UM MONSTRO NECRÓFILO - Narrativa Verídica de Horror - Autor anônimo do início do séc. XX

UM MONSTRO NECRÓFILO

Autor anônimo do início do séc. XX


Foi preso em Muy, povoação de certa importância do departamento de Var, a treze quilômetros de Draguignan, um indivíduo de nome Antoine Ardisson, de 29 anos de idade, que à noite desenterrava, no cemitério, cadáveres de crianças e mocinhas e nele exercia as mais torpes violações.

Confessou que assim procedera com Louise Martins, morta aos quatro anos de uma pneumonia infecciosa, e mais duas moças de treze a catorze anos.

Referindo-se à outra, disse que a inumara de novo, sem dar pasto à sua hediondez, por ter o cadáver uma ferida na perna.

Na pocilga em que residia, as autoridades descobriram uma cabeça de menina, envolta nuns fragmentos de mortalha.

Trouxe-a do cemitério para beijá-la mais e mais vezes — respondeu Ardisson, quando o comissário dirigiu-lhe a palavra a esse respeito.

Existem provas de que o miserável cometeu o primeiro crime em 20 de fevereiro último e o terceiro em 12 de setembro, e todos de uma hora às duas da manhã, à borda das próprias sepulturas.

A indignação dos habitantes de Muy poderá ser avaliada e para impedir o linchamento do abjeto sacrílego a polícia o enclausurou na cadeia de Draguignan.

Procurei as mortas porque as vivas não queriam saber de mim… As pobres mortas não me enjeitaram — declarou o vampiro num dos trechos de seu interrogatório.

Afirma o Dr, Garnier, médico em chefe da prefeitura de Paris, que se trata de um caso patológico da categoria das impulsões necrofílicas, uma perversão sexual de que a ciência registra alguns espécimes, um curioso sadifetichismo.

O Dr. Garnier considera um dos pródromos da moléstia a alegria que alguns degenerados experimentam assistindo a um enterro ou não poupando meios para acompanhá-lo, quer conheça ou não o morto, quer seja ou não obrigado a cumprir o mais cruel de todos os deveres da amizade.

Na opinião do Dr. Garnier e do Dr. Voisin, médico em chefe da Salpetriére, Ardisson é um monstro irresponsável1.


Fonte: “Pacotilha”/MA, edição de 5 de novembro de 1901

Ilustração: Pietro Pajetta (1845 – 1922).


Nota:

1Ou seja, isento de responsabilidade criminal.

 

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