POSSESSÃO CADAVÉRICA - Narrativa Clássica de Terror - Pierre Le Loyer
POSSESSÃO CADAVÉRICA
Pierre Le Loyer
(1550 – 1634)
Tradução de Paulo Soriano
Não posso, para atestar que os demônios tomam os corpos dos cadáveres e os fazem deambular, como se vivos estivessem, outorgar uma história mais recente do que esta.
Aqueles que coletaram a recente história da possuída de Laon dizem que um dos demônios, que estivera no seu corpo, chamado Baltazo, já lhe houvera saído e tomado o cadáver de um homem enforcado na planície de Arlon, com o escopo de enganar o marido da endemoninhada.
(Antes de este demônio entrar no corpo da mulher, a ela se apresentou, assumindo da forma de seu pai, que havia morrido subitamente, e ordenou-lhe que mandasse rezar algumas missas por sua alma e que levasse velas em suas viagens. E a seguia para onde quer que ela fosse, sem jamais abandoná-la. Esta mulher simples obedecia ao demônio em tudo o que ele lhe ordenava e, depois, ele levantava a máscara e mostrava-se a ela, não mais como o seu pai, mas como um fantasma hediondo e horrível, que a persuadia ora a matar-se, ora a entregar-se a ele.)
A fraude demoníaca foi assim descoberta:
O marido estava aborrecido com as despesas de saúde da mulher e já não podia pagá-las. Por isso, recorreu a um feiticeiro, que lhe garantiu que livraria a sua mulher dos demônios de que estava possuída.
O demônio Baltazo foi chamado pelo feiticeiro e levado ao marido, que lhe deu um jantar, no qual percebeu que Baltazo nada bebia.
Depois do jantar, o marido foi encontrar o mestre-escola de Vervin na igreja local, onde este estava a exorcizar a endemoninhada. Não lhe ocultou a promessa que fizera o feiticeiro — e reiterada por Baltazo — durante o jantar, de que a sua mulher seria curada, acaso quisesse deixar o demônio a sós com ela; o mestre-escola, contudo, advertiu o marido a ter muita cautela, se com isto concordasse.
Meia hora mais tarde, o marido, que se tinha retirado, levou Baltazo à igreja, onde o espírito de Belzebu, que possuía a mulher, o chamou imediatamente pelo nome e lhe disse algumas palavras.
Baltazo saiu da igreja, desapareceu e não se sabe o que lhe aconteceu.
O mestre-escola, que assistiu a tudo isto, conjurou Belzebu e obrigou-o a confessar (pelos lábios da mulher) que Baltazo era o espírito maligno que havia tomado o corpo de um homem falecido e que, se a endemoninhada tivesse sido deixada com ele sozinha, o demônio a teria tomado em corpo e alma.
Fonte: P. L. Jacob, “Curiosités Infernales”, 1886.
Fizeram-se breves adaptações textuais.
Comentários
Postar um comentário