AVISO ESPECTRAL - Narrativa Verídica Sobrenatural - Eugenia Wickham

AVISO ESPECTRAL

Eugenia Wickham

(Séc. XIX)



M. B., filho de certa amiga minha e oficial nos highlanders, fora gravemente ferido num joelho na batalha de Tel-el-Kebir.

Sua mãe, quando o navio-hospital Le Carthage o conduziu a Malta, pediu-me que eu fosse a bordo para vê-lo e que tomasse as providências necessárias ao seu retorno à terra. Mal cheguei a bordo, disseram-me que M. B. era um dos oficiais mais gravemente feridos. Assim, considerando-se perigosa a sua condução ao hospital militar, ele e ainda um outro oficial ficariam no próprio navio. Após muitas instâncias, o que se pôde obter foi que eu e sua mãe o visitássemos e tratássemos dele. O pobre rapaz estava tão mal que os médicos julgavam que a amputação da perna — coisa única que o poderia salvar se fosse levada a efeito com êxito — era uma operação que lhe produziria a morte. A perna se lhe gangrenava, mas certas partes se iam eliminando e, como se passassem longos dias em que ele ora se apresentava pior, ora melhor, os médicos começaram a pensar que talvez M. B. se levantasse, embora ficasse coxo para toda a vida e viesse por fim a morrer de consunção.

Na noite de 4 de janeiro de 1886, não havendo nenhuma mudança brusca no seu estado, sua mãe me mandou dormir à casa, para que repousasse, pois que as contínuas vigílias me haviam enfraquecido muito e, além disso, eu já de mim tinha também pouca saúde. M. B. achava-se desde algumas horas em uma especie de letargia e o médico dissera que, sob a influência da morfina, ele dormiria até de manhã. Em vista disso, consenti em ir, com o projeto de voltar bem cedo, para que ele me encontrasse a seu lado ao despertar.

Pelas três horas da manhã, meu filho mais velho, que dormia em meu quarto, me chamou gritando:

Mamãe! Mamãe! Olha M. B.!

Eu me levantei precipitadamente: era verdade. A forma de M. B. flutuava no quarto, uns 15 centímetros acima do assoalho. Estava em toalete noturna. Mas — coisa estranha! — o pé enfermo, cujos dedos estavam atacados pela gangrena, achava-se, na aparição, exatamente como o outro pé. Nós o vimos ao mesmo tempo, eu e meu filho.

Meia hora depois, vieram dizer-me que ele morrera às três horas. Corri para sua mãe, que me contou as circunstancias do instante final. Nesse instante, ele, numa semiconsciência, julgava sentir a minha mão na sua e a apertou com força, enquanto apertava igualmente a da ordenança, que ficara a seu lado até o último momento. Eu não me perdoei ainda o ter ido dormir em minha casa naquela noite.


Fonte: “As Aparições”, artigo de Camille Flammarion publicado em Leitura para Todos/RJ, nº 01, dezembro de 1905.

Fizeram-se breves adaptações textuais.

 

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