A LENDA DA CAVIDADE DE SOLSE - Conto Clássico Lendário Sobrenatural - Gust van de Wall Perné
A LENDA DA CAVIDADE DE SOLSE
Gust van de Wall Perné
(1877 – 1911)
No meio de Veluwe — na floresta entre Garderen e Drie — situa-se a “Cavidade de Salse”, uma grande depressão entre colinas.
Havia, outrora, um poderoso mosteiro, guarnecido de várias torres e circundado por um fosso. Uma estrada larga e imponente conduzia ao seu portão.
Mas era um mosteiro maligno, pois o seu abade e os demais monges haviam vendido as suas almas ao diabo. Leva-se ali uma vida de excessos e luxo.
À noite, em seu interior, celebrava-se a missa negra, da qual participavam todas as bruxas e fantasmas da região.
Lá, as pessoas bebiam copiosamente o vinho e as suntuosas refeições eram servidas durante toda a noite. O diabo certificava-se de que o suprimento nunca acabasse e ele mesmo preparava o vinho. Dançava-se, cantava-se e praguejava-se até a alvorada. Muitos ouviam os ruídos estranhos e aterrorizantes que, à noite, vibravam no interior do mosteiro, e todos sabiam que as janelas de todos os salões ficavam iluminadas pelo fogo do Inferno durante toda a noite.
Isso durou até uma tempestuosa noite de Natal, séculos atrás. Temerosos, os aldeões permaneceram em casa durante a tempestade e, de repente, ouviram um forte trovão no meio da noite. Na manhã seguinte, um garoto entrou correndo na aldeia e disse que o mosteiro na floresta havia desaparecido completamente e, além disso, que um poço profundo e havia se formado, assustadoramente, naquele lugar. As árvores ao redor haviam sido arrancadas do chão. Todos os moradores queriam ver aquele milagre. Naquele espaço, havia apenas a rua de pedras que dava espaço à larga e imponente avenida. Era tudo o que restara do mosteiro. A terra abrira-se e fechou novamente.
Desde então, um som estranho vinha das profundezas da cavidade de Solse à meia-noite. Submersos, os sinos do mosteiro punham-se a tocar, de modo errático e cavernoso, como se estivessem rachados; suaves no início, mas cada vez mais volumosos e angustiantes. Então, da escuridão da larga avenida, surgem os espectros dos monges. Enquanto emitem queixumes, caminham em uma longa e sombria fila. Seguem devagar e curvados e tecem voltas ao redor do buraco, de onde se espraia um brilho azul. Então inquietamente se afastam, para novamente emergirem, enfileirados, das sombras da avenida, e lentamente avançam. Isto continua até o dia clarear, quando, de repente, eles fogem, choramingando, para a mais profunda escuridão do poço sombrio.
Assim que o Sol brilha, é como se nada tivesse acontecido. Tudo fica calmo e quase se poderia duvidar que, momentos antes, as sombras desapareceram na água no meio do poço da depressão de Solse.
Versão em português de Paulo Soriano.
Ilustração: Gust van de Wall Perné.
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