução de Henrique Velloso de Oliveira

(1804 – 1867)


No início do século XV, no tempo em que o príncipe Henrique de Portugal1, de gloriosa memória, prosseguia na série de explorações ao longo da costa da África, e quando o mundo inteiro se achava na maior expectativa pelos fabulosos relatório de países cheios de ouro, descobertos no meio de novas e maravilhosas ilhas descobertas no grande oceano, chegou a Lisboa um velho piloto, meio selvagem, que vinha diretamente de mares desconhecidos e de que contava coisas verdadeiramente incríveis.

Ele tinha sido impelido por temporais, não se sabe dizer para onde, e tinha descoberto uma ilha longínqua, de que nenhum mapa tinha precedentemente revelado a existência. Tinha a ela abordado e a encontrara povoada de cristãos e ornada de magníficas cidades.

Os habitantes dessa ilha — que, segundo ele dizia, nunca antes dessa tinham sido visitados por navios — se reuniram em grande número na praia para vê-lo desembarcar e o contemplavam com uma surpresa misturada com terror. Haviam-lhe depois contado que provinham de um partido de cristãos que haviam fugido da Espanha na época em que fora invadida por mouros. Mostravam muita curiosidade por saber de notícias de sua antiga pátria e ouviram com maior sentimento que o reino de Granada se achava em poder dos muçulmanos.

Tinham querido levar o velho navegante à igreja para o converterem à sua religião ortodoxa, mas, ou fosse ausência de séria devoção, ou diminuta confiança na sinceridade das convicções daquela gente, havia declinado daquele convite e preferiu voltar para bordo do seu navio.

A punição desse proceder não se tinha demorado. Um furioso temporal havia-se levantado, o qual, arrebentando as amarras, o tinha arremessado ao largo. Ainda fora por vários dias o ludíbrio das ondas e nunca mais se viram vestígios da ilha misteriosa.

Este estranho relatório causou a mais maravilhosa sensação em toda cidade de Lisboa e seus arrabaldes. Os que se presavam de instruídos na ciência histórica conservam reminiscências de ter lido em uma antiga crônica que, na época da conquista da Espanha, quando a santa bandeira da cruz tinha sido abatida ao pó para dar lugar ao crescente, e quando as igrejas cristãs tinham sido convertidas em mesquitas muçulmanas, sete bispo tinham posto à testa de sete partidos de exilados e haviam deixado a península, embarcando-se em procura de alguma ilha perdida no oceano, ou de outra longínqua terra em que pudessem achar ou fundar sete cidades cristãs, onde lhes fosse permitido praticar, sem embaraço, o culto cristão, cujo exercício se achava proscrito pelos dominadores da Espanha.

A sorte desses santos emigrados tinha ficado, até então, num profundo mistério e a própria lembrança deles se tinha pouco a pouco desvanecido da memória.

A narrativa do velho piloto veio de novo a excitar a atenção pública, tanto tempo adormecida, e a ninguém ficou a menor dúvida de que aquela ilha acidentalmente descoberta não fosse na realidade o lugar de refúgio para onde esses piedosos bispos tinham sido conduzidos pela Providência e onde tinham estabelecido as suas ovelhas vagabundas.

Ora, este velho mundo carece continuamente de novos excitantes e, com um lhano entusiasmo, sempre cabe na esparrela de quiméricas empresas. A ilha das Sete Cidades provocou no mais alto grau o interesse dos cristãos espanhóis e lhes excitou o zelo a tal ponto que não tiveram mais que um único pensamento, que continuamente os ocupava e que era achar essa ilha bendita, e reunir esse pequeno núcleo de fiéis à grande corporação cristã. Os velhos descobridores não sonhavam com maior empenho em achar a famosa cidade de Timboctu2 ou em encontrar a passagem para a Índia pelo Norte.

Mas ninguém se deixou dominar por essa ideia com tanto zelo e entusiasmo como D. Fernando de Ulmo, jovem cavalheiro de alta nobreza, que ocupava uma elevada posição na corte de Lisboa. Ele era de um temperamento sanguíneo, de porte de espírito romanesco, e não sonhava senão com conquistas e aventuras. Tinha chegado recentemente do palácio de seus pais e se havia precipitado de corpo e alma no turbilhão das festas e prazeres, de maneira que o desgosto e o fastio tinham começado a substituir a curiosidade e o desejo quando este novo objeto de excitação se apresentou ao seu espírito inquieto e aventureiro.

Ele acolheu essa ideia com a avidez desordenada e irrefletida com que tratava todas as coisas e bem depressa a ilha das Sete Cidades se tornou o objeto das suas preocupações de todos os dias, e dos seus sonhos de todas as noites. Chegou, mesmo, a esquecer por esse novo capricho a paixão que sentia por uma jovem formosura, a mais bela das jovens herdeiras daquela cidade, e com quem se achava justo a casar.

Por fim, foi-lhe excitando a tal ponto a imaginação que resolveu equipar, à sua própria expensa, uma flotilha, e partir em busca da ilha misteriosa e santa.

A expedição, além disso, não deveria ser demasiado longa, porque, segundo os cálculos do piloto naufragado, a famosa ilha devia achar-se situada em algum lugar na latitude das Canárias, as quais, nessa época, em que o Novo Mundo ainda não havia sido descoberto, constituíam a extrema fronteira das empresas marítimas.

D. Fernando recorreu ao rei para obter apoio e proteção e, como fosse um dos grandes validos da corte, o rei não hesitou em lhe conceder o patrocínio habitual.

Recebeu, pois, uma comissão de Sua Majestade D. João II3, que o nomeou adiantado4, isto é, governador militar de todas e quaisquer terras que chegasse a descobrir, com a simples condição de que todos os gastos da expedição seriam feito à sua custa, e que só um dízimo dos lucros da descoberta reverteriam ao tesouro de el-rei.

Munido dessa autorização preliminar, D. Fernando meteu mão à obra com a energia entusiástica de um homem que tem em prospecto imortalizar o seu nome e enriquecer para sempre a sua posteridade.

Ele começou por vender, jeira por jeira, o seu patrimônio, que converteu sucessivamente em navios, em munições e aprovisionamentos marítimos de toda espécie. Hipotecou até o palácio de seus antepassados em Lisboa, e o fez sem escrúpulo, porque contava, em substituição, edificar um outro, muito mais magnífico, em uma das sete cidades, de que ia ser o adiantado.

Era, então, a época das quimeras marítimas. Todas as vistas dos aventureiros e especuladores estavam viradas para o oceano, achando assim, desde logo, o projeto de D. Fernando numerosos partidários; e inúmeros aventureiros solicitaram prontamente o favor de participar dos perigos, assim como dos proveitos e honras da sua empresa.

O negociante lançava as contas a um novo mercado para a extração das suas mercadorias, o soldado esperava saquear um pouco e roubar muito uma ou outra dessas sete cidades novas, mas o obeso monge sacudia a torpeza sonolenta do seu claustro para se alistar sob as bandeiras desses exploradores, cujas descobertas podiam consideravelmente aumentar as riquezas eclesiásticas.

Uma única pessoa considerava todos esses vastos projetos com um supremo desdém e uma surda hostilidade. Era D. Ramiro Álvares, pai da bela Serafina, de quem D. Fernando se achava desposado5. Era um desses velhos obstinados e positivos, que estão sempre a ponto de combater todas as ideias novas e poéticas, todas as empresas arriscadas e romanescas. Não tinha fé, ele, na ilha das Sete Cidades. Considerava aquela expedição como uma ridícula e tola filestria, qualificando, mais que tudo, a empresa de seu futuro genro da maneira mais decidida e nos termos mais ásperos, vendo distrair bens sólidos e domínios reais para correr à conquista de domínios e bens imaginários. Ele o chamava, por ironia, de o “Adiantado da Lua”.

Além disso, o velho nunca tinha visto com bons olhos o projetado casamento entre D. Fernando e sua filha, e seu consentimento tinha sido extorquido com grande dificuldade pelos rogos e lágrimas da bela Serafina.

Verdade era que a sua oposição não tivera fundamentos valiosos, nem sérias objeções, pois D. Fernando era incontestavelmente a flor dos cavalheiros portugueses. Ninguém podia rivalizar com ele em graça e destreza, em cavalgadas ou em habilidade e valor6 nos combates de touros. Ninguém fazia mais belos madrigais em louvor da formosura das damas, nem os cantava com voz mais suave, acompanhando-se de guitarra, nem quem, finalmente, manejasse as castanholas ou dançasse o bolero com mais graça e atrativo.

Todas essas admiráveis qualidades e virtudes, se tinham conseguido adquirir-lhe o coração de Serafina, nada valiam aos olhos do desarrazoado autor de seus dias.

O contrato que ligava o jovem a Serafina tinha ameaçado, ao princípio, de pôr invencíveis obstáculos à expedição de D. Fernando, e a descoberta da ilha das Sete Cidades tinha caído em grave compromisso. O embaraço do futuro adiantado era extremo. A sua paixão pela jovem formosura era excessiva e ele não cessava de lhe repetir em prosa e verso que “perdê-la era morrer”; mas, por outro lado, não menos era o empenho que tomava pela sua romanesca empresa.

De que maneira conciliar essas duas paixões que pareciam mutuamente excluir-se e combater-se?

Um arranjo tão simples como satisfatório se ofereceu, enfim, de si mesmo; era desposar primeiro Serafina, devorar à pressa alguns bolinhos da lua de mel e guardar o resto para a volta, depois de descoberta a ilha das Sete Cidades!

Ele deu pressa em comunicar essa triunfante ideia a D. Ramiro, o qual não se mostrou disso tão satisfeito, como o jovem o tinha esperado. Em vez de consentir nisso com empenho, rompeu em arguições e deu ampla saída à tumultuosa torrente de seu ressentimento por muito tempo comprimido.

Ele o arguiu de se deixar iludir por um punhado de vagabundos e desmiolados e arruinar o seu patrimônio em seguimento de projetos absurdos e irrealizáveis.

D. Fernando estava muito entusiasmado com a ideia e tinha nas veias um sangue jovem e por demais ardente para ouvir tranquilamente uma linguagem tão áspera. E, assim, respondeu ao velho num tom que não procurava de modo algum conter-se nos limites do respeito.

O velho retorquiu com maior vivacidade, tratando-o de louco e visionário, e concluiu proibindo-lhe todas as relações com a sua filha até que tivesse dado provas de ter novamente adquirido o completo uso da razão, abandonando a sua empresa insensata.

D. Fernando retirou-se mais encantado do que nunca do seu projeto e pungido ainda mais pela perspectiva de uma pronta volta que o faria gloriosamente triunfar da incredulidade do velhusco.

Nós veremos — dizia ele consigo mesmo —, quando eu voltar carregado de honras e riquezas, quem de nós terá dado mais provas de raciocínio!

No excesso da sua solicitude paternal, D. Ramiro não se limitou a essa execução sumária.

Quem sabe — disse ele — se esse desmiolado não buscará induzir minha filha a uma fuga, a fim de participar do seu trono imaginário e dos esplendores do seu paraíso mitológico? Façamos boa guarda e velemos sobre ela até que a flotilha da Lua tenha deixado as nossas praias, e possa ela nunca mais voltar!

Com essas benévolas palavras ele se dirigiu ao aposento de sua filha e lhe fez um longo discurso, em que tratou de lhe demonstrar o quanto tinha de inconstante e caprichoso o caráter de seu noivo, e depois de ter exposto e vitoriosamente, ao que lhe parecia, o ridículo e a loucura de suas quiméricas empresas, terminou insistindo sobre a necessidade de pôr um termo a todas as relações entre os dois amantes, até que a experiência e o bom senso tivessem curado o noivo desse acesso de aberração mental.

Serafina abaixou a cabeça em sinal de aquiescência filial às ordens de seu pai, o qual, depois de a ter abraçado com ternura e de lhe ter elogiado e agradecido a sua submissão, deixou o aposento, dando sempre uma volta à chave pelo lado de fora, porque, tão bom pai como ele fosse e tamanha como pudesse ser a confiança que depositava na docilidade da sua filha, ainda melhor conceito fazia das virtudes preservativas dos cadeados e ferrolhos.

É verdade que ainda não se tinha escrito que “ferrolhos e grades são frágeis garantias para as damas”.

D. Ramiro, portanto, decidiu-se a confiar-lhes a guarda até que as caravelas partissem, o que, aliás, não deveria ter maior demora.

Sentiria a jovem algum abalo na sua fé e no seu amor pelos esforços da eloquência paterna? É o que a tradição não diz, mas o que ela assegura é que, apenas Serafina ouviu o som da chave na fechadura, sentiu logo chegar-lhe uma súbita e inabalável confiança na existência da ilha das Sete Cidades.

Ele conhecia pouco o caráter feminil, o digno Sr. Ramiro Álvares.

A porta de Serafina estava aferrolhada, mas não assim sua vontade. Uma das janelas do seu quarto abria-se para uma dessas grandes sacadas de pedra, fechadas por grades de ferro que projetam das casas de Portugal e de Espanha como enormes gaiolas. Nessa varanda é que a bela Serafina tinha os seus pássaros e as suas flores, e era onde costumava sentar-se como em um ninho de verdura ao clarão da Lua, acompanhando à guitarra os seus cantos, que causavam inveja aos rouxinóis nas grandes árvores do jardim.

Foi nessa varanda que os dois amantes tiveram as suas entrevistas, apesar dos ferrolhos e fechaduras de D. Ramiro, que não se lembrava o bravo homem que o amor nunca voa melhor do que quando lhe cortam as asas.

Da manhã até a tarde, D. Fernando se ocupava com o preparativo dos seus navios, e, depois da tarde até de manhã, ele vinha amorosamente conversar ao pé da varanda condescendente e discreta.

Enfim, os preparativos chegaram a completar-se. Duas lindas caravelas dormiam ancoradas no Tejo, prontas a dar à vela ao primeiro sinal.

Esse sinal D. Fernando bem se assegurou bem de o fazer demorar. Fixou a partida para o outro dia de manhã.

À tarde, depois da noite fechada, ao trêmulo clarão de uma Lua pálida, ele foi ter com sua noiva o encontro de despedida.

A bela Serafina tinha a tristeza no coração e os mais sombrios pressentimentos no espírito. O seu amante, pelo contrário, tinha o maior zelo e confiança. 

Em alguns meses — dizia ele —, tu me verás voltar em triunfo. Teu pai se envergonhará, então, da sua incredulidade suspeitosa, e se dará por muito feliz de ir visitar, em sua morada, o adiantado das Sete Cidades.

A branda donzela sacudiu a cabeça. Não era nesse ponto que ela sentia desconfiança. Ela confiava, pelo contrário, com uma segurança ilimitada na existência da ilha das Sete Cidades, e se achava de tal modo convencida do bom êxito que teria cedido à tentação de o acompanhar, se a varanda não fosse tão alta e as grades tão fortes. Eram outras considerações que lhe faziam abanar com a cabeça em ar de dúvida. Ela tinha ouvido falar da inconstância dos mares e da inconstância, também, daqueles que navegam sobre os mares. Não poderia dar que Fernando encontrasse outros amores nos portos estrangeiros que ia visitar? Não poderia acontecer que alguma formosura incomparável na ilha das Sete Cidades, onde ele reinaria como soberano, não chegasse a abolir-lhe do espírito a imagem de Serafina?

Ora, convém muito dizê-lo, a bela Serafina tinha mais que sobeja razão para assim se inquietar. Se D. Fernando tinha um defeito bem conhecido e averiguado, era esse de uma demasiada facilidade em se deixar inflamar ao fogo dos belos olhos que encontrava na sua marcha. Ele passava mesmo por não ter grande reserva na própria cidade onde residia a sua namorada, quanto mais por além mares?

Ela arriscou-se a expressar as suas dúvidas e inquietações, mas, à primeira palavra que foi proferindo, D. Fernando reclamou:

Eu… Ser infiel e perjúrio a Serafina! Curvar o joelho ante o altar duma outra formosura! Oh, isso nunca! Nunca!

E ele repetiu mais de vinte vezes esse protesto enérgico e indignado, pondo-se de joelhos, batendo no peito e tomando a Lua por testemunha da sinceridade das suas palavras.

A Lua não fez protesto algum. Serafina acreditou.

Mas chegou, então, a Fernando a sua vez de mostrar a sua suspeita e desconfiança.

Não poderia Serafina esquecer a fé jurada? Algum rival mais rico e mais poderoso não poderia apresentar-se, enquanto ele divagava, arremessado sobre os mares e obter de seu pai essa mão que era objeto de tão ardentes aspirações?

A bela Serafina elevou para o céu os seus dois braços através das grades de ferro da varanda e, da mesma sorte que o seu amante, invocou o testemunho da Lua em apoio da sua fidelidade. Oh, quão pouco Fernando conhecia o seu coração! Quantos mais obstáculos seu pai pusesse ao seu amor, tanto mais ela insistiria na sua lealdade. Nem a ausência, nem os anos a fariam jamais mudar, e Fernando, à sua volta, a acharia sempre amante e dedicada. E, mesmo que as ondas salgadas do mar o engolissem — e lágrimas, tão salgadas como as ondas, lhe romperam em cascatas dos olhos ao pressentir esse atrasador pensamento —, nunca ela seria a mulher de um outro. Nunca, nunca, nunca!

E depois dessa tirada, que nós temos analisado na impossibilidade em que nos achamos exatamente a reproduzir, tirou do dedo um anel de ouro com um rubi encastoado e lapidado em forma de coração, e lho arremessou pela janela, como último penhor de constância e de mútua afeição.

E assim os amantes se separaram, não sem que tivessem repetido bem ternas palavras e bom número de juramentos amorosos.

Mas esses juramentos… serão eles observados?

Desgraçado de quem se atravesse a duvidá-lo! Não tomaram eles a Lua por testemunha de sua sinceridade?

No outro dia de manhã, ao romper da aurora, as caravelas desceram lentamente o Tejo dirigindo-se ao oceano.

Passada a altura de Gibraltar, aproaram diretamente às ilhas Canárias.

Eram então essas ilhas, como já o dissemos, o nec plus ultra7 da temeridade náutica. Nunca navegante algum tinha ousado conceber a ideia audaciosa de explorar os mares desconhecidos que se estendiam a Leste e ao Sul. Não senão depois que Cristóvão Colombo consentiu em passar primeiro por louco, e depois por traidor, para duplicar a superfície do mundo habitado.

Apenas a flotilha tinha atingido a latitude das Canárias, uma violenta tempestade se elevou e a dispersou. Durante muitos dias, a caravela de D. Fernando divagou à mercê das ondas e elementos desencadeados. Todo o seu aparelho se achava desmantelado. Um naufrágio parecia inevitável. A equipagem estava na maior consternação.

De repente, a tempestade se acalma, as vagas abatem e uma completa calmaria sucede à agitação do oceano. As grossas nuvens negras, que tinham encoberto a face do céu, se afastaram como um cortinado que bruscamente se abre e os marinheiros, estupefatos, viram elevada diante deles uma ilha bela e montanhosa, que parecia ter surgido por encanto do seio das ondas, por algum trabalho gigantesco de que a tempestade tivesse sido o sinal.

Eles esfregaram os olhos e os conservaram longo tempo fitos sobre essa aparição inverossímil, não podendo acreditar na realidade desse espetáculo inesperado. E, contudo, a ilha estava ali, diante deles, estendendo ao longe as suas pitorescas e graciosas paisagens, e rodeada da cintura argêntea que fazia nascer a escuma das ondas agitadas pelos tremores da tempestade.

O piloto da caravela consultou os seus mapas, esferas marítimas, e nenhuma nenhuma trazia a indicação, nem mesmo provável, de uma ilha qualquer nessas paragens. Era bem verdade que o piloto havia perdido, depois de alguns dias, toda a confiança na sua estimativa; mas parecia incontestável, por outra parte, que eles não estavam muito desviados das Canárias. E, contudo, a ilha que eles divisavam não fazia parte do grupo desse arquipélago.

A caravela aproximou-se a todo o risco da praia e junto à embocadura de um largo rio, sobre cujas bordas se descobria — a uma légua, quando muito, da costa — uma grande e soberba cidade, com altas muralhas e torres elevadas, as quais protegiam um gigantesco castelo fortificado.

Ao aproximar-se a caravela, uma alta e brilhante barca saiu do rio e se dirigiu ao seu encontro. Ela era magnificamente esculpida, pintada e dourada por fora. Os remadores estavam vestidos de um traje antigo, e os remos pintados de um vermelho brilhante. Avançavam lenta e solenemente, batendo a água com um movimento regular, que marcava o compasso de uma velha cançoneta espanhola. À ré, debaixo de um dossel de seda cor de púrpura, com franjas de ouro, estava sentado um cavalheiro ricamente vestido. Por cima da cabeça dele, um escudeiro agitava uma bandeira que tinha o emblema sagrado da cruz.

Quando a barca chegou junto à caravela, parou, e o cavalheiro subiu a bordo. Ele era de um talhe alto e majestoso. Suas feições alongadas denotavam origem espanhola e a parte inferior de seu rosto se achava encoberta por um espesso bigode e por uma longa barba, que lhe chegava até o peito. Trazia manoplas de ferro, que lhe chegavam até o cotovelo. À sua cintura pendiam uma comprida espada de Toledo, nua e reluzente, e uma bolsa, de que saíam os cantos, bordados de ouro, de um lenço com armarias. A sua fisionomia tinha essa nobreza e distinção que denotam à primeira vista um fidalgo castelhano.

Ele avançou uma perna fina, longa e nervosa e, tirando o seu vasto chapéu, cuja pluma foi roçar pelo chão, saudou profundamente D. Fernando, a quem desejou, em velha linguagem castelhana, a boa chegada à ilha das Sete Cidades.

D. Fernando estava no maior cúmulo da surpresa. Seria uma realidade? A tempestade tê-lo-ia, na verdade, arremessado sobre as praias dessa ilha afortunada, que ele tinha vindo procurar?

A dúvida era já impossível, atenta a evidência dos fatos.

Nesse mesmo dia, os habitantes da ilha celebravam uma brilhante festa em comemoração do livramento dos seus antepassados do poder dos mouros. A chegada da caravela, coincidindo com essa solenidade nacional, foi considerada como um acontecimento de favorável agouro.

Era, com efeito, o cumprimento de uma antiga profecia, que anunciava a futura reunião da ilha à comunidade dos cristãos.

O cavalheiro que viera cumprimentar D. Fernando era o camareiro-mor do alcaide, que o tinha enviado para convidar a equipagem da caravela a tomar parte nos festejos de que a capital era teatro.

D. Fernando, apesar da sua alegria, achava dificuldade em acreditar na realidade do sonho do qual tinha acordado. Fez saber ao camareiro-mor o seu nome e o objeto de sua viagem.

O camareiro-mor disse-lhe, em resposta, que tudo isso estava em concordância com a antiga profecia, e que, desde o momento em que as suas credenciais fossem verificadas, ele seria reconhecido e proclamado adiantado das Sete Cidades.

Contudo, o dia baixava, a barca esperava para o conduzir à terra. O camareiro-mor instou com D. Fernando para que aceitasse o convite, prometendo-lhe de o tornar a trazer a bordo do seu navio logo que a festa da cidade estivesse acabada.

O piloto de D. Fernando,lobo matreiro, desconfiado e supersticioso, o tirou à parte e procurou fazer-lhe compreender o grande perigo que havia em se arriscar, só pela palavra de um estrangeiro, a entregar-se a uma barca estrangeira e em país desconhecido.

Quem sabe, senhor — disse ele —, que espécie de ilha é a que temos diante de nós, e qual é a espécie de homens que a habitam?

Mas seria trabalho perdido o querer dissuadir a D. Fernando. Não tinha ele tido fé nessa ilha, mesmo quando todo o mundo punha em dúvida até a sua existência? Não a tinha ele procurado, apesar dos ventos e das tempestades? E, depois de tudo isso, poderia ele desviar-se das praias dessa terra afortunada, no momento em que elas se lhe apresentavam? Em uma palavra, a confiança não era a chave da abóbada da sua empresa?

O piloto não insistiu mais.

D. Fernando, tendo-se trajado com a sua melhor vestimenta, seguiu o camareiro-mor e tomou lugar na barca, debaixo do dossel de seda carmesim da popa. O camareiro-mor ficou em um banco defronte a ele. Os remadores abaixaram os seus remos, tornaram a começar o seu canto monótono e o seu movimento uniforme, e a maciça barca escorregou lentamente sobre as águas da ilha das Sete Cidades.

Era já noite quando eles entravam no rio.

A barca passou por entre o rochedo e o promontório da embocadura, defendidos ambos por uma torre.

Em cada posto uma sentinela os aguardava.

Quem vem lá?

O adiantado das Sete Cidades.

Bem-vindo, Sr. adiantado. Podes passai!

Eles abordaram junto de um desembarcadouro, cuja escada de mármore subia por entre duas torres maciças. No topo da escada, a porta marítima da cidade estava fechada. O camareiro-mor levantou um enorme argolão de bronze e deu três pancadas. Uma sentinela, revestida d’aço e com um morrião no capacete, abriu um postigo com grades, e perguntou:

Quem está aí?

O adiantado das Sete Cidades.

Bem-vindo, Sr. adiantado!

A porta abriu-se, rangendo sobre os gonzos enferrujados com um som de pífaro. Eles penetraram por entre duas filas de guerreiros com armaduras góticas, ostentando as suas cacheiras, arcos e achas de armas. Tudo isto menos antigo e menos ferrugento que os semblantes.

Procissões circulavam pelas ruas, celebrando a comemoração do desembarque dos sete bispos e de seus companheiros nessa ilha deserta, e fogos de alegria se achavam acesos em todas as ruas, divertindo-se os habitantes a queimar em efígie os mouros desonestos que os tinham expelido da Espanha.

É uma admirável coisa essa tendência instintiva do povo espanhol para os autos de fé! Se os tivessem deixado fazer o que quisessem, desde alguns centos anos, eles teriam queimado os três quartos do mundo para a maior glória de Deus, ao qual, com efeito, deveria causar uma grande satisfação, e seria mui agradável o recreio o ver cozer, assar ou estufar em grosso e a retalho criaturas que Ele tivera o trabalho de fazer à sua imagem.

Os grupos, que rodeavam estes fogos de alegria, assemelhavam-se em suas danças extravagantes a rodas ou círculos de duendes, executando as suas cabriolas insensatas em volta das fogueiras satânicas, em que ardem as vassouras das feiticeiras. Todos estavam com trajes estranhos e carnavalescos. Mesmo as nobres damas, que assistiam de cima de suas sacadas góticas a esses folguedos populares, figuravam verdadeiras encarnações dos tempos passados no seu trajar fora de moda. Tudo, em uma palavra, naquela cidade estranha, mostrava cunho de tempos desde muito passados, como se por uma revolução misteriosa os relógios das eras se tivessem atrasado de um grande número de séculos.

E isto, de fato, nada tinha que espantasse. A ilha das Sete Cidades não tinha, com efeito, sido separada do resto do mundo inteiro durante muitas centenas de anos, e essas modas, e esses vestidos, não eram, porventura, as modas e vestidos da Espanha gótica no tempo da conquista dos mouros?

Eles chegaram, enfim, ao palácio do alcaide. O camareiro-mor sacudiu a grade da entrada. Os criados e os guardas da porta correram.

Um deles perguntou:

Quem bate?

O adiantado das Sete Cidades.

A grade abriu-se de par em par e o adiantado entrou. O camareiro-mor sacudiu a grade da entrada. Os criados e os guardas da porta correram.

Um deles perguntou:

Quem bate aí?

O adiantado das sete cidades.

A grade abriu-se de par em par e o adiantado entrou. O camareiro-mor o conduziu por uma larga e maciça escada de mármore, dessas escadas em cujo âmbito se edificaria hoje uma dúzia de casas, com pátio e jardim, e o introduziu na grande sala de cortejo, em que se achava o alcaide com os principais dignitários da cidade, os quais se pareciam maravilhosamente, assim julgou D. Fernando, na forma e atitudes, aos extravagantes figurinos dos velhos manuscritos ilustrados.





O camareiro-mor entrou primeiro e anunciou em alta voz o nome e os títulos do estrangeiro, acrescentando o objeto da missão extraordinária de que se achava encarregado. Este anúncio não pareceu excitar uma sensação bem viva, nem uma surpresa bem extraordinária; era evidente que cada um esperava por esse caso como por um cumprimento antecipado da profecia.

Contudo, a recepção feita a D. Fernando não foi menos graciosa, suposto fosse revestida desse caráter de cerimônia pomposa e antiquada que prevalecia por toda a parte na ilha das Sete Cidades.

D. Fernando quis apresentar as suas credenciais, mas o alcaide se negou a isso mui cortesmente, declarando que o acreditava pela sua palavra. A noite deveria passar-se toda em festins e regozijos. No outro dia, quando o adiantado tivesse entrado no porto com a sua caravela, e que deveriam tratar de negócios, então seriam recebidas as credenciais em devida forma, e seria instalado solenemente na sua dignidade de adiantado das Sete Cidades.

D. Fernando não insistiu e deixou-se conduzir através dessa longa enfiada de salões, que fazem o orgulho dos palácios espanhóis, todos mobiliados com elegância fora de moda, porém suntuosa.

Em um vasto salão, todo brilhante com luzes, achava-se reunida a flor de toda a gente aristocrática e elegante da cidade que devia ela mesma ser a capital da ilha.

Eram nobres damas e nobres cavaleiros que formavam a mais exata reprodução das personagens representadas nas tapeçarias de alta lice que decoravam as paredes. Fernando contemplava tudo isto, homens e coisas, com um pasmo que ia crescendo como uma sinfonia alemã. Ele assistia a um espetáculo bem curioso; era uma exumação maravilhosa da vida e costumes da orgulhosa aristocracia espanhola do tempo de Rodrigo, o Godo8.

As festas desse serão todas reguladas no estilo cerimonial solene da antiguidade. Dançou-se; mas que dança! Ter-se-ia dito que a velha tapeçaria se punha em movimento, e que todas as figuras dela se destacavam para escorregar lenta e majestosamente sobre o soalho.

A isso, contudo, havia uma exceção, um único rosto fresco e juvenil contrastava com essa multidão gótica e secular; e esse contraste produziu uma forte impressão no espírito do adiantado.

Era a filha do alcaide, encantadora aparição, sedutora e voluptuosa na sua virginal beleza O seu traje, na verdade, como o de todas as suas companheiras, tinha o caráter das modas antediluvianas, mas se o seu vestido era de estofo e de forma antiga, eles cingiam uma cintura flexível e delicada como a de uma menina de doze anos. O seu pescoço estava sobrecarregado de ornatos esquipáticos, mas esse pescoço elegante e esbelto, como um pescoço de pássaro, estava nu, assim como os seus braços e espáduas, e deixava adivinhar tesouros de beleza capazes de fazerem girar as cabeças de todos os adiantados do mundo.

O que duplicava ainda o efeito dessa carnação abrasadora, particular as Andaluzes, era o vivo encarnado de seus beiços úmidos, o roxo transparente da sua pequena orelha, das suas ventas dilatadas e das suas unhas luzidias, como se tivessem sido envernizadas. Por toda a parte, também, onde o seu sangue, vivo e quente, podia colocar a epiderme, ele anunciava a saúde, a vida, a mocidade, e chamava os beijos do amor.

Seus olhos, em que D. Fernando mirava com avidez os seus, mui grandes e de um preto aveludado, já cintilavam de espirito e de malícia, já se abriam lânguidos e meio encobertos entre duas franjas ciliares, longas e frisadas de um negrume tão carregado como o de suas sobrancelhas finas, mui decididamente arqueadas; a sua testa, pequena como a das estatuas gregas, terminava o rosto de um oval perfeito; o seu nariz, de uma curva delicada, era levemente aquilino; o esmalte de seus dentes resplandecia, e a sua boca vermelha, ingenuamente sensível, parecia chamar os alegres sorrisos e os deleites amorosos. Não se podia, emfim, ver um porte de cabeça mais livre, mais altivo, mais elegante sobre ombros mais firmes e mais luxuriantes.

Os seus cabelos — eu ia esquecer os seus cabelos, que Fernando, por forma alguma, esqueceria — eram negros como a asa de um corvo, com resplandores de aço polido; eles eram naturalmente ondeados, e tão compridos, tão compridos, que deviam chegar ao chão quando ela os desatasse, e que a poderiam envolver como a Vênus Afrodite.

A sua voz suave e argentina, as suas maneiras, a graça de seus movimentos, a expressão do seu olhar, tudo nela ostentava o reflexo da beleza e da graça andaluzes, e provava como os encantos da mulher se podem transmitir de idade em idade, de século em século, de clima em clima, sem serem afetadas pela influência do tempo e da moda.

Os que conhecem a influência mágica da beleza nessa amorosa parte da amorosa Espanha, facilmente poderão compreender a que irresistível fascinação o cavaleiro ficou exposto, logo que a jovem pôs a sua mão na dele para dançarem o bolero nacional.

Pobre D. Serafina! Não era mais em ti que pensava durante este serão o teu infiel amante, e a Lua, que viu toda essa cena pelas janelas do palácio, devia muito escandalizar-se de ter sido tomada por testemunhas de tão frágeis protestos.

No banquete que se seguiu ao baile, D. Fernando foi posto ao lado esquerdo da encantadora Rosita; ela tinha tido a ocasião para lhe dizer o seu nome entre dois boleros.

O banquete, como se podia esperar, tinha sido preparado e seguia como o serviam e preparavam os nobres cozinheiros aos tempos góticos. Só com respeito aos vinhos é que isso não era um mal. No meio da mesa se ostentava um pavão. Essa ave de aparato e de cerimônia era servida com todas as suas plumas sobre uma chapa de ouro maciço. O resto era em conformidade.

Quando D. Fernando dirigia os olhos desde a mesa para os convidados, ele não descobria senão antigos semblantes e antigos toucados que homens encaixados em ferro e grande damas cobertas de ouro e pedrarias.

Como poderia, pois, causar admiração que ele frequentemente desviasse os olhos dessa exibição arqueológica, para os dirigir sobre o fresco e atrativo da encantadora jovem, em que se não deparava mais que com doces olhares e brandos sorrisos? Demais, eu daria muito para justificar a inconstância do meu herói. D. Fernando estava numa excitação de espirito fácil de compreender; depois de todas as cenas inverosímeis e maravilhosas, a que assistia desde algumas horas e que realizavam da maneira a mais inesperada as suas mais brilhantes aspirações de fortuna e de glória. Outros de mais forte constituição teriam sido abalados; e, além disso, como já o fiz observar, os vinhos do alcaide eram velhos e pérfidos, e D. Fernando, para festejar os seus hóspedes de hoje e vassalos de amanhã, tinha feito dele não pequeno consumo.

E, depois, Rosita era tão bela e Fernando tão jovem; e, depois, Serafina estava tão longe! Tudo isso reunido fez que, antes do fim do banquete, a filha do alcaide e o cavalheiro lusitano estivessem em plena conversação amorosa, e que, aproveitando-se de um momento em que a atenção geral estava distraída, eles passassem da sala ao terraço, e deste ao jardim, onde, sem pensar o menos do mundo, na indiscreta presença da Lua, ele lhe cantasse descaradamente a mesma amorosa palinódia que tinha em outros tempos seduzido os ouvidos e o coração da desventurada Serafina.

Quando ele se calou, a donzela sacudiu requebradamente a cabeça, comum ar de dúvida, e disse:

Ah, senhor, eis aí palavras bem lisonjeiras! Mas vós outros, cavalheiros que divagais pelos mares, vós sois inconstantes por natureza, como as vagas e o sopro dos ventos. Amanhã vós sereis proclamando e coroado adiantado das Sete Cidades desta ilha e, então, vós não pensareis mais na filha do alcaide.

D. Fernando, no delírio de seus desejos, chamou a Lua em testemunho de sua sinceridade. Mas, no momento em que levantava o braço para jurar, a casta Lua, espantada de uma impudência tão descuidosa, encobriu-se atrás de uma nuvem, lançando um último raio, que fez cintilar com um traço de luz o anel com um rubi em forma de coração que o desleal trazia no dedo.

O reflexo chegou aos olhos da menina.

Sr. Adiantado — disse ela negligentemente —, eu não tenho grande confiança na garantia da Lua, que teria demasiado o que fazer, se se desse ao empenho de desmentir todos aqueles que a invocam falaciosamente; mas me dai esse anel que brilha no vosso dedo. Ele será entre nós o penhor de nossa mútua fé.

O galante cavalheiro tinha sido tomado de surpresa, impossível lhe era refusar. Antes que tivesse tido tempo de refletir, o anel da bela Serafina tinha escorregado do seu dedo para passar ao da filha do alcaide.

Nesse momento, a voz do camareiro-mor se fez ouvir, chamando o Sr. Adiantado, para informar que a barca estava pronta e o esperava para conduzir a bordo da sua caravela.

Eu suprimo os pormenores da pomposa separação do alcaide e dos grandes dignitários; e os protestos ternos e apaixonados dos novos amantes; o leitor os adivinha.

D. Fernando retomou o seu lugar debaixo do toldo de seda carmesim defronte do camareiro-mor. Os remadores abaixaram os seus ramos vermelhos e encetaram de novo o mesmo canto lento e monótono, batendo a água em cadência com as suas dezesseis raquetas.

O cavaleiro conservava ainda o espírito inteiramente deslumbrado do que tinha visto; somente o seu coração começava em segredo a arguí-lo da infidelidade que tinha cometido com a bela Serafina. Como eles chegassem ao mar, a Lua saía das nuvens; Fernando corou como um estudante apanhado em flagrante delito de pilhagem e procurou resguardar-se-lhe do aspecto. Tendo-se navegado durante algum tempo, levantou os olhos para ver se avistava a sua caravela, mas nada encontrou.

Sem dúvida — disse ele consigo —, alguma corrente da costa a desviou. — Continuai a remar! — bradou ele aos marinheiros.

E os marinheiros continuaram a remar, mas os seus remos batiam a água de um modo irregular e louco, e o seu canto foi substituído por gargalhadas de um riso escarnecedor. D. Fernando quis levantar-se, mas tudo se pôs a girar em volta dele como se estivesse atacado de vertigem. Os remadores lhe parecerem duas fileiras de goelanos, aves marinhas, que açoitavam a água com as asas, emitindo assobios sinistros. O camareiro-mor saltou sobre o banco e depois o seu talhe cresceu, cresceu até exceder a altura de vinte côvados o toldo de seda carmesim, que o envolveu feito em pedaços.

Depois o camareiro-mor tirou o seu grande chapéu, e o conservou por algum tempo suspenso sobre a cabeça de D. Fernando como apagador sobre a chama de uma vela.

D. Fernando estremeceu; ele se sentia fundir… quis levantar-se, mas as suas pernas estavam presas em uma gigantesca argola.

Boa noite, Sr. Adiantado das Sete Cidades — disse o camareiro-mor.

Boa noite — repetiram, como em eco infernal, os goelanos. O chapéu foi abaixando lentamente.

D. Fernando estava extinto.


*


Quanto tempo se conservou ele extinto? É o que nenhum mortal poderia dizer.

Quando voltou à existência e à consciência do seu ser, achou-se na câmara de um navio desconhecido, rodeado de pessoas que lhe eram estranhas, e olhavam para ele com uma atenção cheia de curiosidade e de interesse.

Ele esfregou os olhos, dirigiu a vista em derredor, todo cheio de pasmo. Onde estava ele?

A bordo de um navio português em caminho para Lisboa.

Como se achava ele a seu bordo?

Tinham-no apanhado, desmaiado e meio morto, sobre uma jangada quebrada, que vagava ao acaso sobre as ondas do oceano.

Feitas estas perguntas e dadas as respostas, D. Fernando ficou ainda mais perplexo e confuso do que nunca.

Ele se lembrava, uma por uma, de todas as coisas que lhe tinham acontecido na ilha das Sete Cidades, até o momento em que tinha sido extinto pelo chapéu do camareiro-mor.

Mas, depois disto, o que lhe tinha acontecido? Que fim levara a sua caravela? Donde provinha essa jangada em cujos restos tinha sido encontrado agonizante?

A equipagem do navio português informação alguma pôde dar a tal respeito.

Ele lhes suplicou que o tornassem a levar para a ilha das Sete Cidades, a qual, dizia ele, não podia ser muito distante; e, como todos olhassem para ele com um ar estupefato, ele lhes contou todas as maravilhosas aventuras que lhe tinham acontecido nessa ilha, cujo nome lhes era desconhecido. Contou-lhes que nada mais tinha a pôr o pé em terra para o proclamarem o Adiantado, e prometeu, então, os recompensar magnificamente pelo serviço que lhe tivessem prestado.

Os marinheiros tomaram todos esses discursos incoerentes e incompreensíveis pelas extravagâncias de uma imaginação delirante, e, na sua honesta solicitude pelo restabelecimento da razão dele, lhe ministraram remédios tão enérgicos e violentos, que ele tomou daí por diante o maior cuidado em não fazer nem a mínima alusão ao desastre da sua fortuna e das suas grandezas.

Mas ao mesmo tempo caiu entregue a uma melancolia sombria e taciturna.

Os marinheiros, ao vê-lo horas inteiras sentado, imóvel sobre o convés, com os olhos fitos no Oriente, não podiam deixar de o lamentar, e buscavam, mas em vão, distraí-lo e consolá-lo.

Emfim, o navio penetrou nas águas do Tejo e deitou âncora em frente à famosa Lisboa. D. Fernando arremessou-se, cheio de contentamento, à praia, e correu primeiro à casa dos seus antepassados. Um desconhecido veio falar-lhe. D. Fernando quis atirar-se pelo corredor, mas o desconhecido o reteve, perguntando-lhe, com um tom que não aspirava à polidez alguma, aonde corria desse modo.

Corro à minha casa — disse D. Fernando, bastante admirado do atrevimento de tal marmanjo.

E onde cuida que é a sua casa?

Eu sou o Sr. D. Fernando de Ulmo; safe-se daqui para fora!

Safe-se vossa mercê mesmo, meu cavalheiro; faça-me esse favor. Eu não conheço o senhor, nem tenho noticia do seu nome, e recebi ordem de afastar de casa do meu amo os desconhecidos e importunos.

Ele teria acrescentado os ladrões, mas D. Fernando tinha um ar de dignidade que repelia quaisquer suspeitas desonrosas.

O jovem não se demorou mais em disputar com esse estranho cérbero; ele tinha um desejo mais veemente a satisfazer. A sua primeira visita devia ser para D. Serafina.

Dirigiu-se, depois, à casa de D. Ramiro e correu desde logo à varanda onde tinha trocado os últimos adeuses com a sua amante.

Uma deliciosa surpresa aí o esperava. Serafina estava lá, bela ainda e encantadora como sempre, entre as flores da sua varanda, como um pássaro gentil no meio do seu fresco ramo de verdura. D. Fernando, ao avistá-la, levantou os braços para ela com uma jovial aclamação.

Mas — oh, surpresa! — a donzela lançou sobre ele um olhar de indignação e, retirando-se imediatamente, fechou a janela com ar brusco e desprezador, que não mostrava sentimento algum de satisfação causado pela volta dele.

O nosso pobre fidalgo não sabia o que pensar. Serafina teria, porventura, tido alguma notícia de seu encarte com a filha do alcaide das Sete Cidades? Mas isso não tinha passado de um capricho de galanteria passageira. Um instante de entrevista não devia deixar de dissipar todas as duvidas zelosas do seu mau humor.

Ele bateu à porta, entrou e, sem se demorar em discussões com o porteiro, correu ao quarto de Serafina. Não lhe tinha esquecido o caminho e, num abrir e fechar d'olhos, estava aos pés da jovem menina. Mas esta soltou enormes gritos ao vê-lo, e foi refugiar-se, toda trêmula, nos braços de um jovem cavalheiro, que fitou sobre o intruso um olhar cheio de espanto e de provocação.

Que significa, senhor, uma semelhante invasão, e que vem aqui fazer? —perguntou ele.

E o que faz o senhor mesmo aí? — replicou D. Fernando, com um tom cheio de altive. — E com que direito me fala de semelhante modo?

Com o direito que tem um desposado de defender a sua esposa contra um brutal ultraje.

D. Fernando estremeceu, fez-se pálido e cambaleou como um homem bêbado.

Ó Serafina — gritou ele com uma voz lamentável. — Serafina, dize-lhe, pois, que ele mentiu. Diz a esse homem que tu não tens outro noivo senão a mim, e que ninguém mais tem o direito de defender-te.

Serafina? — disse o jovem. — De que serafina fala o senhor? O senhor é o ludibrio de um estranho erro, segundo parece. Esta senhora se chama Maria e não Serafina.

Um erro, diz vossa mercê? — exclamou D. Fernando espantado. — O meu coração e os meus sentido mesmo me enganariam? Não é esta jovem a senhora Serafina Álvares, cujo retrato idolatrado me olha e me sorri neste quadro sobre a parede?

Santa Virgem! — diz a jovem menina, lançando os olhos sobre o retrato. — Ele fala da minha bisavó!

Seguiu-se uma explicação, se, contudo, pode ter esse nome a conversação que teve lugar e que abismou o desventurado D. Fernando em perplexidade mil vezes maiores.

A crer no testemunho de seus olhos, ele via diante de si Serafina, a sua bem-amada.

A julgar pelo testemunho dos ouvidos, não era mais que a transmissão hereditária do seu rosto e das suas feições, perpetuados na pessoa da sua bisneta.

Não sabendo que julgar, que pensar, que dizer, ele apertou as mãos convulsas à sua fronte em risco de rebentá-la, e saiu dali correndo. O seu cérebro começava a ceder sob o peso de tantas emoções constantes; e a sua razão o abandonava.

Dirigiu-se à residência do ministro da marinha e apresentou um relatório sobre a sua expedição e sobre a famosa ilha das Sete Cidades, que ele tinha tão felizmente descoberto.

Foi ouvido com uma estupefação visível: ninguém tinha jamais ouvido falar nem dessa expedição nem dessa ilha. Ele insistiu em declarar que tinha empreendido a sua viagem, debaixo da fé de um contrato autêntico, e feito com regularidade entre ele e a coroa, o qual lhe assegurava o título de adiantado, com a posse de metade das terras que descobrisse. Semelhante contrato não teria podido extraviar-se e cair em esquecimento, e antes deveria encontrar-se registrado nos arquivos do estado. D. Fernando reclamou energicamente uma busca que lhe não podia ser negada.

Esta discussão atraiu, enfim, o sentido de um velho escriturário de cabeça calva, que extratava um enorme livro em fólio, encarapitado numa alta cadeira a um canto da sala.

Esse velho era o decano daquela repartição, em que tinha entrado ao sair da escola, e onde passara sessenta anos. Era considerado como fazendo parte da mobília do escritório. A sua memória era um verdadeiro repertório de datas e fatos, de atas e documentos. Quando se carecia nas secretarias de alguma informação ou de uma notícia, folheava-se o velho Pedro e nunca a resposta era demorada.

Tendo ouvido por algum tempo a conversação trocada entre D. Fernando e o chefe da repartição, o velho Pedro pôs a pena atrás da orelha, deixou-se escorregar da sua alta cadeira e, aproximando-se, disse que ele se lembrava, com efeito, de ter ouvido falar, pelo seu predecessor, de uma expedição dessa natureza, a qual tinha deixado aquele porto pelo reinado de D. João II, porém que mais de cem anos já eram passados, e nunca mais se tinha ouvido falar nem dos navios nem das pessoas nele embarcadas.

Para esclarecer o caso, fizeram-se, conforme as indicações do velho e de D. Fernando, exames nos arquivos da Torre do Tombo, esse sepulcro onde repousam todos os velhos documentos portugueses, e, aí, se encontrou, com efeito, a minuta de um contrato lavrado entre a coroa e um certo Fernando D’Ulmo, para a descoberta da ilha das Sete Cidades, e a cópia de um decreto que lhe conferia o título de adiantado de todos os países que pudesse descobrir.

Dessa maneira! — exclamou D. Fernando, triunfante. — Aí tem vossas senhorias, debaixo dos olhos, a prova irrecusável do que lhes tenho dito. Eu sou, eu mesmo, o próprio D. Fernando D’Ulmo de que se trata nesse documento. Eu descobri a ilha das Sete Cidades e tenho direito ao título de adiantado.

D. Fernando tinha, em favor da sinceridade das suas palavas, o apoio de documentos autênticos, o que é considerado em geral como a melhor das provas históricas; mas quando um homem, em toda a flor da idade, vem falar de acontecimentos há mais de um século de distância, como tendo-lhe acontecido a ele mesmo, seria preciso possuir uma credulidade bem robusta para tomar essas asserções a sério. D. Fernando foi considerado louco.

O velho escriturário olhou para ele por baixo dos olhos, sacudiu os ombros em ar de compaixão, fez um trejeito desdenhoso, trepou de novo para a sua cadeira e recomeçou, sem dizer palavra, o seu eterno emprego de copista, o que exigia tanto mais aplicação quanto o bom homem acabava de encetar o quinquagésimo volume de uma gigantesca coleção de livros in folio e que não tinha bastante certeza de que lhe não faltaria o tempo preciso para lhe paragrafar a última página.

Os outros escriturários trocaram entre si gestos escarnecedores e se afastaram, dirigindo-se cada um ao seu lugar, e o pobre D. Fernando, assim abandonado, saiu da secretaria fazendo esforços inimagináveis para se persuadir que ele era o ludibrio de um sonho e toda essa fantasmagoria não passava de um horrível e ilusório pesadelo.

Na confusão de seu espírito, ele voltou instintivamente à casa de Álvares, mas achou a porta fechada e ordens severas que lhe proibiam a entrada.

Para destruir a ilusão que parecia tão cruelmente influir no ânimo deste jovem e provar-lhe de um meio irrecusável que essa D. Serafina, que ele reclamava a todas as esquinas e a todos o ecos, não existia mais, conduziram-no à catacumba onde se lhe mostrou o seu sepulcro. Ela jazia lá, a nobre matrona, e a sua estátua, feita de alabastro, repousava fria e pesada sobre um coxim de bronze; e a seu lado via-se seu marido, em grande aparato de guerra, capacete, escarcelas e elmo, e, à roda do monumento, pequenos gênios ajoelhados representavam a sua numerosa progenitura, emblemas de uma fecunda e copiosa linhagem.

O monumento tinha os sinais inevitáveis do tempo; os ângulos e o fundo das esculturas tinham criado musgos; as duas mãos do marido, que o artista havia reunido na atitude da oração, estavam desguarnecidas de todos os seus dedos; e, quanto à bela Serafina, ela tinha perdido o seu nariz.

D. Fernando foi atacado de um calafrio mortal ao ver essa prova monumentosa da inconstância da sua amante; mas quem teria podido exigir que a pobre desamparada se conservasse fiel por um século inteiro? E com que direito ousava ele falar de fidelidade, ele, que tinha tão deslealmente esquecido os seus juramentos junto à deslumbrante Rosita, a filha do alcaide das Sete Cidades?

O desventurado cavalheiro regou com lágrimas a tumba de sua idolatrada, e, num acesso de piedoso arrependimento e de terna devoção, mandou chamar um escultor que consertasse a cara da defunta, pondo-lhe novo nariz de alabastro. Isto feito, saiu da catacumba.

Depois de tantas provas irrefragáveis, era-lhe impossível deixar, enfim, de reconhecer que, por um prodígio inexplicável, mas evidente, ele se achava ter ultrapassado todo um século, durante essa famosa noite que passara na ilha das Sete Cidades. Ele se tinha tornado tao completamente estranho na sua cidade natal, como se nunca tivesse nela tivesse pisado antes de sua volta.

Os seus desejos se dirigiram, então, com uma nova paixão para se ilha mágica, que ele não tinha feito mais que entrever, com as suas salas antigas, em que tinha sido tão cortesmente acolhido; desde o momento, principalmente, em que a sua querida Serafina se tinha mudado em uma velha matrona de mármore mutilado, com gerações de descendentes, ele se pôs a pensar, com maior ardor e paixão, nos belos olhos negros da filha do alcaide, a qual, sem dúvida alguma, assim como ele, tinha ficado em toda flor da mocidade; de noite, ele sonhava achar-se sentado a seu lado; e, de dia, também sonhava nisso acordado.

Ele não teria hesitado um só instante em equipar uma nova expedição à sua própria custa para ir outra vez em busca da ilha santa, mas os seus recursos se achavam exaustos. Ele procurou acarear amigos e sócios, alegando a certeza de imensos lucros, de que a sua experiencia pessoal fornecia uma prova incontestável. Mas — oh! — ninguém queria dar credito às suas palavras, e todos as consideravam como o sonho febril de uma imaginação naufragada.

Ele, contudo, nem por isso desistiu dos seus esforços, prosseguindo o seu tema favorito em os lugares e em toda a ocasião, de sorte que vem a tornar-se o objeto das zombarias do público, que tomava sua convicção entusiasta por uma prova de loucura; e mesmo os garotos nas ruas o perseguiam com a sua gritaria injuriosa e o chamavam, por escárnio: — Adiantado das Sete Cidades!

Vendo que todos os seus esforços eram em vão na sua cidade natal de Lisboa, tomou passagem num navio que seguia para as Canárias. Achar-se-ia lar num lugar mais próximo ao da sua primeira aventura e em um povo habituado a todos os azares marítimos.

Ele aí deveria encontrar escutadores fáceis e atentos; os velhos pilotos e os marinheiros das Canárias eram conhecidos pelos mais intrépidos desninhadores de ilhas que existem no mundo, sempre prontos a acreditar em todas as maravilhas mais incríveis do mar.

E, com efeito, todos aqueles a que se dirigiu o ouviram com surpresa, e pareceram admitir a sua história como a coisa mais natural que jamais existisse, e, virando-se um para os outros, contentavam-se de dizer com um pequeno movimento de cabeça:

Eis aqui mais um que esteve na ilha de São Brandão.

Eles lhe contaram também, então, o que sabiam dessa grande maravilha e desse enigma do oceano, das suas frequentes aparições aos habitantes da sua ilha e das numerosas e inúteis expedições que tinham sido tentadas para a descobrir.

Eles o conduziram a um promontório na ilha de Palma. Era lá que a visão se manifestava com maior frequência e lhes mostrava, no horizonte, o ponto exato donde surgiam por intervalos as suas brancas montanhas e os seus verdes bosques.

D. Fernando ouviu tudo com uma atenção desconsolada.

Ele não podia duvidar que essa ilha fugitiva e misteriosa não fosse aquela mesma ilha das Sete Cidades, que lhe tinha causado tantos dissabores, e que alguma influência sobrenatural não tivesse operado sobre ele de maneira a prolongar, durante um século, o espaço de uma simples noite.

Ele procurou, mas em vão, excitar os canarienses a uma nova tentativa de descoberta; eles tinham desde muito tempo assentado o seu juízo sobre a Ilha de São Brandão, chamando-a de Ilha dos Fantasmas.

Mas Fernando não desanimou ainda. Essa ideia se lhe gravou demais em seu espírito, de maneira que o absorveu de todo. Não passava uma única manhã que ele não se dirigisse ao promontório da ilha, e aí se não demorasse até a noite fechada, na esperança de ver se descobria nas miragens as sedutoras colinas de São Brandão.

Todas as noites, ele voltava frustrado no seu desejo, mas não desacoroçoado e sempre resolvido a tornar a começar no outro dia a sua sentinela desesperada.

Mas toda essa confiança e assiduidade ficaram estéreis.

Ele envelheceu, encaneceu e curvou-se sob as suas infrutíferas tentativas, até que enfim… uma noite o encontraram morto no seu posto.

Mostra-se, ainda hoje, o seu túmulo na ilha de Palma, e uma cruz levantada no lugar em que ele tinha passado anos assentado, imóvel e com os olhos fitos para a aparição dessa ilha das Sete Cidades, de que ele devia ser o adiantado.



Fonte: Correio Mercantil/RJ, dezembro de 1856.

Fizeram-se breves adaptações textuais.

Imagens: PS/Cppilot.


Notas:


1Trata-se do Infante Dom Henrique (1394 – 1460), o Navegador, filho do rei Dom João I de Portugal (1357 – 1433).

2Cidade do poderoso império do Máli, crescida graças ao comércio de sal, marfim e ouro, que chegou ao seu apogeu nos século XIV e XV.

3Dom João II (1455 – 1495) foi rei de Portugal em dois períodos distintos: apenas 4 dias em 1477 e entre 1481 e 1495. Foi sucedido por Dom Manuel I.

4No original, adelantado, em espanhol. Em português, contudo, diz-se adiantado, ou seja, governador de província com poderes civis e militares.

5Ou seja, com o casamento ajustado.

6Ou seja, coragem.

7Limite que não se pode passar.

8Último rei visigodo da Hispânia. Reinou entre 710 e 711. 

 

Comentários

  1. vou ler, antes do jogo de hoje do Figueirense, pelo MBTV e pelo SBT de Santa Catarina todos no Youtube. Copa Santa Catarina. 21h30.

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