O MOURO ASSASSINO - Conto Clássico Lendário de Horror - Paul Sébillot
O MOURO ASSASSINO
Paul Sébillot
(1843 – 1918)
Tradução de Paulo Soriano
Uma história portuguesa, na qual alguns episódios lembram A Bela e a Fera e o Barba Azul, apresenta um torneiro que costumava ir a uma floresta, a alguma distância da sua casa, para cortar a madeira necessária à feitura das suas colheres e outros utensílios.
Certo dia, quando serrava um venerável castanheiro, reparou que havia um grande buraco na árvore e, animado pela curiosidade de entrar e descobrir o que havia dentro, apareceu-lhe imediatamente um mouro encantado, que, com uma voz terrível, lhe disse:
— Já que te atreveste a entrar em meu palácio, ordeno-te que me traga a primeira criatura que encontrares ao chegar em casa; caso contrário, morrerás em três dias.
Quando o torneiro voltava para casa, geralmente era um cãozinho que vinha ao seu encontro. Mas, naquele dia, foi a sua filha mais velha quem veio ter com ele.
A moça concordou em ir até o mouro, que lhe deu todas as chaves de seu palácio encantado. Pôs em seu pescoço uma belíssima corrente de ouro, da qual pendia uma chave.
A jovem não resistiu a visitar a câmara proibida. Sabia que, se o fizesse, seria morta. Lá, viu ali cadáveres decapitados e, quando o mouro regressou, tendo notado uma pequena mancha de sangue na corrente, cortou a cabeça da moça e deixou o seu corpo entre os demais.
Passados alguns dias, o torneiro voltou à árvore para ter notícias de sua filha. O mouro respondeu que ela estava bem, mas que precisava de uma companheira. A segunda irmã foi ao palácio do mouro e teve o mesmo destino da mais velha.
O mouro ordenou ao torneiro que trouxesse a terceira filha. Quando esta chegou ao palácio, recebeu as mesmas instruções dadas às irmãs. Mas ela também entrou no quarto onde estavam os cadáveres. Todavia, apesar do horror que sentia, teve coragem suficiente para ficar ali e examinar o ambiente detalhadamente. Notando que os corpos das irmãs ainda estavam quentes, quis trazê-los de volta à vida. Havia potes de barro cheios de sangue no quarto e, em dois deles, estavam escritos os nomes de suas irmãs. Com esse sangue, colou-lhes as cabeças. Quando percebeu que as cabeças estavam bem firme nos troncos, limpou sangue e as irmãs voltaram à vida. Disse-lhes que permanecessem caladas e as irmãs aconselharam-na a limpar bem a chave, para que o mouro não desconfiasse de nada.
Ao retornar, o mouro nada suspeitou e supôs que ela era, mesmo, uma esposa obediente. Começou a amá-la e a fazer todos os seus desejos.
Um dia, ela pediu-lhe que levasse um barril de açúcar a seu pai, que era muito pobre. Pôs lá dentro uma de suas irmãs, dizendo ao mouro que ficaria no alto da torre, de vigia, para vê-lo melhor. Antes, recomendara à irmã, que estava no barril, que dissesse, de vez em quando: “Estou te vendo, minha querida, estou te vendo”.
Alguns dias mais tarde, pediu ao mouro que levasse um segundo barril e o episódio se repetiu. Ela era a única que restava no palácio encantado. Então fez um manequim de palha, vestido com as suas roupas, e colocou-o no topo da torre. Depois, pediu ao mouro que levasse um terceiro barril à casa do pai, onde se escondeu, e repetiu as mesmas palavras que as suas irmãs.
Quando o mouro voltou, subiu à torre para abraçar a moça, mas deu um passo em falso e caiu no fosso do castelo, quase morto. Imediatamente o venerável castanheiro e o palácio desapareceram.
Fonte: Légendes et Curiosités des Métiers, Ernest Fammarior Editor, séc. XIX.
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