UM VAMPIRO NA ESPANHA - Narrativa Verídica de Horror - Autores desconhecidos do início do século XX
UM VAMPIRO NA ESPANHA
Autores desconhecidos do início do século XX
Primeira Narrativa
Fonte: Fonte: “Arealense”/RJ, edição de 15 de setembro de 1910.
Os telegramas recebidos de Almeria contam, com pormenores, um crime hediondo de vampirismo, que se desenrolou na aldeia de Gádor.
Esta aldeia, que tem uns oitocentos habitantes, fica entre Linares e Almeria. Perto de Gádor encontra-se Rioja, lugarejo com uma população de quatrocentos habitantes, onde, em uma gruta, viviam miseravelmente os esposos González e o seu filho Bernardo, encantadora criança de sete anos de idade.
Em Godor morava Francisco Leona, de setenta anos, viúvo, pessoa de tristes antecedentes, e que vivia com seus filhos e netos.
Nas duas quintas próximas, residiam duas famílias: na primeira, a de Pedro Hernández; na outra, a de Francisco Ortega.
Este último, tuberculoso em terceiro grau, consultou Leona, que gozava de uma grande íntima de curandeiro.
— O remédio é simples — respondeu este. — Beba o sangue quente de uma criança, esfregue o peito com a gordura dela tirada e ficarás curado.
Paga a consulta, Leona e o seu vizinho Julio Hernández muniram-se de um saco e seguiram pelos caminhos, à procura de uma vítima, para fornecerem ao velho o remédio aconselhado a troco de uma quantia importante. Encontraram o pobre pequeno Bernardo González, que estava tomando banho perto de Rioja, com alguns companheiros de folguedos.
Convidaram-no a vir colher frutos e deram dinheiro aos outros para irem para casa. A criança aceitou o convite e, durante o trajeto, meteram-no em um saco, cloroformizando-o.
O que se passou chega a parecer um daqueles contos fantásticos que se arquitetam para aterrar as crianças mais rebeldes.
Chegam à casa, onde eram esperados pelo tuberculoso Francisco Ortega, que, com o coração mais cruel que o de um tigre, segurava com uma das mãos uma saladeira de porcelana. Passou-se depois a cena mais monstruosa que a pena vacila em descrever.
Munido de uma enorme navalha, Leona faz à desgraçada criança um golpe profundo, cortando-lhe algumas artérias, enquanto Ortega aparava o sangue da vítima, para o beber imediatamente, como o elixir precioso que ia salvar-lhe a vida.
Depois de concluída esta tremendíssima infâmia, os miseráveis dissentiram perante o corpo do inanimado do infeliz Bernardo, que deviam fazer ao seu cadáver.
Mas, antes de se tomar uma decisão, o feroz Leona abriu o corpo da criança com o fim de extrair as substâncias com que devia esfregar o peito do velho, e Ortega colocou, então, no peito um emplasto feito das carnes sanguinolentas da pobre vítima.
Com o fim de desfigurarem a criança, os malvados ainda tiveram a ideia, mais do que felina, de esmigalharem a cabeça do pequenito com uma enorme pedra, para assim não ser facilmente reconhecido, se, por ventura, fosse encontrado numa fossa onde o enterraram.
Os miseráveis assassinos foram presos. Confessaram o crime com todos os pormenores que ficam descritos1. Leona, o curandeiro, recebeu por tão estranha consulta, três mil pesetas.
E ainda há quem duvide que entre os homens se encontrem animais mais ferozes do que no interior dos sertões africanos!
Segunda
Narrativa
Fonte: “A Imprensa”/RJ, edição de 13 de setembro de 1910.
Na aldeia de Rioja, província de Almeria (Espanha), acaba de descobrir-se um crime deveras repugnante.
Um lavrador rico, de nome Francisco Ortega, conhecido pela alcunha de “Moruno”, sofria de tuberculose. Tendo sido abandonado pelos médicos, consultou um charlatão, o qual, abrindo uns velhos cartapácios e, depois de os consultar ou fingir que os consultava, declarou a Moruno que o único meio de se salvar era beber o sangue de uma criança e aplicar, em seguida, sobre o peito todas as gorduras que à mesma fossem extraídas do ventre.
Moruno resolveu-se a seguir a indicação dada pelo charlatão aludido e este ofereceu-se, mediante 750 pesetas, a arranjar-lhe a criança precisa para o sacrifício.
Aceite o contrato, o charlatão, que se chama Francisco Leona, entendeu-se com uma mendiga de nome Agustina, com o homem desta e dois seus filhos para, todos juntos, irem à caça de uma criança.
Descobriram os miseráveis um rapazito de sete anos, de nome Bernardo González, e fazendo-lhe festas, adormeceram-no por meio de um narcótico, que lhe propinaram, em seguida ao que o meteram num saco, levando-o para Moruno.
Quando tiraram o pequenito de dentro do saco, aquele voltou a si e começou a chorar, pedindo que o não fizessem mal; mas os carrascos não se comoveram com os seus choros e trataram de o despir; após o que, enquanto os outros o seguravam pelos braços e pelas pernas, Francisco Leona enterrou-lhe uma faca no coração, dando-lhe logo a morte.
E então Moruno aparou uma grande tigela de sangue, que do golpe entrara de correr aos borbotões, e quando aquela quase transbordava, levou-a à boca e bebeu sofregamente até a última gota.
O charlatão abriu depois o cadáver, extraiu-lhe as gorduras e aplicou-a, à laia de emplastro, sobre o peito de Moruno.
O desaparecimento da criança levou sua família a queixar-se à polícia, até que, há dias, umas palavras, imprudentemente proferidas por um dos filhos da mendiga Agustina, fez com que tudo se descobrisse e a odiosa malta, assim como Moruno, fossem metidos na cadeia, onde esperam agora a sorte que a justiça lhes prescrever.
A população de Rioja vai erguer, por subscrição, um mausoléu ao pequeno González.
Ilustração: PS-Copilot.
Nota:
1Francisco Leona não chegou a ser julgado, porquanto morreu na cadeia, em 28 de março de 1911, aos 75 anos. Francisco Ortega e Augustina Rodríguez foram executados, no garrote, em 9 de setembro de 1913. Julio Hernádez, condenado à morte, teve a pena comutada para prisão perpétua, tendo em vista pareceres médicos que indicavam a idiotia do réu.
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