A CADEIRA DO DIABO - Narrativa Clássica Fantástica - Autor anônimo do séc. XIX

A CADEIRA DO DIABO

Autor anônimo do séc. XIX

Tradução de Augusto Frederico Collin

(1823 – 1897)



A cadeira de Aron está situada à orla da estrada de Mayenna a Jublains, a dois quilômetros, pouco mais ou menos, dessa aldeia.

A cadeira do diabo é formada par um montão de granito, que se levanta naturalmente acima do solo cerca de um metro. Tem cinco metros de circunferência acima de uma borda arredondada que forma uma espécie de pedestais ou base quase redonda, à exceção da parte do nordeste, e é um pouco inclinada de norte a sul.

Em cima desta pedra está cavado circularmente o pretendido assento. Seu diâmetro é de 50 centímetros e sua profundidade de 10 a 12.

De dois lados, julga-se notar duas escavações, dizem que formadas pelo Diabo, quando descansou seus nervosos membros sobre a cadeira.

No fundo do assento vê-se, segundo se depreende de certos escritos, duas garras de cinco dedos. Existe, também, no fundo do tanque, uma pequena escavação assemelhando-se a uma estrela irregular; porém, é necessário ser um próprio feiticeiro para nisto reconhecer a obra de Satanás.

Da tradição consta que Satanás estivera sentado neste lugar em um dia, que fugia envergonhado, e ao mesmo tempo furioso, de uma peça que lhe pregaram os habitantes de Aron.

Eis em que ocasião.

A estrada de Mayenna a Jubalais atravessa uma lagoa; sobre essa lagoa está lançada uma ponte. Os trabalhadores empregados em calçá-la viam, com desesperação, que as águas destruíam, todas as noites, o trabalho do dia antecedente. Iam já abandonar semelhante empresa quando o Diabo se lhes apresentou em pessoa.

Estava nesse dia de bom humor. Ofereceu seus serviços aos obreiros, com uma única condição, que vinha a ser que o primeiro indivíduo que passasse pela calçada quando estivesse concluída, pertencer-lhe-ia em corpo e alma. Era isto pouca coisa na verdade, e os obreiros não duvidaram em anuir.

Ajudado pelo Diabo e por sua mulher, que conduzia as pedras em seu avental, por cada vez vinte carros, concluíram seus trabalhos com uma presteza e facilidade maravilhosas.

Foi então que pensaram maduramente na promessa que tinham feito ao Diabo. Entregar um homem seria perdê-lo e perderem-se a si mesmos. Depois de se haver por muito tempo deliberado, um deles apresentou um parecer que se poderia julgar inspirado pelo Diabo, se acaso o próprio Diabo não tivesse de ser a vítima: o parecer foi adotado.

Um gato foi posto em uma das extremidades da calçada e, com algumas lambadas, obrigado a fugir para o outro lado. Grande foi a surpresa e a coleta do diabo! Prometeram-lhe o primeiro indivíduo e não o primeiro homem: era, pois, forçoso que se contentasse com um miserável gato. Levou-o, pois, consigo, estimando mais, sem dúvida, ter de atormentar um gato do que não fazer coisa alguma.

Foi na ocasião da retirada da ponte de Aron que veio se sentar na famosa pedra, onde deixou impressa uma parte de seu corpo.

Contam a mesma história em muitos lugares, especialmente em Auzeme, departamento da Creuze.

A cadeira do Diabo de Hambers era muito mais curiosa que a de Aron. Notava-se aí uma depressão semelhante a que produziria um homem nu assentando-se sobre um montão de barro. Em torno dela estava espalhada uma dúzia de pedras apresentando cavidades redondas em forma de pratos.

Eram neles certamente que se depunham as ofertas. Este curioso monumento foi destruído em 1815 por um pedreiro que empregou as pedras na construção dos umbrais das portas e janelas de uma casa na vila de Hambers.

Dizem que existem ainda outras cadeiras do Diabo nas circunvizinhanças.



 

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