O HOMEM QUE VIVEU COM UM CADÁVER - Narrativa Verídica de Horror - Autor anônimo do séc. XX

O HOMEM QUE VIVEU COM UM CADÁVER

Autor anônimo do séc. XX

Tradução de autor desconhecido do séc. XX


Esta é talvez a história de amor mais emocionante de todos os tempos. Na verdade, nenhum escritor, desde Shakespeare, até os nossos dias, escreveu qualquer coisa que se lhe compare. É realmente qualquer coisa mais do que uma simples história de amor.

É uma história de um cientista, de firme determinação, de vida, de morte… enfim, de um amor que desafiou o túmulo.

E tudo é verdade. A prova está nos arquivos da polícia norte-americana. O caso começou quando um roentgenologista (especialista em raios-X) de setenta anos, Dr. Karl von Cosel1, atendeu a uma cliente no hospital de Key Kest, na Florida. Era uma encantadora jovem espanhola2, chamada Elena Milagro Hoyos Mesa3.

A jovem enferma para ali fora levada a fim de lhe serem aplicados raios-X, pois estava tuberculosa, mal que fatalmente a levaria ao túmulo. O Dr. Karl von Cosei não se ocupara muito das mulheres até ver Elena. Antes da sua vinda ao hospital, o trabalho constituíra sua vida. Agora, tudo se transformou. Apaixonou-se profunda e loucamente pela sua jovem cliente. Sua beleza não só o atormentava como o assustava e, embora os outros médicos não alimentassem muita esperança na cura de Elena, devotou quase todo o seu tempo ao trabalho de curá-la. Sentia que ela era bela demais para morrer... e ele a amava tanto.

Como Elena, de dia para dia, se tornasse muito pálida e magra, prendeu-se mais à afeição do velho médico. E fê-lo prometer que cuidaria dela até o fim. Até fechar os olhos definitivamente, Elena acreditou que não morreria.

Torturado pelo amor da sua amada e também pela promessa que lhe fizera, o Dr. Karl von Cosel deu o primeiro passo para aquilo que viria constituir, mais tarde, o fato mais sensacional dos tempos. Secretamente, roubou o cadáver de Elena algum tempo depois do enterro e levou-o para o seu laboratório. Lá, iniciou a operação de consertar o corpo da que fora a bela Elena.

Aquilo foi o primeiro ato para uma experiência científica incomum. Com esta atitude, não só conservaria Elena consigo, como tentaria restituir-lhe a vida.

Noite após noite, trabalhou ininterruptamente, misturando com enorme carinho as poções que iriam avivar os tecidos de compostos. Encheu o corpo com material absorvente, embebido no líquido que supunha daria vida às células mortas. Os tecidos exteriores, cobriu-os com uma camada protetora de cera de abelha. Estava convencido que o segredo da existência jaz nas células sem vida e que certamente encontraria a chave do segredo. Quando o momento surgisse, ele reviveria o corpo, com o auxílio do poderoso aparelho de raios-X.

Viva ou morta, contudo, o doutor sentia que “estava cuidando dela como lhe tinha prometido”. Vestiu-a com as cores que gostava, pôs nos seus cabelos uma flor e no dedo um anel de noivado. Isto durou sete anos até que chegou aos ouvidos da família Hoyos.

O Dr. Karl von Cosel foi chamado ao tribunal, onde uma comissão de psicopatologistas examinou-o, finalizando por considerá-lo perfeitamente são. Todavia, foi intimado a devolver o cadáver para ser novamente enterrado.

Seu amor e esperança, porém, continuam. Ele espera o dia em que terá recursos para reabrir o caso e entrar novamente de posse da sua amada Elena e continuar sua experiência científica para ressuscitá-la. Na luta de conseguir esses recursos, permitia que visitantes vissem o seu recanto ao preço de 25 centavos. Uma outra Elena em cera ocupa presentemente o lugar da verdadeira.

Como terminará esta história emocionante? Pode um morto voltar à vida? Mas qualquer que seja a opinião do leitor, o doutor não perde a esperança e a fé de que um dia possa reviver Elena Hoyos, que foi o seu único e extremoso amor.

(Do Thrill.)


Fonte: Síntese/RJ, edição de setembro de 1945.


Notas:

1Ou Carl von Cosel, pseudônimo do radiologista teuto-americano Carl Tanzer (1877 – 1952).

2Na verdade, de origem cubana.

3Seu nome de solteira era Maria Elena Milagro de Hoyos (1909 – 1940). O sobrenome Mesa vem de seu marido Carlos, de quem era separada.

 

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